No centro do Rio de Janeiro trabalhadores e trabalhadoras que se dedicam ao trabalho como camelô estão expostos à riscos e agravos relacionados ao trabalho. Considerando o acúmulo teórico do campo da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, esses e essas camelôs possuem um saber sobre sua própria saúde que nos revelam a relação saúde-trabalho-ambiente da categoria. Esta pesquisa foi desenvolvida por duas pesquisadoras ligadas ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Trabalhador, da Fiocruz, em conjunto com o Movimento Unido dos Camelôs (MUCA). A metodologia pactuada foi a de análise qualitativa do discurso a partir de Rodas de Conversa, orientadas por roteiro semiestruturado, com camelôs que trabalham no centro da cidade. Os dados obtidos foram agrupados em categorias, destacando-se: violência relacionada ao trabalho; e sofrimento relacionado ao trabalho. A análise dos relatos das Rodas de Conversa revelou que esses trabalhadores e trabalhadoras possuem consciência crítica sobre os processos de trabalho e a relação saúde-trabalho-ambiente. Os resultados da pesquisa mostram que o poder público tem, sistematicamente, provocado diferentes tipos de violência a esses trabalhadores e essas trabalhadoras, além das nocividades do ambiente e dos processos de trabalho já enfrentadas por esses e essas, como exposição ao sol e a chuva, as incertezas da venda das mercadorias, longas jornadas de trabalho em pé, movimentos repetitivos na confecção de mercadorias, esforço por excesso de peso, uso excessivo da voz durante o trabalho, entre outros. Espera-se que o estudo possa contribuir de três formas distintas: (1) fortalecer a organização dos trabalhadores e trabalhadoras camelôs do município do Rio de Janeiro, bem como visibilizar e valorizar o conhecimento sobre a relação saúde-trabalho-ambiente desses trabalhadores e trabalhadoras; (2) ampliar as possibilidades de entendimento acerca do campo da saúde do trabalhador e da trabalhadora, para a sociedade de forma geral; (3) identificar agravos e doenças relacionadas ao trabalho presentes na realidade da população camelô no município do Rio de Janeiro. Já está em construção uma proposta dos trabalhadores e trabalhadoras camelôs do Rio de Janeiro para mudar o ambiente de trabalho e os fatores nocivos à saúde identificados, através da atuação do sujeito coletivo MUCA. Destaca-se a necessidade da saúde do trabalhador ser reconhecida como um direito humano e fortalecer políticas de proteção, promoção de saúde, garantia de direitos e recuperação da saúde para a toda classe trabalhadora, independente se atuam na formalidade ou na informalidade do mercado de trabalho, haja visto que estima-se que mais de 60% da população mundial atua nessa última modalidade.