Preceptoria volante na residência de Medicina de Família e Comunidade de Manaus: um relato de experiência em uma Clínica da Família formadora em APS

  • Author
  • Bruna de Moura Moraes
  • Co-authors
  • Barbara Seffair de Castro de Abreu , Rebeca Brasil da Silva , Anike Ramos Rodrigues , Carla de Oliveira Maia , Thiago Gomes Holanda Neri , Gustavo Militão Souza do Nascimento , Isa Carolina Gomes Felix , Clara Guimarães Mota
  • Abstract
  • Apresentação

     

    A Atenção Primária à Saúde (APS) é reconhecida como o ponto organizador dos sistemas de saúde em diferentes países. O fortalecimento desse sistema depende diretamente da formação de médicos especialistas em cuidados primários, especificamente dos Médicos de Família e Comunidade (MFC).

    Os Programas de Residência Médica têm sido avaliados como o padrão ouro para a formação de especialistas em todo o mundo, tendo como um de seus pilares de ensino-aprendizagem, a troca de saberes  entre  residente-preceptor. 

    No cenário da APS, a preceptoria desempenha papel crucial na formação do residente, visto que grande parte de sua carga horária é realizada dentro das unidades de saúde. No entanto, a expansão dos Programas de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade (PRMMFC) associada a um quantitativo insuficiente de preceptores especializados, fez com que desafios fossem enfrentados na busca por modelos de preceptoria possíveis.

    Diante disso, uma revisão de literatura identificou quatro modelos de preceptoria em MFC: ombro a ombro, preceptor da equipe ao lado, preceptor de unidade (volante) e preceptor de campo.

    O Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade (PRMMFC) de Manaus, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde e a Escola de Saúde Pública, possui três modelos de preceptoria: ombro a ombro, preceptor de unidade (preceptor volante) e preceptor de campo. Atualmente, o programa passa por constantes aprimoramentos e expansão de seus métodos de ensino-aprendizagem e preceptoria.

    Em fevereiro de 2024, o programa realizou o seu último processo seletivo para preceptores, formando um novo quadro composto por dez preceptores com carga horária de 40 horas, divididos em preceptoria de unidade (volante) e preceptoria de campo, e nove preceptores de 8 horas realizando preceptoria ombro a ombro. 

    Esta última ampliação no quadro de preceptores, permitiu ampliar o projeto de preceptores de unidade, visto que anteriormente o programa possuía uma maioria de preceptores de campo, além de possibilitar o aumento no quantitativo de turnos de preceptoria por residente, passando de um turno semanal para dois turnos semanais. 

    O preceptor volante é aquele que está na mesma USF que o seu residente, mas o residente é o médico de referência da equipe, e o preceptor não está vinculado a nenhuma equipe, ficando “deslocado” para a atividade pedagógica dos residentes da unidade.

    Atualmente, o programa possui a Clínica da Família Fábio do Couto Valle como o modelo em formação de Médicos de Família e Comunidade, onde se busca testar projetos que possam ser expandidos para toda a residência. 

    A unidade apresenta quatro equipes de estratégia saúde da família (ESF), sendo três compostas por um residente do primeiro ano e um residente do segundo ano e uma composta por um residente do primeiro ano e uma preceptora.

    No momento, esta unidade de saúde possui três modalidades de preceptoria: preceptor ombro a ombro, preceptor de unidade e preceptor de campo. 

     

    Métodos

     

    Este trabalho trata-se de um relato de experiência a partir da realização da preceptoria volante em uma clínica da família modelo para formação de Médicos de Família e Comunidade.

    A preceptoria foi iniciada em março de 2024, como preceptora de 40 horas responsável por quatro residentes, sendo dois residentes do primeiro ano e dois residentes do segundo ano do programa. 

    Cada residente possui dois turnos semanais com a preceptora, no qual são desenvolvidas diferentes atividades da atenção primária à saúde, como consultas individuais, visitas domiciliares, atividades coletivas, discussões clínicas, procedimentos ambulatoriais, produção científica, organização de atividades em parceria com a eMulti, entre outros. Nos turnos sem preceptoria, a preceptora pode ser acessada na própria unidade fazendo a preceptoria de outro residente ou via contato telefônico.

    Além das atividades com os residentes, a preceptora de unidade também tem papel ativo na gestão da unidade, por meio de reuniões quinzenais com a gestora, articulação de atividades comunitárias com a eMulti, ações de saúde, educação permanente, realização da agenda médica, organização da reunião gerencial mensal, entre outros. 

    Por último, todo preceptor com carga horária de 40 horas tem participação nas aulas teóricas e sessões clínicas semanais do programa de residência, o que inclui orientações antes, durante e após as apresentações, além de reuniões quinzenais com todos os preceptores e a coordenação do programa para educação permanente e aprimoramentos necessários. 

     

    Resultados

     

    Em dois meses como preceptora de unidade, foi possível iniciar projetos antes não iniciados, como turnos de procedimentos ambulatoriais com mais de um residente, discussões clínicas com residentes e internos de medicina, realização de trabalhos científicos para este seminário e outros congressos, desenvolvimento de ações de saúde para a comunidade, reorganização do núcleo de educação permanente, entre outros.

    Além disso, o preceptor volante participa dos processos de trabalho juntamente com a gestão, o que demanda a sua atuação na resolução compartilhada de problemas da unidade e no equilíbrio entre as demandas trazidas pela gestão e as demandas trazidas pelos residentes. Dessa forma, o preceptor volante atua como ponte entre os interesses da gestão e dos residentes, tendo como desafio pactuar planos que permitam o aprimoramento de ambos.

    Em relação ao feedback dos residentes, os residentes do segundo ano relataram que a mudança para dois turnos semanais com a preceptora possibilitou maiores trocas de conhecimentos, bem como a escolha de qual atividade realizar no segundo turno de preceptoria, indo além das consultas individuais e contemplando outras necessidades identificadas por eles.

    Os residentes do primeiro ano relataram que esse formato de preceptoria e quantidade de turnos possibilitou maiores trocas com a preceptora, com os outros residentes e até mesmo com os internos que acompanham os residentes do segundo ano, o que pôde intensificar o processo de ensino-aprendizagem. 

     

    Considerações finais

     

    Notou-se como fortaleza, uma maior integração entre o ensino-serviço-comunidade a partir do aumento de turnos de preceptorias e da presença do preceptor de unidade, que por não realizar o atendimento assistencial, torna-se mais disponível para o aprimoramento dos residentes de Medicina de Família e Comunidade em diferentes pontos da APS.

     

    Em relação às fraquezas, devido a presença constante do preceptor de unidade na clínica da família, o mesmo pode se tornar um recurso em comum para todos os residentes da unidade, com isso, o preceptor pode estar sujeito a uma sobrecarga de trabalho, precisando conciliar a preceptoria dos seus residentes com possíveis demandas de outros residentes, além de ter que desempenhar todas as outras atribuições exigidas pelo programa.

     

    De forma geral, a expansão desse formato de preceptoria apresentou melhorias significativas na formação do residente de Medicina de Família e Comunidade, necessitando apenas de ajustes que virão com o amadurecimento deste projeto em expansão.

  • Keywords
  • Medicina de Família e Comunidade; Preceptoria; Atenção Primária à Saúde; Internato e residência.
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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