Apresentação: A violência se apresenta como fenômeno complexo, acerca do qual existem diversas perspectivas sociais e conceituais. Trata-se do uso intencional da força ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. Ocorre que a problemática se manifesta de diferentes formas e em diversos contextos; no rural, a maior prevalência de casos de violência quando comparadas às áreas urbanas evidencia a necessidade imediata de intervenção, já que os efeitos da violência contra pessoas residentes no rural são duradouros e amplos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece distinções sobre as naturezas da viole?ncia a saber física, psicológica, sexual, financeira, negligência/abandono e violência cultural. A negligência, refere-se a uma ause?ncia, recusa ou deserc?a?o de cuidados necessa?rios a algue?m que deveria receber atenc?a?o e cuidados. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi mapear os estudos que abordem a tipos de negligência contra pessoas residentes no cenário rural. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de uma scoping review conduzida de acordo com o método do JBI para a síntese de evidências. Foi realizada uma busca no Open Science Framework (OSF), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), no PROSPERO e no JBI Evidence Synthesis, onde constatou-se a inexistência de revisões de escopo publicadas ou em andamento acerca da temática. Foi em seguida, desenvolvido um protocolo, que apreciado em reunião do JBI-Brasil e registrado no OSF. A questão que orientou essa revisão foi elaborada por meio da estratégia População, Conceito e Contexto (PCC) sendo: P- pessoas em situação de negligência; C- inquéritos de base populacional e C- cenário rural. A partir dessa combinação mnemônica, formulou-se a seguinte questão: Quais são os tipos de negligências presentes nos inquéritos populacionais contra pessoas residentes no contexto rural? Quanto aos critérios de inclusão e exclusão para cada elemento do acrônimo PCC foram assim demarcados: População (P) - estudos envolvendo crianças, adolescentes, adultos e idosos em situação de negligência; Conceito (C) - foram considerados os inquéritos populacionais; Contexto (C) - os estudos que abordassem o contexto rural. Foram excluídos estudos que abordassem dados do contexto urbano e rural concomitantemente. Não houve limite de tempo para as publicações incluídas. As buscas bibliográficas foram realizadas em colaboração com uma bibliotecária com expertise na área da saúde e certificada pelo JBI, que realizou o mapeamento das palavras-chaves e termos padronizados nos vocabulários controlados: DECS, via Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde; MESH, por meio do Pubmed; e Emtree, da base de dados EMBASE (Elsevier). Na primeira etapa, foi realizada uma busca inicial usando combinação de palavras-chave e títulos de assuntos médicos no MEDLINE via PubMed e no Portal Regional da BVS para identificar os termos de busca. Na segunda etapa, identificaram-se termos adicionais nos títulos, resumos e descritores/MESH dos artigos para aplicar nos campos de título, resumo e assunto e formulou-se uma estratégia de busca para aplicar na PubMed, em setembro de 2022. A estratégia de busca final foi adaptada para cada fonte de informação incluída. Na terceira etapa, a lista de referência dos estudos incluídos na revisão foi submetida aos critérios de elegibilidade para seleção de quaisquer outros estudos relevantes. As fontes de dados pesquisados incluíram: MEDLINE/PubMed, Web of Science Core Collection/Clarivate Analytics, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS/BVS), SciVerse Scopus/Elsevier, EMBASE/Elsevier, Cumulative Index to Nursing and Allied Health (CINAHL/EBSCO), Cochrane Library/Wiley, além de fontes de estudos não publicados e literatura cinzenta. A pesquisa de estudos incluiu o Google Scholar para a busca manual de refere?ncias. Os dados foram coletados de julho a setembro de 2023. Após a busca dos estudos nas fontes de dados, todos os registros identificados foram exportados para o Endnote e após a verificação das duplicações, foram carregados no software Rayyan. Em seguida, dois revisores conduziram a seleção de modo independente com a leitura do título e do resumo, com cegamento pelo sistema. Quando houve conflitos entre os dois revisores, esses foram avaliados por um terceiro revisor para decisão. Na segunda etapa da seleção, os estudos pré-selecionados pelo título/resumo foram submetidos à leitura do texto na íntegra. Os dados foram extraídos dos artigos incluídos por dois revisores independentes e quando houve desacordo, foi consultado o terceiro revisor. Foi utilizado um formulário de extração de dados estruturado, submetido ao teste piloto para adequação à pergunta de revisão. Os dados foram extraídos no Excel®. As evidências coletadas foram analisadas de modo descritivo. Por se tratar de um estudo de revisão, sem envolvimento de seres humanos, este não necessitou de aprovação por parte de Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: A busca resultou em 19.144 estudos. Foram removidos 9.192 estudos duplicados e 584 não elegíveis. Assim, para leitura de título e resumo foram selecionados 9.368 estudos, dos quais 9.196 foram excluídos por não responderem à questão primária da revisão, sendo selecionados 172 estudos para leitura na íntegra. Foram incluídos três artigos pela lista de referências. Na leitura na íntegra, 22 não foram recuperados e 96 estudos não atenderam os critérios de inclusão. Deste modo, 5 estudos compuseram o corpus de análise desta revisão de escopo. Dos estudos incluídos, todos (n=5) empregaram a abordagem quantitativa e todos utilizaram o delineamento transversal. Quanto a faixa etária dos participantes dos estudos, três estudos (60%) foram realizados com idosos, um (20%) com crianças e um (20%) estudo com crianças e adolescentes. O quantitativo de participantes nos estudos totalizou 7.047 pessoas. Os estudos incluíram 4.131 crianças e adolescentes (58,62%), 1.590 idosos (22,57%) e 1.326 crianças (18,81%). Todos os estudos foram realizados com pessoas do sexo masculino e feminino. Quanto ao local dos estudos, dois estudos foram realizados no Egito, dois estudos na China e um estudo no Nepal. Os estudos foram publicados em 2011 (20%), 2015 (20%), 2018 (40%) e 2019 (20%). Os inquéritos populacionais coletaram os dados em locais distintos, três na escola, um no domicílio dos participantes e um não descreve o local. Com relação a negligência, os estudos relatam que as formas foram: má higiene, má alimentação, alimentação e roupas inadequadas, higiene inadequada, deixar de fornecer roupas, alimentação, deixar de levar ao médico quando necessário, deixar de fornecer educação, proibir de ir à escola, deixar de incentivar, deixar a criança em ambientes inseguros. Dois estudos não descrevem a forma da negligência. Indo ao encontro dos achados, os casos de negligência são relatados na literatura, na maioria das vezes, contra crianças e idosos. No primeiro caso, pais que possuem multitarefas e oferecem pouca atenção aos filhos e no segundo caso, familiares que pouco prestam assistência aos idosos. Essas questões, em conjunto, ratificam a necessidade de sensibilização e desenvolvimento de ações frente a temática. Considerações Finais: Identificou-se que a negligência ocorreu contra crianças, adolescentes e idosos e que estes, encontram-se vulneráveis a exposição à negligência. No rural, a situação agrava-se pelas questões de isolamento territorial e muitas vezes, pelo desconhecimento dos casos. Dessa forma, entende-se que a problemática é de difícil controle. Para tanto, requer abordagem interdisciplinar e implementação de políticas públicas que garantam os direitos a essa população, tanto na prevenção dos casos, quanto no seu enfrentamento.