Apresentação: A estomia de eliminação é um canal criado entre um órgão interno e o meio externo, com o objetivo de possibilitar a excreção de urina, fezes e/ou gases, podendo ser de caráter perene ou temporário. Objetivos: o presente trabalho objetiva discutir as implicações clínicas e relacionais associadas às estomias de eliminação, bem como, a abordagem holística, multiprofissional e familiar, com vistas à superação das mudanças sociais e relacionais enfrentadas. Desenvolvimento: trata-se de uma revisão bibliográfica acerca das implicações das estomias de eliminação. A pesquisa foi realizada durante o mês de abril de 2024 nas plataformas BVS e PUBMED. Ademais, as palavras-chaves utilizadas foram: “estomias de eliminação”, “qualidade de vida AND estomia” e “estomia”. Outrossim, como filtros de busca utilizou-se: os últimos seis anos (2018-2024), a língua portuguesa e apenas artigos free full text. Resultados: elenca-se na literatura diferentes tipos de estomias que podem ser realizadas em diferentes partes do trato gastrointestinal. As realizadas no intestino delgado são: jejunostomia ou ileostomia terminal, que consiste na externalização dos segmento escolhido, através da eversão das camadas intestinais; ileostomia terminal na neoplasia de cólon obstrutivo que é realizada quando há necessidade de realização de uma colectomia total, na qual há risco de uma peritonite fecal; jejunostomia terminal no abdome agudo vascular que é feita no paciente hemodinâmica instável, até que seja possível a reconstrução do trânsito entérico; ileostomia em alça que é utilizada como uma forma de proteção à contaminação da cavidade abdominal com líquido intraluminal (que é desviado para o exterior); ileostomia em alça na proctocolectomia total com bolsa ileal em J utilizada no tratamento da retocolite ulcerativa grave e refratária ao tratamento clínico. Há, ainda, as estomias realizadas no intestino grosso, quais sejam: colostomia terminal na neoplasia obstrutiva de colón que é utilizada em operações de urgência ou em quadros infecciosos relacionados a diverticulite aguda; colostomia terminal na diverticulite com peritonite grave que é confeccionada em casos em que é necessário o sepultamento do reto; colostomia terminal na amputação de reto que é indicada nos casos de neoplasia de reto distal avançada e como opção terapêutica no tratamento da Doença de Cronh perianal grave com incontinência fecal; colostomia em alça que é indicada no quadro obstrutivo ou séptico que envolva o segmento a jusante; colostomia em alça no tumor de reto com obstrução, atualmente, é mais utilizada nos casos de existência de fístula retovaginal; e cecostomia de drenagem com cateter que é indicada para tratamento da pseudo-obstrução intestinal e na Síndrome de Ogilvie. Nesse sentido, independentemente da patologia que determinou a construção do estoma, em regra, ela deve se localizar na parede abdominal anterior, onde não existem pregas que poderiam impedir a sua aderência, ou seja, deve ser construído em um local de fácil acesso e com boa visibilidade para o paciente, a fim de proporcionar uma melhor adaptação à nova condição de vida, bem como, evitar o surgimento complicações. As principais mudanças/adaptações que podem ser enfrentadas pelo paciente estomizado, são as seguintes: a melhor escolha e os cuidados com o equipamento coletor e com a pele periestomia, ou seja, o paciente deve ser capacitado no sentido de saber escolher a bolsa que melhor atenda às suas necessidades, bem como instruído acerca dos cuidados que deve ter com a pele ao realizar a troca. Além disso, o controle intestinal com o emprego da dieta obstipante, com ou sem a associação de medicamentos, o condicionamento psicofísico e a irrigação da colostomia. Ademais, a avaliação nutricional se mostra relevante a fim de evitar deficiências nutricionais, bem como a prática de exercícios físicos deve ser incentivada, pois melhora o condicionamento físico e o trânsito intestinal. Já a atividade laboral atua diretamente na inserção social. Igualmente, há a importância do apoio psicológico, haja vista que os pacientes podem sofrer com disfunção da autoimagem, medo, depressão, fobia social e generalizada, baixa autoestima, problemas relacionados à sexualidade, além de transtornos, como de ansiedade, de humor e do pânico. Outrossim, dentre as principais possíveis complicações relacionadas os pacientes, estão fatores como: a idade, os extremos: jovens e idosos, tendem a demorar mais a aceitar o estoma; a alimentação, tendo em vista que nem todos os alimentos são recomendados, isto é, não raro o paciente sofre um brusca mudança no cardápio; o esforço físico precoce que pode alterar a correta cicatrização do estoma e o risco de infecções. Identifica-se que o processo de adaptação à condição de paciente estomizado, muitas vezes, é árduo e constante. Além disso, essas pessoas podem sofrer interferências em razão de valores, de personalidade, do apoio familiar e psicológico, da doença de base e do grau de incapacidade. Dessa forma, uma assistência à saúde que supere as concepções biologicistas, de modo que, dentro do atendimento humanizado, sejam considerados, os aspectos biopsicossociais, como a religiosidade, a vida familiar, a situação socioeconômica e a importância da estomia de eliminação. Ou seja, percebe-se que a participação da família é muito importante, tendo em vista que, os parentes são capazes de incentivar o desenvolvimento das habilidades do paciente. Além disso, muitas vezes, é um familiar que poderá vir a ser o cuidador até que o paciente recupere sua autonomia e independência, uma vez que, durante o pós-operatório, geralmente, o enfermo não se encontra preparado psicologicamente ou em condições físicas de realizar o autocuidado. Assim, a presença frequente e colaborativa dos familiares assegura a continuidade dos cuidados no retorno ao lar. Assim, as relações sociais, sejam elas fraternas e/ou amorosas, bem como a manutenção da atividade laboral, se possível, devem ser incentivadas pela equipe de cuidados multidisciplinar e pela família, pois se mostram como pilares na recuperação, bem como na adaptação do paciente estomizado à sua nova condição de vida. Considerações Finais: evidenciou-se que as estomias de eliminação resultam em um conjunto de alterações no organismo humano, gerando implicações clínicas e relacionais, constituindo um desafio que demanda uma série de cuidados, que se iniciam muito antes e superam o procedimento cirúrgico, envolvendo uma assistência holística e humanizada. Outrossim, identifica-se que a participação familiar desempenha um papel crucial, no apoio emocional, no estímulo ao desenvolvimento das habilidades do paciente e na prestação de cuidados diretos. Dessa forma, é possível observar a importância do alinhamento entre os cuidados biológicos, psicológicos e sociais a fim de garantir uma assistência humanizada e efetiva ao paciente com estomia de eliminação.