POTENCIALIDADES E DESAFIOS DE UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS DA REDE DE SAÚDE PÚBLICA

  • Author
  • Letícia de Araújo Pinto
  • Co-authors
  • Andressa Juliane Rubim Tunes , Felipe Chaves Ximenes , Vanessa Martins Schmit , Silvia Muller de Moura
  • Abstract
  • De acordo com a Lei orgânica  nº 8.080/1990, a mesma  “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”. Diante do sistema organizacional e regulamentatório do Sistema Único de Saúde (SUS), os serviços de saúde são ofertados a toda a população. Dentre os serviços de saúde disponíveis, estão as práticas desenvolvidas nos laboratórios de análises clínicas que, a partir dos resultados obtidos é possível implementar intervenções em saúde que melhor se adequem ao usuário, além de auxiliar na constatação precisa de diagnósticos. Sabendo da relevância desse serviço, faz-se pertinente que os profissionais e estudantes da área da saúde conheçam o mesmo, a fim de entender seu fluxo de atendimento e procedimentos, com o propósito de melhor atender as demandas da população. Sabe-se também que o estágio desempenha um papel crucial na formação profissional, pois proporciona uma oportunidade valiosa para os estudantes aplicarem a teoria na prática, desenvolverem habilidades específicas da área e entenderem a dinâmica do mercado de trabalho. Dessa maneira, o intuito do trabalho é descrever as experiências vividas por acadêmicos e profissionais da área da saúde em um serviço de atenção especializada, o laboratório de saúde pública.

    Com o objetivo de analisar, compreender e refletir sobre as experiências em relação às práticas vividas por uma equipe de estagiários/acadêmicos dos cursos de biomedicina, enfermagem e farmácia, com atividades desenvolvidas em um laboratório municipal de análises clínicas. O relato de experiência é uma técnica utilizada em pesquisas descritivas, especialmente em áreas como a educação, saúde e ciências sociais. 

    O estabelecimento em questão está  localizado na área central do município de Uruguaiana, na região oeste do Rio Grande do Sul, e atende de forma descentralizada todas as instituições de saúde do município.  Este estudo abrange as atividades realizadas durante o período de março a maio de 2024, com o funcionamento do estabelecimento ocorrendo de segunda a sexta-feira, das 07 às 12 horas na parte da manhã, das 13:30 às 17 horas na parte da tarde.

    O Laboratório de Análises Clínicas (LAC) da Secretaria Municipal de Saúde é um estabelecimento de saúde que recebe e analisa diferentes tipos de materiais. Bem como, esses materiais passam por uma série de fases até a sua finalização, com os resultados. Dentre elas estão a fase pré-analítica, de recebimento, identificação, centrifugação e organização. Destaca-se também que o LAC, somente no mês de março, atendeu 2498 pacientes, realizando 17.004 exames, entre eles 219 testes para suspeita de dengue, 134 para toxoplasmose e 31 para tuberculose. Podendo ser salientado que o LAC é o único local do município de Uruguaiana que realiza o exame de Prova Cutânea da Tuberculina (PPD). 

    Sobretudo, a recepção do serviço de saúde é responsável por três objetivos: agendar e orientar, cadastrar e entregar o laudo do exame. O primeiro é o acolhimento e agendamento de pacientes, onde é passado orientações de acordo com os exames solicitados pelos profissionais da saúde na atenção primária, secundária e terciária do município. No segundo momento o setor inclui e cadastra os pacientes no momento da coleta, seja ela realizada nas dependências do LAC ou nas coletas descentralizadas. Por último, a recepção tem a finalidade da conclusão com a entrega do laudo. As ações da recepção são realizadas e balizadas através de um software de automatização. Sendo as coletas do laboratório e cadastramento de coletas advindas das ESFs, e outras instituições, pela parte da manhã, e o agendamento e retirada de exames pela parte da tarde. 

    Com a finalidade de reduzir a fila de espera para coletas sanguíneas, há de seis a oito Unidades de Saúde por dia que realizam as coletas (de segunda a sexta-feira), com capacidade de trinta coletas por unidade. Bem como, após a análise dos exames, os laudos são emitidos pelo laboratório e entregues às unidades. Com isto, proporcionando resultados mais rápidos para os pacientes, além de descentralizar o serviço e favorecer o fortalecimento do vínculo do usuário com as instituições de saúde da sua própria região.

    No processo de acolhimento, no qual muitas vezes ocorre o primeiro contato com o paciente, são passadas orientações prévias aos exames que serão realizados, horários de funcionamento do estabelecimento e como proceder com possíveis intercorrências. Porém, apesar das orientações transmitidas, por vezes, por mais de um profissional do laboratório, ainda há uma falha no recebimento dessas informações. Visto que, situações referentes aos horários e rotina do local não são prezados, além do não cumprimento da fase de preparação pré-exame, sendo esta última de extrema importância, pois pode alterar os resultados dos exames gerando um diagnóstico errôneo. 

    Ademais, acarretando em prejuízos financeiros ao SUS, por conta de nova coleta e o uso dos materiais e recursos. Além dos prejuízos ao próprio paciente, pois o mesmo precisa se deslocar novamente até o serviço de saúde, como também o atraso no seu prognóstico de saúde. Isto demonstra uma fragilidade na comunicação entre profissional e paciente, que nos leva a refletir sobre a forma na qual essas informações estão sendo transmitidas e de que forma estão sendo recebidas. 

    Para além da comunicação entre profissional e paciente, percebe-se a fragilidade de comunicação e articulação entre os próprios serviços da rede de saúde. Dado que, intercorrências relativas aos procedimentos e encaminhamentos ocorrem de forma rotineira, fazendo com que os usuários desses serviços “pulem” de instituição para instituição de forma desnecessária, e por vezes sem que suas demandas sejam atendidas. 

    Por outro lado, apesar dos empecilhos e problemáticas, o LAC surge como um grande potencializador de saúde, considerando a extensa variedade de exames que o mesmo disponibiliza. Exames estes que são oferecidos de forma gratuita a toda população e, pela rede de saúde privada, são ofertados por valores relativamente altos. Outrossim, podemos considerar também que, o SUS conta com 190 milhões de usuários, sendo que 80% desses usuários dependem exclusivamente deste serviço. Ainda, dentro desse grupo, contamos com um número significativo de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social e que sem este serviço, não conseguiriam ter acesso a este tipo de atendimento. Assim sendo, a instituição representa uma grande conquista da população brasileira, promovendo a prevenção de doenças e monitoramento das condições de saúde ao longo da vida. Assegurando a justiça social e garantindo o direito e acesso à saúde estabelecido por lei.  

    Diante disso, a vivência na rede pública (SUS) é fundamental para o acadêmico desenvolver habilidades práticas e vivenciar novos conhecimentos, sem contar que, além de enriquecer a formação, essa vivência prepara o futuro profissional para situações e demandas de trabalho, além de possibilitar que o aluno se aproxime de maneira prática do verdadeiro significado social da profissão. 

    Sendo esse o momento em que não se coloca apenas com o sentimento de um acadêmico da universidade, mas gera-se o sentimento convertido pela sensação de saber na prática a profissão escolhida.

    Dessa forma, destaca-se a relevância econômica, política e social do laboratório e os impactos, positivos e negativos, advindos desse serviço na saúde da população. O laboratório apresenta-se como um importante componente para a construção e fortalecimento da rede de saúde pública e contribui com avanço do processo de efetivação do SUS. 

  • Keywords
  • Laboratório de Análises Clínicas, SUS, Relato de Experiência, Estágio, Estudantes
  • Subject Area
  • EIXO 3 – Gestão
Back