INTRODUÇÃO
A Osteogênese Imperfeita (OI) é também conhecida como “doença dos ossos de vidro” e trata-se de uma doença genética rara que afeta a biossíntese do colágeno, levando a fragilidade óssea e consequente risco de múltiplas fraturas. Crianças com esta patologia passam por recorrentes internações para correção de fraturas, sendo primordial que elas estejam inseridas no Protocolo Institucional de Prevenção de Quedas, seguindo as bases da Política Nacional de Segurança do Paciente. Nesse contexto, as quedas podem agravar o quadro de saúde da criança, repercutindo no prolongamento da internação. Garantir um ambiente seguro na hospitalização contempla a avaliação do risco de queda e a implementação de medidas para reduzir o seu risco e danos associados, evitando novas fraturas ósseas, complicações cirúrgicas como quebra do gesso e desalinhamento ósseo ou deslocamento de hastes intramedulares.
Os objetivos desse trabalho são: relatar a experiência de enfermeiras na implementação do Protocolo de Queda hospitalar na enfermaria de pediatria ortopédica no ano de 2023 e trazer reflexões da importância da prevenção de quedas no cuidado de enfermagem à criança com osteogênese imperfeita.
METODO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência de enfermeiras do setor de pediatria e residentes de enfermagem de um Instituto de Referência em Ortopedia e Traumatologia. O estudo foi conduzido entre os meses de Janeiro à Dezembro 2023 na unidade de internação pediátrica ortopédica de uma instituição de Saúde Pública Federal de alta complexidade, localizada no município do Rio de Janeiro. Os descritores em Ciências da Saúde (Decs) utilizados na condução do trabalho foram: “Enfermagem pediátrica”; “Segurança do Paciente”; “Criança Hospitalizada”, “Osteogênese Imperfeita”.
DESENVOLVIMENTO
A população pediátrica enfrenta situações de riscos à saúde durante o processo de hospitalização e a queda hospitalar representa um desafio para a segurança da criança internada. A causa da queda é considerada multifatorial, podendo ser associada a procedimentos invasivos, ao ambiente desconhecido, ao estado clínico do paciente, o uso de dispositivos, uso de medicamentos controlados, doenças associadas, dentre outras.
Portanto, implementar um Protocolo de Quedas específico para a população pediátrica se fez necessário dentro do cenário deste estudo, fazendo parte da rotina institucional diária da assistência de enfermagem. Considerando o perfil dos pacientes pediátricos e visando melhorar a qualidade da assistência na instituição, instituiu-se a Escala de queda de Humpty Dumpty (HD) na íntegra, após a autorização prévia das autoras. Criada em 2009, a Escala de HD foi desenvolvida com o objetivo de classificar o risco de queda em crianças e adolescentes, no ambiente hospitalar e ambulatorial. Esta escala avalia sete parâmetros para a pontuação em forma de escores, sendo eles: 1. idade; 2. sexo; 3. diagnóstico do paciente; 4. deficiências cognitivas; 5. fatores ambientais; 6. resposta do paciente à cirurgia, sedação e anestesia e 7. uso de medicamentos. A escala é pontuada com o escore mínimo de 7 e máximo de 22 pontos. Os escores de 7-11 pontos são considerados como baixo risco de queda e alto risco de queda os escores de 12-22 pontos.
Após a autorização das autoras, seguiu-se com o treinamento da equipe de enfermagem sobre o uso da avaliação da escala e sua importância de realizá-la como etapa vital da prevenção da queda.
O Enfermeiro é o responsável pela aplicação da escala de HD no momento da admissão do paciente e a cada 24 horas, tendo em vista que podem ocorrer atualizações no quadro clínico e consequentemente mudança no risco ao qual o paciente está exposto. Esta avaliação é registrada na evolução de enfermagem em prontuário eletrônico e no impresso institucional de passagem de plantão. Cabe ao enfermeiro informar a classificação do risco encontrado para a equipe para que as devidas providências sejam tomadas.
Durante a hospitalização, ao identificar o paciente de baixo risco, são adotadas medidas gerais de prevenção, tais como: orientar quanto ao risco de queda e medidas preventivas para a criança, adolescente e familiares; identificar com pulseira na cor laranja para sinalizar o risco de queda; manter berço e camas travadas, em posição baixa e com grades elevadas; orientar quanto ao uso de calçados antiderrapantes, inclusive de chinelos durante o banho; manter a iluminação adequada no período noturno.
Quando se identifica o alto risco de quedas, são implementados cuidados adicionais, tais como: priorizar a acomodação dos pacientes de alto risco em leitos próximos ao posto de enfermagem e mais próximos do banheiro para facilitar o deslocamento; manter rigorosa vigilância quanto à manutenção das áreas de circulação livres de obstáculos; não deixar a criança sozinha no leito quando o acompanhante se ausentar por algum motivo; orientar para que a troca de acompanhantes seja realizada no quarto; manter as grades do lado oposto elevadas durante a mobilização do paciente; atentar para o uso de medicamentos que podem alterar o estado de consciência e equilíbrio; orientar quanto aos efeitos da sedação e/ou anestesia; não permitir que a criança e o adolescente corram pelas dependências do hospital; manter vigilância da altura máxima da cama em relação à marcação na parede; identificar por placa o risco de queda na cabeceira do leito; manter a cadeira de rodas travada durante as transferências da cama para cadeira; observar se a altura das muletas está adequada ao tamanho da criança; verificar se há desgaste na ponteira da muleta e providenciar a substituição.”
A inclusão da família junto ao projeto terapêutico neste estudo é de extrema importância para que ambos, família e criança, sejam mais participativas e ativas para a promoção do cuidado de maneira holística, trazendo a perspectiva de que a educação em saúde quando centrada na família traz mudanças mais duradouras.
RESULTADOS
Após a implementação da Escala de queda de HD, os cuidados preventivos dentro da enfermaria foram intensificados, contribuindo para a baixa taxa de quedas entre os pacientes hospitalizados. Além disso, observou-se que as atividades profissionais são orientadas pelos procedimentos operacionais padrão apoiados por evidências científicas, o que aprimora a integração das rotinas entre os profissionais envolvidos na avaliação de riscos e no manejo de pacientes pediátricos durante a hospitalização.
Considera-se que abordagem centrada na família é um pilar fundamental para a assistência holística de crianças com doenças crônicas. O reconhecimento das necessidades aliado à escuta ativa, promove uma experiência humanizada e colabora para a participação familiar no planejamento do cuidado à criança, contribuindo positivamente para a promoção do bem-estar e recuperação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que a implementação de medidas de prevenção de quedas é essencial para o cuidado seguro de enfermagem em pediatria. Além do relato de experiência sobre a implementação da Escala de HD, este estudo também reflete sobre a importância dessa prevenção no contexto da internação de crianças com OI. A Escala de HD emerge como uma ferramenta confiável para avaliar o risco de quedas em crianças nesse cenário, subsidiando o planejamento, a implementação e a avaliação de estratégias preventivas. Essas estratégias visam mitigar os riscos de novas fraturas ou complicações cirúrgicas em crianças com OI. As quedas têm implicações significativas no trabalho da enfermagem, podendo resultar em aumento do tempo de internação e afetar as necessidades biopsicossociais dos pacientes. Portanto, a abordagem da OI deve priorizar a segurança do paciente, e a prevenção de quedas é um dos pilares para a qualidade do cuidado e melhora da qualidade de vida dos indivíduos afetados pela doença.