Apresentação: O Conselho Nacional de Educação estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de Psicologia, enfatizando a importância dos estágios em diferentes áreas da Psicologia e a necessidade de uma formação que abarque diversos contextos sociais e institucionais. O estágio em Psicologia da Saúde emerge no pensar de qual seria o papel da Psicologia neste campo, a partir da construção teórica e metodológica que perpassa desde a medicina comportamental norte-americana; o modelo assistencial clínico-hospitalar europeu e a saúde comunitária latino-americana até se constituir no que significa "saúde". Neste âmbito, a construção epistemológica da Psicologia e o objeto de estudo proporcionam que a sua inserção no campo da saúde contribui para o desenvolvimento de práticas que possibilitam a emergência de sujeitos, dotados de singularidades e transversalizados por construtos sociais que possibilitam o seu modo de ser no mundo. Na complexidade desse campo, a saúde intercorre com as políticas públicas porque a Psicologia é significativa no acesso a esse direito por meio da superação da desigualdade social ao questionar práticas que não atendem à diversidade do tecido social que compõe o país.O artigo discute a experiência de um estágio em Saúde dentro do curso de Psicologia da Universidade Federal do Pará, focando na integração da Psicologia da Saúde em vários contextos profissionais e sua relação com as políticas públicas no Brasil. Desenvolvimento: Trata-se de um relato da experiência vivenciada pelos autores e autoras durante a disciplina de Estágio Básico em Saúde no contexto do curso de graduação em Psicologia. Sob a orientação de um professor doutor que também compõe o corpo de autores deste artigo, os estudantes participaram de visitas a diversos espaços relacionados à saúde na região metropolitana de Belém, durante os meses de setembro e outubro de 2023. Esses espaços incluíram uma unidade de atenção primária de saúde, um centro de referência à saúde do trabalhador, um órgão de gestão previdenciária, uma casa de apoio às vítimas de escalpelamento e um hospital de urgência e emergência. Durante as visitas, os estudantes tiveram a oportunidade de interagir com profissionais de psicologia atuantes nesses locais, além de participar de debates e discussões sobre as práticas e desafios enfrentados por esses profissionais em seu cotidiano. Uma ênfase foi dada à reflexão sobre o papel da Psicologia da Saúde em contextos além do tradicionalmente clínico e individual, buscando compreender sua inserção e contribuição em questões mais amplas de saúde pública e políticas sociais. Ao longo das visitas, ficou evidente para os estudantes a importância e pertinência da presença da Psicologia da Saúde nesses diferentes espaços, destacando-se a necessidade de abordagens interdisciplinares e o enfrentamento de desafios institucionais e práticos diante da realidade social brasileira. Após as visitas, os estudantes reuniram-se com o professor para uma avaliação em grupo das percepções individuais e coletivas sobre as experiências vivenciadas. Para além do relato das experiências práticas, os autores propuseram uma análise crítica da vivência, articulando-a com uma revisão narrativa da literatura, especialmente a partir de disciplinas anteriores, como a Psicologia da Saúde. Essa síntese visou identificar aspectos comuns e possíveis contradições emergentes das diferentes perspectivas e vivências dos participantes, destacando a riqueza e complexidade das interações entre teoria e prática no campo da Psicologia da Saúde. Resultados: Como resultados, foi observado nos espaços a relevância da atuação interdisciplinar dos profissionais de saúde, mas ausência quanto a articulação em rede, sobretudo pela dificuldade em estabelecer o nexo causal entre o adoecimento e o trabalho; o papel do psicólogo no fornecimento de suporte emocional, orientação e intervenções terapêuticas para o público-alvo do espaço público de saúde em que está inserido, contribuindo para o enfrentamento desses desafios; a importância dos documentos de saúde para guiar a atuação do profissional, como o uso de Cadernos de Atenção Primária à Saúde, referências técnicas do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) e a utilização de estratégias que auxiliam na rotina de trabalho, como o uso de escalas, realização de encaminhamentos e atuação interdisciplinar da equipe, por meio, por exemplo, de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS); a/o profissional da psicologia como uma agente fomentadora para a transição saudável de um indivíduo para a aposentadoria, contribuindo para a identificação de recursos e estratégias que promovam o envelhecimento ativo e saudável, auxiliando também no incentivo da participação em atividades sociais, culturais e de lazer que estimulem o bem-estar físico e mental; a relevância do compromisso ético e político da profissão que rege a Psicologia, utilizando a clínica ampliada e escuta ativa para atribuir ao outro uma solução que parte da construção em conjunto, bem como a importância da atuação intersetorial e um olhar de interseccionalidade para a efetivação de direitos à população assistida; por fim, dificuldades institucionais de baixo quantitativo de profissionais da psicologia em comparação à alta demanda pertencente ao espaço público de saúde, as quais criam e expõem desafios para a atuação efetiva da Psicologia. Considerações finais: Diante dos resultados observados, foi possível perceber que atuação interdisciplinar da Psicologia orienta-se pela proposição de intervenções as quais garantam o bem-viver da população, as quais superam práticas individualistas, mas também atuações que visem aos fatores psicossociais que intercruzam o processo de saúde-doença das pessoas. Por meio da atuação conjunta, a pessoa que atua como profissional da Psicologia firma o compromisso com a justiça social para a promoção da cidadania por considerar que esse é um fator imprescindível na constituição da subjetividade. Outro fator importante observado é os desafios do número limitado de profissionais da psicologia disponíveis para atender uma alta demanda, havendo uma sobrecarga de trabalho. Dessa forma, para superar esse obstáculo, é imprescindível investir na formação e contratação de mais profissionais da psicologia da saúde, isso inclui incentivos para que mais pessoas ingressem nessa área, como, por exemplo, realização de concursos públicos para a efetiva contratação de psicólogos no âmbito da esfera pública, bem como a criação de políticas públicas que valorizem e apoiem esses profissionais. Além disso, é necessária uma política de investimento na melhoria das condições de trabalho dentro dos serviços de saúde do SUS, para que seus/suas profissionais possam ter um trabalho digno e assim atender as diversas e complexas demandas de saúde do povo brasileiro.