A atividade física, além de mitigar os danos que acometem os corpos, é representada pela prevenção e promoção à saúde. Assim, em uma sociedade, com excesso de uso de recursos tecnológicos e latência do capacitismo, torna-se fundamental que crianças com deficiência tenham possibilidade de praticar elementos da cultura corporal do movimento como forma de acesso à saúde. Logo, este relato objetiva compartilhar a experiência do uso da cultura corporal do movimento para a saúde e formação psicossocial de uma criança autista, por meio da sua inserção em atividades físicas envoltas nessa cultura. Esse relato parte de um professor de educação física, de 37 anos de idade, com 13 anos de experiência docente, atuante em uma escola privada localizada no interior de São Paulo. O estudante é um menino, hoje com doze anos, diagnosticado com transtorno de espectro autista (T.E.A.), que inicialmente apresentava grandes dificuldades em participar de atividades coletivas e necessidades específicas para efetivar as ações propostas. Elaborou-se um plano de ação, expondo ao estudante um cronograma desenhado sobre as atividades que seriam executadas ao longo da semana e, assim, o estudante se mostrou menos ansioso nas aulas. O perfil competitivo do estudante dificultava as relações humanas, pois tinha pouco controle em lidar com frustrações resultando em episódios de agressividade. Diante disto, foi necessário adotar uma estratégia de inseri-lo em práticas competitivas, com acompanhamento psicológico, explicitando a importância da participação de todos para o sucesso da ação. Assim, no decorrer das aulas e com o desenvolvimento de práticas, dentro da cultura corporal do movimento, e com adaptação de regras em determinadas situações, o estudante mostrou-se mais integrado à turma e com menor dificuldade lidando com frustrações. A participação da criança nos elementos dessa cultura, as estratégias de integração com a turma e o desenvolvimento das capacidades emocionais para lidar com as perdas mostrou-se fundamental para a melhora da qualidade de vida e a promoção da sua saúde, visto a observação de melhorias na coordenação motora grossa e fina, no equilíbrio, na agilidade e no ritmo; além das capacidades físicas, como resistência, velocidade, força muscular e flexibilidade. Concomitantemente, exigiu do professor disposição em estudar sobre o T.E.A. e buscar outros profissionais, qualificando-se para efetivação da inclusão nas aulas. Assim, a integração multiprofissional e interdisciplinar e a boa relação profissional-escola foram importantes para garantir o planejamento e execução adequada ao estudante, tendo, por exemplo, a contratação de uma terapeuta ocupacional. Ao longo de cinco anos, observou-se a progressão do estudante no envolvimento das atividades em quadra, nos relacionamentos e no controle das emoções, além do desenvolvimento físico. Apesar da inclusão escolar das pessoas com deficiência ser uma realidade crescente, questiona-se a forma como ela ocorre e o aparato existente no Brasil. Portanto, reforça-se a urgência de formação acadêmica inicial e continuada, bem como a aproximação das áreas da educação e da saúde para que as crianças com deficiência tenham igualdade de acesso e oportunidades para o desenvolvimento da saúde por meio de atividades lúdicas e representativas da sociedade.