Apresentação: A saúde pública no Brasil conta com a participação da sociedade, fruto de um esforço coletivo do movimento sanitarista e dos movimentos sociais na luta pela consolidação da democratização. Atualmente, o controle social exerce um papel mais qualificado, deliberativo, representativo e independente. As conferências de saúde estão previstas na Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.142 de 1.990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde), bem como da Resolução nº 453 de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que aprova diretrizes para instituição, reformulação, reestruturação e funcionamento dos Conselhos de Saúde. Uma das competências dos Conselhos de Saúde Nacional, Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, é a de discutir, elaborar e aprovar propostas de operacionalização das diretrizes aprovadas pelas Conferências de Saúde, realizadas a cada quatro anos com etapas municipais, regionais (a depender da regionalização em saúde) e estaduais, consolidando-se com a Conferência Nacional. As representações, de acordo com a legislação vigente, compõem-se de três segmentos da sociedade: usuários, gestores/prestadores de serviço e profissionais de saúde, com composição paritária de usuários em relação ao conjunto dos demais segmentos representados. Assim, as conferências propõem-se a avaliar a situação de saúde em cada esfera de gestão, propondo diretrizes para a formulação de políticas de saúde. Destarte, o objetivo desse estudo foi o de relatar a experiência da I Conferência Regional de Saúde do Cariri Cearense. Desenvolvimento: A Conferência Regional de Saúde do Cariri Cearense, ocorreu em maio de 2023, nos turnos manhã e tarde, no Centro de Convenções do Cariri, no município de Crato, Ceará, que contou com a organização da equipe da Superintendência Regional Sul (SRSul) e das quatro Coordenadorias das Áreas Descentralizadas de Saúde (COADS), com a participação 351 pessoas sendo 266 delegados, 20 secretários municipais e 65 convidados. No turno da manhã ocorreu a programação com a mesa abertura composta pelas autoridades locais e em seguida com a palestra magna sobre o tema “Garantir Direitos e Defender o SUS, a Vida e a Democracia – Amanhã vai ser outro dia”. Para finalizar o turno foram feitas apresentações enaltecendo a cultura regional. No horário da tarde, seguiu-se o debate das propostas nos quatro eixos padronizados para a realização da conferência, com discussão em plenária para priorização do que foi consolidado. Em seguida foi realizada a eleição das pessoas delegadas por segmento de representação para a Conferência Estadual de Saúde. Resultados: Conforme orientação nacional e estadual, as propostas oriundas dos municípios foram consolidadas pela SRSul, assegurando-se para a discussão apenas o que seria de base regional/estadual/nacional, considerando que as relacionadas aos municípios ou aos seus respectivos territórios deveriam apresentar programação/desenvolvimento em seus Planos de Saúde Municipais. Cada espaço também contava com a relação das pessoas delegadas fixadas por eixo para identificação, contando também com equipamentos audiovisuais (notebook e datashow) para apresentação da consolidação. Os eixos foram debatidos em quatro espaços separadamente, com a condução de dois a três membros da Comissão de apoio da Conferência, tendo estes recebido as devidas instruções da relatoria. Nesses espaços, foram entregues listas de frequência por categoria (pessoas delegadas e pessoas convidadas). Apenas oito pessoas delegadas não estavam inscritas em nenhum dos eixos, sendo que estes tiveram a opção de escolher qual o eixo a participar. As propostas foram debatidas e aprovadas por eixo, de modo que receberam orientações da relatoria de finalizar a discussão entre cinco a no máximo sete propostas, para que o debate em plenária ocorresse de forma rápida e objetiva. Foi solicitado que cada sala realizasse a eleição de um relator e um coordenador dentre as pessoas delegadas e disponibilizado o tempo de 60 a 90 minutos para as discussões. Ao final dos debates e devido à multiplicidade de temas em cada eixo, foram consideradas nove propostas no eixo I, cinco no eixo II, seis no eixo III e seis no eixo IV com os pontos destacados por cada diretriz. Assim, cada relator(a), por eixo, fez a apresentação e defesa de suas propostas em plenária, que seguiu com o debate do que necessitava ser mantido ou alterado no texto. Todas as propostas foram aprovadas no quantitativo que se apresentava por eixo, de maneira que a relatoria necessitou consolidá-las para o devido encaminhamento ao Conselho Estadual de Saúde (CESAU). Cabe mencionar que durante a plenária um dos convidados realizou a defesa da moção de aprovação da Política Nacional de Cuidados Paliativos, contextualizando sua situação enquanto paciente paliativa há vários anos. Devido a sensibilidade da situação e considerando a realidade de diversos outros pacientes em situações semelhantes, a plenária decidiu que a moção fosse inserida como uma proposta do eixo III. Posteriormente a essa etapa, as pessoas delegadas foram alocadas em salas de acordo com os seus segmentos – Usuários, profissionais de saúde e gestores / prestadores de serviço. Em seguida, os membros do CESAU, bem como os integrantes dos Conselhos Municipais de Saúde (CMS) foram os responsáveis pela eleição. Cada sala recebeu uma listagem com os nomes das pessoas delegadas, de maneira que os membros do CESAU / CMS conduziram esse momento, realizando a chamada para verificação dos presentes e posteriormente ocorrendo a eleição, com o registro realizado em cada planilha para posterior verificação da relatoria. Foram eleitos 49 pessoas delegadas do segmento usuário, 40 do segmento profissional e 32 do segmento gestor. A Conferência ocorreu de forma harmônica, apesar de alguns impasses esperados. No entanto, destaca-se que as situações que fugiam ao padrão foram resolvidas pela relatoria da superintendência, mantendo os princípios éticos e a transparência do processo. Pode-se dizer que a conferência cumpriu com o seu planejamento, galgando seus objetivos, com debates fervorosos em determinadas temáticas, especialmente no asseguramento de direitos das populações vulneráveis e das pessoas com deficiência, além de aspectos relacionados à gestão do trabalho e de serviços, que merecem ser enaltecidas na Conferência de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde.Considerações finais: A organização de espaços de discussão e deliberação nessa magnitude à nível regional ganham força e visibilidade, oportunizando análise da política de saúde em cada âmbito de atuação, trazendo ‘voz’ para que a população expresse suas necessidades de maneira ética e participativa. A consolidação de uma conferência regional confere um panorama importante ao processo de regionalização em saúde, respeitando-se essa estrutura inclusive nesses espaços.