Feminicídio é o crime praticado contra a mulher em razão de violência doméstica ou discriminação à condição do gênero. No Brasil, a partir da Lei 13.104 de 2015 é considerado homicídio qualificado e crime hediondo. Dados do Monitor de Feminicídios no Brasil revelam que, em 2023 foram registrados 1706 feminicídios consumados, sendo 51 no Espírito Santo (ES). No período de janeiro a março de 2024, ocorreram 449 feminicídios no país, sendo 12 no ES. Quando o crime se aproxima, é possível ver a vítima, não apenas o dado epidemiológico. Nesse sentido, o trabalho apresenta um relato de experiência sobre o uso da arte como forma de expressão face a um feminicidio ocorrido no ES. O desenho foi criado a partir da mobilização de sentimentos de tristeza, indignação e luto da artista e autora deste trabalho, como forma de prestar apoio e solidariedade para a família. O crime foi anunciado no dia 16 de janeiro de 2024 nos jornais, repercutindo em âmbito nacional. As notícias relataram que Íris Rocha de Souza, enfermeira de 30 anos, grávida de oito meses de uma criança que se chamaria Rebeca, teve o corpo encontrado em uma estrada próximo à zona rural, coberto por cal e contendo duas perfurações de balas. O principal suspeito, Cleiton Santana dos Santos, ex-namorado e pai de Rebeca, foi preso mas negou ser autor do crime. Difícil não se comover com o caso de Íris, brutalmente assassinada, deixou um filho de oito anos de idade e Rebeca, com oito meses de vida intrauterina não teve nem sequer o direito de nascer. Até o momento não foram divulgadas mais informações. O sentimento de tristeza e indiganção é grande. A vítima era especial para quem a conheceu, incluindo as autoras deste relato, que compartilharam de sua convivência na Universidade como colega de turma e professora. A motivação deste relato parte do desejo de possibilitar visibilidade e cobrar justiça. O desenho criado representa a inocência das vítimas e clama por justiça. Rebeca foi feita ainda no ventre de sua mãe, desenhada com grandes asas angelicais enunciando que: “- onde nós estamos não existe feminicídio”. A arte foi publicada no instagram da autora. As curtidas, comentários e compartilhamentos conotam sentimentos de indignação com a morte delas e por outros casos ocorridos no estado. A cobrança de que Íris e Rebeca não sejam apenas estatísticas, mas que sejam alvo da justiça, também apresenta elementos de esperança e fé, valores espirituais presentes na vida de Íris. Uma cópia do desenho em formato digital foi disponibilizada para a família e divulgada por uma reportagem, sendo evidenciada pela mãe como algo que acalentou seu coração. Este trabalho, além de relatar o crime e expressar os sentimentos das autoras, revela a potência da arte como forma de comunicar sentimentos para que casos assim não sejam esquecidos, que a sociedade exija justiça das autoridades e que crimes hediondos de feminicídio não sejam reduzidos à estatísticas, pois por detrás delas existem pessoas e histórias de vida.
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