O acesso a água é um direito universal e é parte integrante dos Objetivo do Desenvolvimento Sustentável da ONU da agenda 2030. A carência no acesso implica direta e indiretamente em diferentes campos da sociedade desde a saúde das populações até a sua qualidade de vida. No Brasil, a maior parte da população que não dispõe de fonte segura de água para consumo reside em áreas rurais ou em territórios tradicionais, com habitações remotas e afastadas de centros urbanos. Isto se deve entre outros fatores à dificuldade de instalação de sistemas convencionais de tratamento e distribuição de água em função da distância entre as casas, à falta de conhecimento sobre tecnologias existentes, à carência de pessoal qualificado e ao baixo fomento de recursos públicos para aquisição de materiais e insumos para o abastecimento de água nesses territórios. Uma das alternativas para superar este entrave foi desenvolvida pela Superintendência Estadual da Fundação Nacional de Saúde no Pará (Suest/PA - Funasa), em 2009, a “Solução Alternativa de Tratamento de Água por zeólita”, denominada SALTA-z. Esta tecnologia é uma solução coletiva para o suprimento de água em pequenas comunidades que é de fácil instalação e funcionamento. Para compreender a efetividade do processo de implementação da SALTA-z, foi elaborada pesquisa qualitativa a partir do olhar dos atores envolvidos e das comunidades assistidas, de quatro macrorregiões brasileiras, com diferentes contextos e níveis de adesão à tecnologia. A metodologia contemplou o levantamento documental, bibliográfico e entrevistas semiestruturadas com 50 atores sociais de abril a dezembro de 2020, contemplando servidores da FUNASA responsáveis pelo desenvolvimento e articulação da implantação da tecnologia, gestores/técnicos municipais, agentes comunitários de saúde, operadores comunitários da tecnologia e líderes comunitários locais. O estudo revelou os impactos positivos, os desafios em cada território com a operação da tecnologia e as adequações sociotécnicas implementadas, dada as condições e particularidades de cada território. Ainda, foram compreendidas a aderência ao projeto SALTA-z vinculadas ao pertencimento e a percepção de escassez de água de cada comunidade. Pode-se depreender ao longo da pesquisa que a questão cultural e identitária de cada território influi nos processos de educação, mobilização e participação social. Neste sentido, uma abordagem psicossocial, dialógica e inclusiva, é crucial para um real engajamento na implementação de tecnologias de tratamento de água, como a SALTA-z. Por fim, o presente estudo, pode contribuir com a produção científica relativa ao campo de saúde ambiental e inspirar a elaboração de um protocolo de pesquisa qualitativa mais simplificado, a ser utilizado para compreensão contínua da efetividade e dos modelos de gestão na implementação de tecnologias de tratamento de água, como da SALTA-z, o que pode vir a colaborar com o cumprimento da meta de universalização do acesso à água potável no país.
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