A dengue é considerada uma arbovirose emergente no Brasil frente aos desafios em relação à clínica e as implicações para o seu controle. É uma doença transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti, sendo o transmissor originário do Egito, na África, que se espalhou pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta desde o século 16, período das grandes navegações. No Brasil, o seu primeiro caso documentado clinicamente e laboratorialmente foi na cidade de Boa Vista/Roraima, no ano de 1981. Nas últimas três décadas, a dengue tornou-se um problema de saúde pública mundial, devido ao elevado número de casos. Os surtos vêm ocorrendo de forma constante devido a expansão do mosquito para regiões distintas e introdução de novos sorotipos.
O Brasil tem o maior número absoluto de casos de dengue devido ao crescimento de um conjunto de fatores, dentre eles, as mudanças climáticas do país, as características geográficas, a falta de saneamento básico adequado, o crescimento desordenado da população em área urbanas e das medidas de combate do transmissor da doença. Essas condições são razões importantes para o desenvolvimento do mosquito transmissor da doença.
A nível nacional, há circulação de quatro sorotipos de dengue, com base nisso, uma pessoa pode ser infectada com a doença quatro vezes através das diferentes especificidades dessas. Sendo assim, após a remissão da doença, esse se torna imune a aquele sorotipo específico. Neste ano de 2024, tanto o número de casos quanto o número de óbitos foram os maiores evidenciados de acordo com a série histórica do Ministério da Saúde, que registra desde 2000.
O estado do Rio Grande do Sul tem um crescente número de novos casos diariamente, sendo que os episódios constantes de chuvas podem estar associados a rápida proliferação e descontrole do combate ao mosquito. Ainda assim, Santa Rosa é a cidade com maior número de casos a nível estadual, na sua grande parte autóctones, decretando, em março do presente ano, situação de emergência, sendo considerada infestada pela doença.
Dessa forma, a Atenção Primária à Saúde (APS) é um dos principais meios de enfrentamento da doença, devido a suas características de assistência, como: prevenção e promoção à saúde, a longitudinalidade do cuidado, cuidado integral, ações de vigilância, monitoramento, territorialização, resolutividade e muitos outros.
Baseando-se nesse contexto, o trabalho apresenta como objetivo explanar a experiência de residentes em saúde da família, inseridos em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Santa Rosa/RS, frente a situação de emergência da dengue.
Trata-se de um estudo descritivo, na modalidade de relato de experiência, elaborado a partir da inserção de residentes, em campo de prática, das seguintes áreas: enfermagem, odontologia e educação física, vinculados ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) em parceria com a Prefeitura Municipal de Santa Rosa através da Fundação Municipal de Saúde (FUMSSAR).
Esta experiência compreende o período de março a abril do presente ano, em uma UBS do município de Santa Rosa/RS, localizado na região noroeste do estado, o qual abrange uma população de 76.963 habitantes. Vale ressaltar que o referido Programa é composto por sete áreas da saúde, sendo elas: educação física, enfermagem, farmácia, nutrição, odontologia, psicologia e serviço social.
A UBS campo de atuação e foco deste relato recebeu seus novos residentes no primeiro dia do mês de março de 2024, e desde então, todos encontram-se inseridos no processo de trabalho frente a situação emergencial da dengue no município. Sendo assim, a epidemia de dengue vem desafiando todos os profissionais da APS.
A equipe de residentes atua nas ações de prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, através de atividades educativas com o Programa Saúde na Escola, orientando sobre os cuidados individuais e coletivos, além de alertar a respeito da gravidade da fisiopatologia da doença. Ainda, desenvolve rodas de conversa, sala de espera e educação em saúde com a comunidade local. Também, como medida preventiva o incentivo ao uso de repelentes evitando a própria contaminação ou a transmissão da dengue para demais pessoas da região.
As orientações acerca do combate à proliferação do mosquito também são realizadas diariamente, buscando eliminar possíveis focos da doença. Abordagem de alerta sobre água parada, principais locais de risco para o desenvolvimento do mosquito, com pratos de vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e manutenção e até mesmo, em recipientes pequenos.
Os desafios de enfrentamento da doença impactam de forma significativa a atuação e o desenvolvimento de atividades diárias dos residentes. Essas condições influenciam diretamente na construção do conhecimento, assim como no processo de pesquisar-educar-cuidar com envolvimento direto na UBS em que estão inseridos.
Os residentes têm um papel fundamental frente ao cuidado nesse processo na APS, incluindo o manejo dos sinais e sintomas da doença. Dentre esses, tem-se a febre alta, cefaléia, artralgia e dor muscular. Também, o usuário pode apresentar fadiga, diarreia, náusea, exantema e prurido. Para a diminuição das manifestações clínicas e a cura da doença tem ocorrido as orientações sobre o incentivo do aumento da ingesta hídrica e o consumo de soro caseiro no domicílio como os principais métodos terapêuticos. Ainda, se necessário, a infusão de soroterapia endovenosa na UBS como recuperação à saúde do usuário.
Além do tratamento da doença, os profissionais inseridos na linha de cuidado, realizam a organização, o agendamento e a coleta de amostras sorológicas e exames laboratoriais. Nesse contexto, o processo de trabalho contempla os profissionais de saúde residentes desde a abordagem inicial de acolhimento do usuário até a fase final de restabelecimento das condições de saúde do indivíduo.
Outra atividade realizada pelos residentes é o registro dos novos casos de dengue no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), onde são lançadas as fichas de notificação/investigação. Por conta da grande quantidade destes casos, a Vigilância Epidemiológica, solicitou auxílio para a digitação dos novos casos.
É importante ressaltar que o combate à dengue não é apenas uma responsabilidade da saúde pública, mas também de várias outras secretarias, como a de planejamento e habitação que tem por função planejar a fiscalizar o processo de urbanismo, a secretaria da educação e cultura com conhecimento e reforços sobre o processo da doença e a do meio ambiente com planejamento e estratégias que reforçam a prevenção, como o direcionamento adequado do descarte do lixo.
Mas sobretudo, é um trabalho que deve ser realizado juntamente com a sociedade, auto responsabilizando a população por seus pátios e o descarte de lixos de forma indevida, no qual, podem gerar acúmulo de água, fortalecendo a proliferação do mosquito. A conscientização da população é fundamental para o controle e prevenção dos focos da dengue.
Diante disso, as ações realizadas, permitem mostrar que a residência multiprofissional em saúde da família representa uma força de planejamento, de gestão e de trabalho, que favorece a organização dos serviços de saúde em que estão inseridos. Dessa forma, estimulando sua ampla visão gerencial, educadora e de assistência direta à população.