A Associação Ciranda da Cultura é uma iniciativa popular fundada em 1999 e autogerida pelos moradores de um bairro periférico da cidade de Londrina, e busca desde seu início a promoção de atividades de lazer, cultura, arte ? entre outras ? para a população da região. Trata-se de uma organização centrada na ideia da convivência comunitária, que busca trabalhar as questões sociais; durante a pandemia da COVID-19 teve sua atuação limitada, mas não encerrada. E apesar das intercorrências, em 20 de abril de 2024 foi comemorado um ano do (re)início da oficina de artes, conduzida pela oficineira Luana Eloá Rolim e Oliveira. Nesse sentido, foi elaborado coletivamente pelos estudantes e pela Prof. Drª Alejandra Astrid León Cedeño o curso de extensão PROA ? A Psicologia na Região Oeste A: Tecendo a rede no território, tendo como público-alvo os estudantes do 1° ano do curso de graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. O curso PROA tem duração de oito semanas ao todo, nas quais às sextas de manhã temos momentos de teoria, com convidados de diferentes atuações no campo da psicologia, atividades corporais relacionadas ao tema ou planejamentos de prática, e tempo para questionamentos e orientação em relação às partes práticas. E durante a semana os alunos participam de forma prática em uma ou mais frentes que escolherem ? acolhimento dos estudantes da ARI (Assessoria de Relações Internacionais), orientação profissional no CEPV (Curso Especial Pré-Vestibular da Universidade Estadual de Londrina) e/ou oficinas do Ciranda da Cultura. O curso teórico-prático parte dos pressupostos da psicologia comunitária de Maritza Montero, com a metodologia IAP (investigación-acción participativa), ou, em livre tradução, pesquisa-ação participante, que entende que a atuação do pesquisador vai além da função de mero observador, mas envolve participação no meio, na comunidade e intervenção na promoção de saúde, desde que tenha participação direta e protagônica da comunidade. É seguida a ideia do pesquisador-participante como alguém que está em trabalho constante com a comunidade, consigo e com sua equipe, que dedica tempo para conhecer as iniciativas que já existem na comunidade, que passa tempo e conversa com as pessoas, tendo como ponto de partida os princípios teóricos da psicologia comunitária latino-americana (união entre teoria e prática; transformação social como meta; poder e controle na comunidade; conscientização; socialização; autogestão e participação) somados aos princípios complementares da psicologia comunitária do cotidiano (a contradição somos nós; o direito à beleza; os muros invisíveis; potencialização; centralidade das relações; ajudar sem atrapalhar). Adiciona-se aqui também as noções de Peter Kevin Spink sobre a psicologia do cotidiano, que afirma que o pesquisador, o psicólogo, especialmente o que atua no campo da psicologia social, não se encontra em um patamar superior no que se refere ao conhecimento, ou à capacidade de lidar e solucionar os problemas que surgem na prática; mas sim que aqueles que estão no campo da psicologia social têm algo a contribuir assim como os demais integrantes da cotidianidade ? composta pelos lugares e micro-lugares. Assim, efetivando a promoção de saúde como aumento da potência da alegria, do vínculo e da elaboração da dor. Tendo em vista os pressupostos teóricos e metodológicos anteriormente citados, o curso de extensão foi pensado e elaborado estabelecendo três frentes majoritárias de atuação: CEPV ? a partir da realidade vivenciada por uma ex-aluna do CEPV e atual estudante de Psicologia, foram pensadas, em conjunto com uma estudante de Psicologia que já atuava no cursinho, formas de acolhimento e apoio que poderiam ser prestadas aos estudantes; desse modo, a partir de suas vivências, os graduandos abordam e auxiliam em diversas temáticas trazidas pelos alunos, como o vestibular, a escolha do curso e a universidade em si ?, ARI ? em parceria com a assessoria, foi proposta a frente de integração aos estudantes estrangeiros, vindos recentemente à universidade para a realização do curso de português para estrangeiros e futuramente ingresso em curso superior; nessa área os alunos de Psicologia, como parte integrante da comunidade da UEL, se propuseram a auxiliar, a partir de diferentes intervenções, na integração dessas pessoas a sua nova realidade, buscando sempre levar em consideração os diversos fatores relacionados a essa mudança e, consequentemente, tentando facilitar esse processo ? e Ciranda da Cultura ? que conta com seis oficinas: música, contação de histórias (ou leitura), artesanato, dança, brincadeiras e crochê, as quais foram pensadas a partir das disponibilidades e habilidades dos estudantes mas, de modo mais prioritário, dando enfoque para a necessidade e o desejo da população da região, composta em sua maioria por crianças que frequentam o espaço e as atividades; proporcionado um espaço de acolhimento e divertimento, permitindo o explorar das suas individualidades e o desenvolver dos seus talentos, mas acima de tudo trazer um espaço de segurança e interação para elas. As oficinas acontecem em três dias da semana: as de música e leitura às terças-feiras, artesanato e dança às sextas e aos sábados, a oficina de arte ? conduzida pela Luana, não sendo parte oficial do PROA ?, brincadeiras e crochê. As oficinas que ocorrem durante dias letivos iniciam por volta das 18h, às terças tendo um foco em musicalização, de acordo com o interesse das crianças ali presentes e na contação de histórias, em sua maioria a partir dos livros infantis disponíveis no Ciranda. Enquanto as ministradas de sexta já apresentam um direcionamento maior para confecção, por meio do artesanato, de objetos que possam ser utilizados para as brincadeiras e danças que ocorrem posteriormente, sendo sempre marcadas por estímulo à criatividade das crianças por meio da movimentação corporal. E aos sábados, o Ciranda costuma apresentar dois grupos: as crianças que participam das oficinas de arte, contando com utilização de diferentes materiais sempre tendo muita liberdade para criação, e da oficina de brincadeiras, marcada por jogos e momentos de utilização do parquinho na parte externa; e o segundo grupo é majoritariamente de mulheres que participam da oficina de crochê básico, iniciando elas nessa forma de artesanato. Durante as oficinas, as crianças, em especial, apresentam uma conexão com as pessoas que ministram as oficinas e dessa maneira sentem abertura para contar sobre suas vidas e dilemas. Demonstrando a importância do conceito de pesquisador-participante, afinal elas costumam oferecer muito carinho a quem se propõe a escutá-las e a reciprocidade é de extrema importância para a criação de vínculos. Por conta das oficinas contarem com vários oficineiros, é possível que o grupo de estudantes se distribua e ofereça atenção às diferentes demandas das crianças, como a timidez ou vontade de realizar atividades diferentes no momento. Situações como essa apontam para a relevância da arte na promoção de saúde, entendendo a arte como um movimento acolhedor, de livre expressão de si. Ao entrar em contato com a infância de maneira brincante, em tempos pós-pandêmicos de laços esfacelados, além do processo de saber e se conectar com novas pessoas e realidades, cria-se um olhar diferente para a psicologia, entendendo-a como uma ciência que tem como norte a possibilidade de experienciar a beleza e a alegria da vida. Há também a necessidade de atuação da psicologia (e dos psicólogos) para além da clínica ? no território, na rede ou na convivência comunitária, como bem coloca Liduína Amaro Brasil, coordenadora da Associação Ciranda da Cultura.