A formação de um médico ético, humanista e com responsabilidade social, como definem as DCN da Graduação em Medicina, demanda o desenvolvimento de competências socioemocionais. Dentre estas, destaca-se a competência cultural, fundamental para a prática médica, sobretudo no SUS. As atividades extensionistas do 1º. ano da Faculdade Souza Marques incluem estratégias voltadas para este fim. As atividades têm como objetivos pedagógicos: 1. desenvolver habilidades como empatia, humildade, respeito, criatividade e comunicação; 2. valorizar a diversidade e rever preconceitos e estereótipos; 3. estimular a consciência sobre o impacto dos determinantes sociais sobre a saúde e a qualidade de vida
Os estudantes, na disciplina de Medicina Social realizam atividades práticas de promoção da saúde em escolas e unidades de saúde, levando em conta as especificidades culturais desse público. Antes de entrarem em campo, discutem questões como determinantes sociais da saúde; território; habilidades para a vida e a promoção da saúde; diversidades; educação popular em saúde etc. São utilizadas técnicas, como as dinâmicas do Teatro do Oprimido, que favorecem a reflexão, a troca, a expressão de sentimentos. Visitam bairros da periferia, exposições como a do Funk no Museu de Arte do Rio, escolas e unidades de saúde. Entrevistam moradores, estudantes, pacientes, trabalhadores de diversas áreas_ de merendeiras a profissionais de saúde_ visando ampliar o olhar, a escuta e a compreensão sobre diferentes modos de viver e perceber a saúde. São oportunidades para revisão de ideias preconcebidas. Nas aulas de preparação para as ações práticas, eles próprios criam as atividades que vão desenvolver, supervisionados pelas professoras e monitores. Há uma ênfase no protagonismo dos estudantes.
No primeiro semestre, realizam atividades nas escolas. No segundo, participam de atividades numa unidade de atenção primária e visitam uma maternidade que tem um importante trabalho de humanização e envolvimento dos pais/parceiros.
O trabalho está baseado num processo contínuo de ação e reflexão. Os estudantes são incentivados a expressar seus sentimentos e aprendizados em portifólios. O contato com o público afeta profundamente os estudantes. Ter que preparar atividades que promovam o interesse dos alunos das escolas e dos pacientes das unidades obriga-os a ouvir seus interesses e buscar estratégias de comunicação adequadas às diferentes culturas e necessidades. Sentem-se especialmente tocados pelo carinho com que são recebidos nas escolas e com a emoção dos pacientes que relatam enorme satisfação ao se sentirem ouvidos.
Infelizmente as atividades não afetam todos os estudantes da mesma forma, mas a maioria relata, nos portfólios, ampliação do olhar e da capacidade de escuta, revisão de preconceitos com relação ao público das escolas municipais e unidades do SUS, melhoria das habilidades de comunicação, criatividade, empatia e trabalho em equipe.
Nada substitui a vivência e o contato dos discentes da medicina com os estudantes das escolas e os pacientes das unidades. Isso ficou claro após dois anos online na pandemia de Covid19. Os professores dos anos subsequentes, que vinham relatando constante melhoria na postura dos estudantes, observaram mais dificuldades naqueles que não vivenciaram essas atividades práticas no primeiro ano. O processo reflexivo também precisa ser constantemente estimulado.