Os conflitos politico-econômicos ocorridos no exterior, ao decorrer do tempo, têm favorecido um intenso fluxo de povos originários para o Brasil, proporcionando uma mudança na dinâmica estrutural da sociedade que não possui ferramentas para inserir esses indivíduos no convívio coletivo. Dentre esses povos estão os Warao, considerados a segunda etnia mais populosa da Venezuela. O objetivo deste relato consiste em apresentar como essa população vive e se mantém diante de um território que é constituído por uma cultura diferente da que fora vivenciada durante anos no seu país de origem. Este estudo trata-se de um relato de experiência estruturado na prática de Atenção Integral à Saúde (AIS) vivenciada por discentes do curso de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), em que foram registrados a dinâmica de moradia do povo Warao no bairro de Itaiteua, no distrito do Outeiro no Estado do Pará (PA). O cotidiano dessas pessoas foi experiência da prática de alunos de Medicina da UFPA, no eixo de AIS, em que os estudantes presenciaram moradias de madeiras construídas em um terreno cedido por uma instituição religiosa, a qual adquiriu o espaço com auxílio financeiro de fiéis e moradores da região. Essas casas, em sua maioria, não possuíam divisões em cômodos ou, até mesmo, proteção lateral, sendo expostas ao ambiente e a visão da moradia adjacente, visto que todas as suas ações e costumes pessoais eram efetuados de forma pública. Cada uma delas, possuíam famílias constituídas por, em média, quinze pessoas, o que demonstrou a precariedade da convivência entre os indivíduos no cotidiano, visto que o território ocupado por cada moradia não é proporcional para atender uma demanda familiar dessa magnitude. Diante das atividades dos discentes, foi observado que a produção alimentar dos warao é proveniente de animais do próprio território, como patos, galinhas, porcos, etc. Contudo, a relação do povo com os animais não seguem uma via de higiene adequada, o que favorece a proliferação de dermatites e outras doenças infectocontagiosas. Como evidência disso, foram atendidas inúmeras crianças com quadros severos de gripe, erupções cutâneas, com rubor acentuado e, principalmente, com esquistossomose. Potencializando essas patologias, a falta de atendimento médico é um fator da realidade dessa população, já que o atendimento dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) não consegue alcançar, de maneira efetiva, a totalidade dessas pessoas, pois a maior parcela não possui documentação necessária para identificação e acesso aos serviços públicos de saúde. Ao final da prática, os discentes, divididos em grupo, produziram um infográfico, apresentado em aula, relatando o que foi vivenciado no território. Essa experiência possibilitou cada estudante a presenciar uma realidade antes dita apenas em livros de história, sendo fundamental na formação de profissionais de saúde que estejam preparados para compreender e agir diante desses contextos complexos, buscando sempre soluções inclusivas e eficazes para promover o bem-estar e a saúde integral das populações. Desse modo, priorizando o exercício de uma Medicina humanizada no atendimento às populações vulneráveis, em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS.
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