Este estudo analisa os efeitos da crescente plataformização do trabalho no contexto brasileiro e suas reverberações no trabalho na saúde. O avanço tecnológico tem desempenhado um papel crucial na emergência da plataformização do trabalho que consiste na oferta de prestação de serviços por meio de plataformas digitais, como aplicativos móveis ou sites online. No Brasil, essa organização de trabalho está diretamente ligada ao discurso neoliberal do empresariamento de si, que subjetiva os trabalhadores a tal ponto de esses abrirem mão (quase que) voluntariamente de importantes direitos conquistados através de muitas lutas, e a Gig Economy, ou economia dos bicos que se refere ao movimento de oferta de pequenos trabalhos e de forma temporária. Acontece que, no Brasil, os trabalhadores muitas vezes não têm empregos formais e de período integral e procuram por oportunidades flexíveis de trabalho por meio das plataformas digitais que acabam sendo sua principal fonte de renda. Neste contexto, nosso objetivo é compreender como o célere crescimento das plataformas digitais de contratação direta de profissionais da saúde está remoldando significativamente as condições de trabalho nesse campo. O percurso teórico-metodológico está assentado na perspectiva pós-crítica do conhecimento e apoiado nos escritos de Michel Foucault e demais autores que seguem na esteira do seu pensamento como Dardot e Laval, Wendy Brown, Jonathan Crary e Franco Berardi. Trata-se de uma pesquisa quantitativa de cunho exploratório que toma como material empírico as plataformas de contratação Mycareforce, Wandasaude e Plenitude Medical articulados a artefatos culturais como reportagens, legislações e produções científicas em torno do tema. Como resultado, observamos uma fragmentação das relações de trabalho com significativas perdas dos direitos trabalhistas e proteção social. Aumento relevante no número de trabalhadores informais e precarizados que dependem das plataformas digitais para obter renda. Intensificação das jornadas de trabalho com profissionais atuando em uma lógica intermitente (24 horas por dia, sete dias por semana). Má remuneração que impele o trabalhador a fazer multijornadas ou ter multiempregos.Por fim, as intermediações de trabalho realizadas por plataformas digitais ocorrem com a máxima precarização e exploração do trabalho. É urgente políticas públicas que regulamentem as plataformas e suas atuações, a fim de garantir proteção social e trabalhista adequada aos trabalhadores. Ainda, é preciso diálogo entre os diferentes atores envolvidos para encontrar soluções sustentáveis que conciliem as inovações tecnológicas com os direitos trabalhistas, uma vez que o aprofundamento da precarização do trabalho a partir da expansão tecnológica com o crescimento das plataformas digitais de contratação de trabalhadores parecem estar constituindo novos dilemas para velhos problemas estruturais no âmbito do trabalho no Brasil.