INTRODUÇÃO
Para entender o protagonismo feminino, é essencial examinar as questões de gênero, pois a história das mulheres foi moldada por construções sociais patriarcais que as invisibilizaram por muito tempo. No contexto amazônico, essa realidade não é diferente, as mulheres enfrentam exclusão, opressão e discriminação, especialmente devido à divisão sexual do trabalho, onde a elas é determinada principalmente as tarefas domésticas.
A perpetuação dessas práticas conservadoras, aliadas à falta de acesso à educação nas áreas rurais, contribui para a invisibilidade do trabalho feminino e sua subvalorização. Muitas vezes, as atividades das mulheres são consideradas apenas como "ajuda", não sendo reconhecidas como trabalho real, tanto por elas mesmas quanto pelos outros. Historicamente, as mulheres foram associadas a papéis de submissão, enquanto os homens eram vistos como provedores. Os movimentos feministas no Brasil desempenharam um papel fundamental na conquista de direitos como saúde, educação e participação no mercado de trabalho.
A inserção das mulheres no mercado de trabalho, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, foi influenciada por fatores como a Revolução Francesa, o movimento feminista e a descoberta da pílula anticoncepcional. No entanto, mesmo assumindo cargos de liderança, as mulheres enfrentam estigmas associados a características consideradas femininas, como sensibilidade e empatia, em contraste com as características consideradas masculinas, como assertividade e independência.
Esses estigmas refletem em estudos que associam a liderança feminina a valores considerados femininos, como atenção aos detalhes e flexibilidade. No entanto, é importante entender a liderança em um contexto mais amplo, que vai além do ambiente de trabalho e engloba atividades esportivas, religiosas, educacionais e de saúde.
No contexto amazônico, é fundamental analisar os papéis de liderança das mulheres ribeirinhas, que assumem caráter de protagonismo na sociedade local. Este estudo busca compreender a relação entre as mulheres ribeirinhas e seu ambiente, explorando seu protagonismo e sua liderança na comunidade.
MÉTODOS
Este ensaio se propõe a analisar o protagonismo feminino no meio rural amazônico e sua relação com o ambiente. Por meio de uma pesquisa bibliográfica, busca-se discutir como esse protagonismo é retratado na literatura e como as mulheres se relacionam com o ambiente em que vivem. A busca de artigos foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), abrangendo a base de dados da LILACS, Scielo e MEDLINE. Foram selecionados estudos completos disponíveis online nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados entre 2018 e 2022. Entende-se que a busca por reconhecimento e visibilidade do protagonismo feminino é fundamental para garantir os direitos das mulheres e promover a igualdade e justiça social.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao abordar a mulher no contexto amazônico, é fundamental considerar as especificidades desse território, onde biodiversidade e sociodiversidade se entrelaçam. A Amazônia não é homogênea, mas sim caracterizada por uma diversidade cultural, linguística, e práticas sociais que moldam os modos de vida da população local. Os ribeirinhos, parte significativa dessa população, não apenas vivem às margens dos rios, mas têm uma identidade profundamente ligada ao lugar, suas relações sociais e seu modo de vida.
As mulheres ribeirinhas desempenham um papel crucial nesse contexto, especialmente na agricultura familiar, embora muitas vezes sejam invisibilizadas devido aos estereótipos de produção exclusivamente masculina. No entanto, sua participação na construção política da sociedade está se tornando cada vez mais evidente e reconhecida.
O ambiente rural, caracterizado pela produção agrícola e pela divisão sexual do trabalho, perpetua estereótipos que desvalorizam as mulheres como agentes importantes na produção rural. Reconhecer e valorizar essas atividades é crucial, pois em sua maioria as mulheres que são as responsáveis pela manutenção da biodiversidade e pelo sustento das famílias. Movimentos como o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), iniciado na década de 1980, buscaram garantir condições justas e dignas para as mulheres no campo. No entanto, essas organizações ainda refletiam características patriarcais, com a participação das mulheres condicionada à autorização dos maridos ou familiares.
Grupos de mulheres, como associações e movimentos sociais, desempenham um papel importante no empoderamento e desenvolvimento local, proporcionando um espaço para compartilhar experiências e se sentirem valorizadas. O empoderamento feminino, historicamente ligado às lutas feministas, é frequentemente associado ao trabalho. No entanto, seu verdadeiro significado está na conquista da autonomia e autodeterminação das mulheres. É essencial reconhecer que o empoderamento vai além do trabalho, especialmente no contexto rural, onde as mulheres desempenham uma variedade de papéis além da produção agrícola. Em resumo, o protagonismo, liderança e empoderamento feminino estão intrinsecamente ligados ao reconhecimento e valorização das mulheres em todos os aspectos da sociedade, incluindo o meio rural.
O meio rural, em especial na Amazônia, é caracterizado pela interdependência entre seres humanos e natureza. Destaca-se que entender a liderança feminina, tanto no trabalho quanto em outros aspectos da vida, requer uma análise da relação das mulheres com o ambiente em que vivem. A definição de ruralidade é complexa e vai além de aspectos geográficos, incluindo elementos culturais, econômicos e políticos. A conexão das pessoas que vivem no campo com a natureza é fundamental para sua identidade e senso de lugar. Esta conexão se manifesta através do cuidado, conhecimento e interação com o ambiente natural.
No entanto, as mulheres rurais frequentemente são estereotipadas como cuidadoras da natureza devido aos papéis tradicionais de gênero. Este estigma é muitas vezes internalizado pelas próprias mulheres, que se veem como responsáveis pelas tarefas domésticas e de cuidado ambiental. Isso reflete uma história de estereótipos de gênero reforçados pelo patriarcado e pelo capitalismo, levando à submissão e invisibilidade das mulheres. Apesar dos avanços na discussão sobre liderança feminina, é crucial desafiar esses estereótipos e reconhecer as mulheres para além dos papéis tradicionalmente atribuídos a elas. Valorizar suas lutas e protagonismo é essencial para promover uma sociedade mais igualitária e justa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordando a liderança feminina, especialmente no contexto rural, destaca-se que as mulheres desempenham uma variedade de papéis além do trabalho, incluindo relações sociais e familiares. Apesar da escassez de estudos aprofundados sobre essas relações, há uma motivação para compreender melhor o protagonismo feminino em um ambiente patriarcal. Além disso, a conexão das mulheres com a natureza não deve ser reduzida ao estereótipo do cuidado, mas sim vista como parte de suas vivências. Reconhecer que as mulheres têm uma gama diversificada de papéis é essencial para desmitificar associações limitadas entre feminilidade e cuidado. Por fim, ressalta-se a história de luta das mulheres por direitos e igualdade, é processo árduo e lento que ainda não chegou ao fim, apesar das muitas conquistas alcançadas ainda há muitas percas. A invisibilidade e prevalência de raízes patriarcais envoltas no sistema capitalista são fortes exemplos de barreiras a serem superadas.