Apresentação
A educação médica clássica tem uma longa tradição de aprendizado no local de trabalho, onde os alunos de medicina acompanham médicos experientes para ganhar conhecimento prático e habilidades clínicas. Esse modelo de treinamento, muitas vezes caracterizado pela aprendizagem em serviço e pelo ensino por imersão no ambiente de saúde, pode ser profundamente influenciado pela personalidade e abordagem dos médicos tutores, que nem sempre possuem formação pedagógica formal. Em alguns casos, essa estrutura resultou em uma cultura onde o estresse e a alta exigência do trabalho médico podem gerar um ambiente de ensino intimidador e até mesmo humilhante.
O "formato de educação baseado em humilhações", uma prática infelizmente conhecida como "pimping" em inglês, tem sido criticado por perpetuar um ciclo de abuso e estresse psicológico, afetando negativamente tanto o bem-estar dos estudantes quanto o processo de aprendizagem. Recentemente, tem havido um movimento crescente para reformar a educação médica, enfatizando a importância da pedagogia médica, do respeito mútuo e da criação de um ambiente de aprendizado seguro e encorajador, reconhecendo que a excelência na prática médica não necessita ser sinônimo de sofrimento durante o treinamento.
A ideia de que o oprimido pode se tornar um opressor é um conceito frequentemente discutido no contexto da obra de Paulo Freire. E esse ciclo tem sido observado na medicina. Os estudantes que foram humilhados na graduação tendem a ser profissionais com atitudes semelhantes com seus pares e pacientes. Frei descreve que em algumas situações, os oprimidos podem internalizar a visão e os métodos dos opressores como forma de tentar se libertar da própria opressão. Isso pode ocorrer devido à dinâmica complexa das relações de poder e à forma como a opressão pode moldar a consciência e as ações dos indivíduos.
Bell Hooks destaca a importância de uma abordagem educacional que seja libertadora e capacitadora para todos os indivíduos, especialmente para aqueles que historicamente foram marginalizados e oprimidos. No contexto da escola médica, onde as práticas educacionais muitas vezes reproduzem dinâmicas de poder, hierarquias rígidas e formas de violência simbólica e estrutural, o arcabouço teórico de Bell Hooks também oferece insights valiosos para romper com esses padrões e promover uma educação mais inclusiva, humanizadora e ética.
O desafio atual da educação médica contemporânea é criar condições para os profissionais que se dedicam ao ensino dos graduandos ofereçam espaços de aprendizagem colaborativa ainda que tenham sido oprimidos no próprio processo formativo e se conscientizassem de sua própria opressão, desenvolvendo uma consciência crítica e engajamento em ações coletivas de libertação que não reproduzem as mesmas dinâmicas de opressão que eles próprios enfrentavam.
Objetivo
Descrever a experiência de oferecer práticas de ensino e aprendizagem para o sétimo período da graduação em Medicina por meio de aulas teóricas que utilizem os princípios teóricos de bell hooks e Paulo Freire.
Metodologia
Visando a construção de um conhecimento científico criativo na educação médica, foi adotada uma abordagem que enfatiza o relato de experiências exitosas. Através da observação de imagens de experiências e relatos de profissionais que tiveram sucesso em suas práticas médicas, foi possível criar um arcabouço prático e teórico para a formação de novos médicos. Esses relatos fornecem exemplos concretos e aplicações reais que ajudam a consolidar o aprendizado, estimulando a criatividade e a inovação no campo médico. A metodologia incluiu a seleção de imagens relevantes e a sua análise minuciosa, considerando fatores contextuais, como o perfil sociocultural dos pacientes, as estratégias adotadas pelos profissionais e os resultados obtidos por eles.
