A violência contra a mulher é um complexo fenômeno social, historicamente construído, que tem raízes na forma como são estabelecidas as relações entre homens e mulheres em nossa sociedade, sendo considerado como um grave problema de saúde pública, uma violação dos direitos em todo o mundo. Este tipo de violência causa danos profundos, muito além daqueles imediatos à agressão ou lesão sofrida - seja física ou seja psicológica, por exemplo. Tais danos reverberam na vida da pessoa que sofreu a violência, bem como, nas pessoas próximas. Assim, refletir sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher exige questionamento a respeito de aspectos como masculinidade e gênero. O presente resumo baseia-se em uma pesquisa que teve como objetivo conhecer as concepções de masculinidades presentes nos relatos de homens acusados de violência contra a mulher, enquadrados na Lei Maria da Penha (11340/2006). O estudo qualitativo, de caráter exploratório-descritivo, está vinculado ao projeto de um protocolo de intervenção em grupo com homens autores de violência - Grupo Psicoeducativo com Homens Autores de Violência Contra a Mulher (GPHAV). O protocolo de intervenção trabalhado junto ao GPHAV é composto por nove encontros semanais, na modalidade on-line (plataforma Google Meet), com a duração de aproximadamente 1 hora e 45 minutos, todos gravados em vídeo e transcritos na íntegra. Dos nove, são realizados grupos focais no segundo (grupo focal inicial) e no último (grupo focal final) encontro. Os dados da pesquisa foram produzidos a partir dos relatos de 56 participantes, em oito em grupos focais iniciais, ocorridos entre abril de 2021 e março de 2023. A realização da pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos - (CEP/UFCSPA), sob o número CAAE 35431220.8.0000.5345, tendo sido observados todos os procedimentos éticos, previstos nas resoluções que regulamentam a pesquisa com seres humanos no Brasil. Utilizou-se como estratégia analítica a Análise de Discurso, de inspiração foucaultiana. Da análise das informações, emergiram quatro eixos principais, cingindo as possíveis linhas discursivas relacionadas ao ‘ser homem’: Discursos Biologizantes; Discursos Éticos; Discursos Históricos; e, Discursos da Broderagem. Os resultados revelam uma multiplicidade de discursos sobre a masculinidade estabelecendo relações de sentido entre si, contudo os participantes ainda mantêm uma noção de ‘ser homem’ baseada em normas das masculinidades hegemônicas. A pesquisa buscou inspirar intervenções com homens sob uma perspectiva pós-estruturalista, promovendo debates críticos e políticos sobre masculinidades, feminilidades e violência, desestabilizando relações de poder. Reconhecendo a complexidade do fenômeno de violência no Brasil, destaca-se a importância de iniciativas interventivas, como os grupos reflexivos, para promover mudanças significativas e enfrentamento e na superação das situações de violência.