No Brasil, segundo o IBGE, existem cerca de 10 milhões de pessoas surdas. O acesso restrito ao direito à saúde e à educação indica o processo de exclusão desse contingente populacional. Esse projeto levanta a hipótese de que se pode enfrentar o capacitismo a partir da criação de ambientes favoráveis ao exercício da cidadania das pessoas com deficiência, intencionando a promoção de debates e disseminação de conhecimento, de modo a pavimentar caminhos para o acesso a uma vida saudável, no espectro do bem-estar físico, mental e social. Portanto, objetiva-se, nesse projeto, a capacitação de pessoas surdas para atuar como multiplicadores dos seus direitos, apoiando-se na dinamização dos seus perfis na rede social Instagram. Elegeu-se a educomunicação como pressuposto teórico, uma vez que possibilita estimular a consciência crítica a partir da apropriação das ferramentas disponibilizadas pelas novas tecnologias.
Desenvolvimento
Financiado pela Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa (FUNCAP) e desenvolvido em parceria com a Universidade de Fortaleza, o trabalho iniciado em dezembro/2023, em Fortaleza, estender-se-á até abril/2025. O público beneficiário constitui-se de 15 estudantes do Instituto dos Surdos do Ceará. No recrutamento identificou-se que a plataforma mais utilizada pelos participantes é o Instagram, predominando a interação com outras pessoas da comunidade surda. Em média, possuem 2 mil seguidores, sendo que o mais engajado tem 14 mil seguidores. Publicam mais intensamente no “feed”, ou página principal, bem como postam fotos e vídeos nos “Stories”. Exploram bem os destaques, espécie de vitrine para atrair pessoas ao perfil. Também publicam Reels (vídeos curtos) em libras, com boa qualidade da imagem e sem legenda, o que denota direcionamento à comunidade surda. Entretanto, observou-se ausência de postagens relacionadas ao direito de acesso à saúde e à educação, o que justifica a relevância deste projeto.
Nesse propósito, optou-se pela metodologia de pesquisa-ação, onde os próprios participantes indicam, em grupo focal, as temáticas que consideram mais importantes conhecer para disseminar em formas de publicação nos seus perfis do Instagram. No segundo momento, rodas de conversa com professores especialistas que tratam das temáticas indicadas sob o enfoque da legislação e das políticas públicas. Na terceira parte, os integrantes participam de oficina com profissionais de comunicação onde serão capacitados para a produção e publicação de conteúdo nas plataformas de mídias sociais e acompanhados durante seis meses. Mesmo com apoio de profissionais de libras durante as atividades, o desafio é transmitir conhecimento de forma simples e ilustrada, tendo em vista a dificuldade que o grupo apresenta com a língua portuguesa.
Resultados esperados
Os participantes serão qualificados para produzir e publicar conteúdos sobre promoção da cidadania, de interesse da comunidade surda. Considerando uma abrangência média de 100 seguidores por cada perfil integrante do projeto, espera-se construir redes de interação envolvendo aproximadamente 1.500 pessoas, entre surdos e pessoas que interagem com a comunidade de surdos.
Considerações finais
Busca-se nesse projeto unir reflexão, aprendizagem e intervenção social, viabilizando condições para fortalecer a consciência crítica do cidadão surdo acerca dos seus direitos e sobre como utilizar as redes sociais para reverberá-los à sociedade.
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