A unidade de pronto socorro hospitalar é destinada a prestar assistência a pacientes em situação de urgência e emergência, com ou sem risco de vida. A partir da classificação de risco, os pacientes são atendidos de acordo com a condição clínica podendo permanecer em observação (áreas amarela e vermelha), ser internados ou encaminhados para outros serviços que compõem a rede de atenção à saúde.
O enfermeiro, nesses espaços de urgência e emergência, atua de diversas formas, como na classificação de risco, dimensionamento, supervisão e capacitação da equipe, avaliação da assistência prestada e realização da sistematização da assistência de enfermagem. Logo, deve estar capacitado para agir frente aos possíveis problemas de saúde, embasado no conhecimento técnico-científico, para prestar um atendimento de qualidade.
Apesar de predominar, no cotidiano do profissional enfermeiro, as funções administrativas ressalta-se também a necessidade de um cuidado humanizado, que proporcione momentos de acolhimento e escuta ativa do paciente, em especial nas situações em que o estado de saúde é mais grave. Para isso, torna-se relevante que o enfermeiro distancie-se por períodos de suas atribuições de gerenciamento da unidade, a fim de proporcionar um cuidado de qualidade ao paciente.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é descrever a experiência de ensino e aprendizagem da assistência de enfermagem em unidade de observação - área vermelha de um pronto socorro vivenciada por discentes de Enfermagem. Trata-se de um relato de experiência de discentes, do Curso de Graduação em Enfermagem, de uma universidade federal do Rio Grande do Sul, a partir das atividades práticas curriculares desenvolvidas em uma unidade de Pronto Socorro, durante o componente curricular de Gestão do Cuidado II, no 5º semestre, as quais ocorreram de agosto a outubro de 2023. Esse componente tem como objetivo geral, a implementação do processo de enfermagem na gestão do cuidado ao paciente em situações clínicas, crônicas e cirúrgicas na atenção hospitalar.
Durante as práticas na unidade, destaca-se a comunicação interprofissional, a qual prevaleceu nas observações das passagens de plantão. Esse momento era visivelmente valorizado pela equipe e, as informações de cada paciente, eram compartilhadas de forma organizada. A equipe, ainda, fazia uso de um quadro que continham dados essenciais de cada paciente, sendo um resumo claro, objetivo e atualizado da condição clínica, bem como de exames realizados e em espera.
Constatou-se que essa comunicação impacta diretamente na assistência, tornando-se fundamental que o enfermeiro estabeleça um diálogo eficiente com a equipe multiprofissional, assegurando a qualidade do cuidado e minimizando eventos adversos. Posto isso, a passagem de plantão com uma comunicação clara e objetiva, pode garantir a segurança do paciente e a continuidade do atendimento. A visualização desse processo, na prática, pelos discentes, configurou-se como aprendizado e agregou na relevância desses elementos na construção profissional.
Outro fato que corroborou no processo de ensino-aprendizagem, foi o acolhimento pela equipe aos discentes. Eles contribuíram de forma ativa na ambientalização e auxiliaram durante as atividades, esclarecendo dúvidas, principalmente acerca das rotinas da unidade e dos materiais disponíveis.
A partir do exposto, entende-se que a presença de discentes nos serviços de saúde implica em mudanças na rotina, podendo afetar o cotidiano da equipe, que vê suas atribuições associarem-se com as necessidades dos mesmos de aprender. A vivência, no campo prático, caracteriza-se por um período de transição para o mundo profissional, sendo esse processo marcado por situações as quais podem gerar angústia e insegurança. Portanto, faz-se necessário que o ambiente em que as práticas são realizadas, ofereça segurança e tranquilidade e favoreça a permanência dos discentes, devendo a equipe compreender a demanda de remanejo das suas funções para oportunizar o aprendizado da prática.
Foi também observada a conduta dos profissionais, em especial das enfermeiras, diante da realização e implementação das prescrições de enfermagem. Uma característica positiva da unidade é que as prescrições eram rotineiramente realizadas. No entanto, a unidade dispõe de um sistema eletrônico, em que constam os registros e as anotações dos profissionais, assim como a prescrição de enfermagem, mas essa não faz relação com os diagnósticos de enfermagem. Isso faz com que na maioria das vezes, os cuidados aprazados, sejam parte integrante da rotina da unidade.
Sabe-se que, através das prescrições de enfermagem, qualifica-se o cuidado ofertado, além de que respalda as práticas desempenhadas por enfermeiros, tornando a assistência de enfermagem um fazer científico. Entretanto, há a necessidade de que sejam realizadas com o foco na singularidade de cada paciente, evitando assim condutas protocoladas.
A partir disso, uma das habilidades aprimoradas durante as atividades, além da realização de prescrições pautadas no quadro clínico do paciente, foi a elaboração de diagnósticos de enfermagem, os quais eram descritos na evolução de enfermagem. O processo de enfermagem, apesar de muito debatido na teoria, tem sua melhor compreensão na prática, no momento de aplicá-lo. A realização dos diagnósticos exige uma fundamentação teórica que norteia o raciocínio clínico, além de que através dele serão elaboradas as intervenções contidas na prescrição, que irão direcionar o cuidado para atender as necessidades dos pacientes.
Outro aspecto positivo, na realização de atividades práticas na unidade, foi a participação do Daily Huddle, sendo ele uma ferramenta aplicada em instituições hospitalares por meio de reuniões realizadas diariamente com os representantes de cada setor da instituição, com duração máxima de dez minutos, com o objetivo de criar um momento para comunicação intersetorial. Na unidade, essas reuniões eram realizadas todas as manhãs às dez horas, onde foi possível a participação das discentes durante as práticas e o conhecimento da realidade das demais unidades de internação e setores do hospital.
Durante a reunião, o representante de cada setor informava brevemente a situação atual (disponibilidade dos leitos, encaminhamentos, materiais de cada unidade, equipamentos quebrados) e ainda comunicava os demais setores a fim de solucionar os problemas de imediato, garantindo a qualidade do cuidado ofertado ao paciente. O Huddle, então, permite a integração de todas unidades e viabiliza a comunicação direta entre esses setores.
Evidenciou-se que, as práticas proporcionaram o contato das discentes com o trabalho do enfermeiro na unidade assim como dos demais profissionais da equipe, servindo como um importante preparo para a vida profissional. Estar inserido na rotina da unidade e, dividir as atribuições com a equipe, garante a compreensão não somente do funcionamento do serviço, mas também auxilia na construção de um pensamento crítico-reflexivo acerca do papel a ser desenvolvido futuramente como profissional.
Ainda, foi possível entender com mais clareza a importância que a multiprofissionalidade tem na oferta do cuidado. Durante as práticas, houve momentos de interação com todos os profissionais inseridos no serviço (enfermeiro, técnicos de enfermagem, fisioterapeuta, nutricionista e médico), viabilizando o aprendizado do trabalho em equipe e favorecendo a compreensão do cuidado integral ao paciente, além de entender a importância que essa interação/comunicação com a equipe tem para a continuidade da assistência.
Portanto, as práticas agregaram conhecimento para a formação das discentes, auxiliando no desenvolvimento de habilidades essenciais para o serviço exercido pela enfermagem. Durante os dias na unidade, foi possível observar o trabalho pelas várias perspectivas, por vezes exercendo o cuidado direto ao paciente, ou elaborando os diagnósticos e prescrições, até mesmo participando da reunião dos setores.