Resultados
A partir das perspectivas de Paulo Freire e bell hooks, a amorosidade nas relações pode ser uma poderosa força no ensino e aprendizagem na medicina. Freire, com sua pedagogia libertadora, enfatiza a importância da relação horizontal entre educador e educando, baseada na confiança mútua, diálogo e respeito. Ele destaca a necessidade de reconhecer e valorizar as experiências prévias dos alunos, envolvendo-os ativamente no processo de aprendizagem e encorajando sua participação crítica na construção do conhecimento.
Da mesma forma, bell hooks, com seu foco na interseccionalidade e no amor como um ato de resistência, ressalta a importância de criar ambientes educacionais inclusivos e amorosos, onde os alunos se sintam valorizados, respeitados e capacitados a expressar suas identidades de forma autêntica. Ela destaca como a construção de relações amorosas pode desafiar sistemas de opressão e promover a equidade no ensino.
Por meio desses princípios, os educadores médicos podem enfatizar a importância da empatia e da humanização no cuidado com os pacientes. Ao modelar comportamentos compassivos e respeitosos, os alunos são encorajados a desenvolver uma sensibilidade maior para com as experiências e necessidades dos pacientes,.
Desafiar as construções hierárquicas que permeiam muitas instituições educacionais é oferecer um modelo mais horizontal e colaborativo de aprendizagem, envolvendo a promoção de relações mais igualitárias entre professores e estudantes, valorizando o conhecimento e a experiência de todos os envolvidos. Nesse sentido, o estabelecimento de um diálogo aberto e respeitoso entre educadores e alunos cria um ambiente propício para a troca de ideias, o debate saudável e a construção coletiva do conhecimento. Os alunos se sentem mais motivados a participar ativamente das discussões e a contribuir com suas próprias perspectivas, enriquecendo assim o processo de aprendizagem.
O diálogo aberto, a escuta ativa e o respeito mútuo são ferramentas essenciais para construir relações autênticas e igualitárias. Na escola médica, isso poderia significar promover espaços de discussão e reflexão no qual estudantes, professores e profissionais de saúde possam compartilhar experiências, questionar preconceitos e construir empatia.
Ademais, é essencial a criação de ambientes inclusivos que valorizem a diversidade de experiências, identidades e perspectivas. As exposições teóricas devem promover a diversidade cultural, étnica, de gênero e socioeconômica, bem como a inclusão de diferentes abordagens e práticas de cuidado da saúde. Isso é fundamental para preparar os alunos para atuar em uma sociedade cada vez mais diversa e multicultural. Dessa forma, a promoção da diversidade no currículo e na prática clínica ajudará os alunos no combate às disparidades de saúde e na oferta de um atendimento mais equitativo.
Por fim, destaca-se a importância da promoção da autonomia e da capacitação dos alunos. Ao invés de adotar uma abordagem autoritária, os educadores podem atuar como facilitadores do aprendizado, fornecendo suporte e orientação enquanto os alunos desenvolvem habilidades críticas e de resolução de problemas. Os estudantes devem ser capacitados a serem agentes ativos de sua própria aprendizagem e de seu desenvolvimento pessoal. Os professores devem incentivar não só a autonomia, mas também a criatividade e a responsabilidade dos estudantes em seu processo de formação, promovendo uma cultura de respeito mútuo e colaboração.
Conclusão
A integração da amorosidade nas relações pedagógicas na medicina, inspirada por pensadores como Paulo Freire e bell hooks, tem o potencial de transformar profundamente o ensino e a prática médica. Freire destaca a importância da relação horizontal entre educador e educando, baseada em confiança, diálogo e respeito, enquanto bell hooks enfatiza a necessidade de ambientes educacionais inclusivos e amorosos.
Promover um ambiente de aprendizagem colaborativo, desafiando hierarquias e incentivando um diálogo aberto entre professores e alunos, é fundamental para uma educação médica mais equitativa. Além disso, a promoção da diversidade no currículo e na prática clínica prepara os alunos para lidar com a diversidade na sociedade e para oferecer cuidados de saúde mais justos e inclusivos.