Mudança de cenário de prática no contexto de uma Residência em Medicina de Família e Comunidade

  • Author
  • Gustavo Militão Souza do Nascimento
  • Co-authors
  • Barbara Seffair de Castro de Abreu , Anike Ramos Rodrigues , Carla de Oliveira Maia , Clara Guimarães Mota , Isa Carolina Gomes Felix , Isabela do Nascimento Gomes , Rebeca Brasil da Silva , Thiago Gomes Holanda Neri
  • Abstract
  • Apresentação: Relatar a experiência das mudanças enfrentadas com a troca de cenário de atuação 

     

    Desenvolvimento: 

    Durante o primeiro ano do Programa de Residência Medicina de Família e Comunidade (PRMFC), promovido pela Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (SEMSA), e supervisionado pela Escola de Saúde Pública (ESAP), estive alocado em uma Unidade de Saúde da Família (USF), localizada no Distrito de Saúde Norte. Após 12 meses, tendo sido integrado a duas equipes de Saúde da Família (eSF) diferentes, foi determinada a minha transferência para outro estabelecimento de saúde, uma Clínica da Família, localizada no Distrito de Saúde Leste.

     

    Não é incomum a situação de remanejamento de profissionais para locais de atuação diferentes. São novos colegas para relacionar-se, uma nova dinâmica de trabalho, um público-alvo com características diferentes, uma gestão com maneiras diferentes de operar, além de muitos outros aspectos. Apesar de ser mais corriqueiro o desempenho das atividades em um mesmo local, durante os dois anos do programa de residência, essa mudança pode ser encarada como uma oportunidade para aperfeiçoamento.

     

    Ao primeiro contato com a Clínica da Família, as primeiras mudanças já eram visíveis. Esta nova unidade é menor em comparação a anterior, porém, bem localizada e de fácil acesso. Em relação ao porte da unidade, saímos de uma unidade porte VIII (oito) para o cenário de uma unidade porte IV (quatro), assim, passamos para um contexto de menor quantidade de recursos humanos. A unidade prévia contava com 8 eSF, 4 Equipes de Atenção Primária (EAP), especialistas em Pediatria e Ginecologia e Obstetrícia, além de outras equipes remanejadas de unidades que estavam em processo de reforma, ao passo que a atual conta com apenas 4 eSF. Mas não só isso, o novo serviço atua como unidade-escola, com a inserção de outros residentes e preceptores do programa em todas as equipes. 

     

    Além da parte estrutural, à primeira vista, era perceptível o nível de desenvolvimento socioeconômico da área, com ausência de rede adequada de saneamento básico e fornecimento de água encanada assim como descarte inadequado de lixo, além dos relatos de conflitos de facções criminosas envolvidas no tráfico de entorpecentes. Apesar disso, a mesma área conta com algumas escolas de ensino público e privado, igrejas, áreas de socialização como quadras e campos de futebol, além de diversos estabelecimentos comerciais. É um panorama muito semelhante ao encontrado no local de atuação anterior. 

     

    Um ponto importante a ser mencionado é quanto a presença de profissionais do programa Mais Médicos, criado pelo Governo Federal. A unidade anterior contava com diversos médicos inseridos em várias equipes, ao passo que a atual, por ter foco em ensino e estar ligada a um programa de residência, não possui profissionais daquele programa.

     

    Uma modificação profunda realizada foi quanto aos atendimentos à população, principalmente no que diz respeito ao estilo de abordagem. Um dos princípios da Medicina de Família e Comunidade versa sobre como as características da população abrangida influenciam no desempenho do médico. Então é necessário adaptar o estilo de consulta assim como realizar um processo de territorialização adequado, ter ideia dos diagnósticos situacionais da comunidade. Uma ferramenta muito auxiliar nesse processo é o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), especialmente seu segundo componente, que trata do entendimento da pessoa que busca atendimento em toda a sua plenitude.

     

    Um aspecto relevante a salientar é quanto ao agendamento da população adscrita para sua respectiva eSF. A antiga unidade não fazia diferenciação entre as áreas, de tal forma que todos os profissionais atendiam pessoas de todas as áreas. No novo cenário, observa-se um maior respeito a esse ponto, garantido longitudinalidade e, dessa forma, uma melhor qualidade da atenção.

     

    A nível de acesso, há semelhanças entre os modelos de agendamento das unidades, do tipo Carve Out ou modelo de agendamento aberto de primeira geração. Um modelo que possui agendamento de demandas programadas mas também oferta alguns atendimentos a demanda espontânea. A assimetria, contudo, se destaca na presença de equipes destinadas ao atendimento exclusivo de casos de demandas espontâneas. Diariamente, são definidos médicos e enfermeiros diferentes para esse papel, variando inclusive nos turnos do dia.  Dessa forma, é possível garantir um maior acesso de pessoas com problemas agudos, indo na contramão da priorização de apenas demandas programadas ou de populações-alvo de programas de saúde já definidos, como acompanhamento de pacientes com Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial.

     

    Em relação à abordagem comunitária, há uma progressão para um número mais amplo de tipos de grupos. Percebe-se a existência de grupos de atividades físicas, de envelhecimento saudável, gestantes, horta comunitária, tabagistas e relaxamento. E ainda há o planejamento para a implantação de grupo para abordagem a obesidade. Todos os grupos contam com um ponto de referência das equipes de saúde da família (médico ou enfermeiro) e da equipe multidisciplinar - profissionais em Psicologia, Nutrição, Educação Física, Fisioterapia e Assistência Social. 

     

    Dessa forma, constata-se a presença de diversos profissionais responsáveis por prover um cuidado mais integral ao usuário, assim como permitir a coordenação do cuidado e o cuidado compartilhado, atributos nucleares da Atenção Primária em Saúde. Um outro exemplo existente da coordenação do cuidado são as reuniões de matriciamento entre as eSF e a equipe multiprofissional, as quais permitem a definição de um plano terapêutico singular para pacientes selecionados.

     

    A nova unidade possui um diferencial em relação às outras de toda a cidade. São ofertados diferentes procedimentos cirúrgicos de baixa complexidade que podem ser realizados a nível ambulatorial. Este recurso é tão apreciado ao ponto de atrair pessoas de áreas de vinculação de outras unidades de saúde, algumas vezes até de um distrito de saúde diferente.

     

    Por último, vale destacar a existência de reunião gerencial mensal com todos os integrantes da unidade de saúde. Nesse momento, é debatido pontos a serem melhorados no processo de trabalho, como padronização de fluxos de atendimento, relação harmônica com os usuários e o correto seguimento de normas que regem a operacionalidade do posto de saúde. Além disso, tem-se a oportunidade de implementar educação permanente, através da existência de um Núcleo de Educação Permanente, formado por diferentes profissionais.

     

    Resultados:

    Apesar das mudanças encaradas, o desenvolvimento das atividades do PRMFC foram favorecidas com essa troca de cenário. O fato de estar inserido em uma unidade-escola e contar com a presença de preceptores facilita a aquisição das competências necessárias à formação de um médico de família e comunidade. No entanto, os maiores beneficiados são os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que podem desfrutar de recursos voltados para seu cuidado integral.

     

    Considerações Finais:

     

    Nota-se que não são poucas as mudanças existentes com a troca de cenários. No entanto, é necessário adaptar-se para o provimento de um melhor desempenho assistencial. Apesar dos desafios, a satisfação por oferecer auxílio a quem mais precisa e perceber os impactos na realidade dessa população é imensurável.

     

  • Keywords
  • Residência Médica, Atenção Primária em Saúde, Medicina de Família e Comunidade
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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