Apresentação: Tradicionalmente, o processo de ensino e aprendizagem era centrado nos saberes passados pelos professores, de forma vertical, em que o aluno, passivamente, recebia as informações sem fazer de fato parte do processo ou com estímulo para construir pensamento individual e crítico diante do exposto. Com a mudança de estruturas da sociedade, globalização, acesso a informações, esse modelo de aprendizado torna-se limitado. Pedagogos vêm desenvolvendo métodos de ensino que envolvam o estudo de maneira mais ativa, despertando raciocínio e pensamento crítico. As chamadas metodologias ativas, é um modelo de ensino-aprendizagem em que o aluno é o protagonista central, enquanto os professores são mediadores ou facilitadores do processo. A mesma lógica se adequa à educação médica, onde cada vez mais é cobrado que o médico se forme com raciocínio clínico, crítico, dinâmico, que dificilmente se desenvolve através do método tradicional. Nesse contexto, o Programa de Residência Médica da Escola de Saúde Pública da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus, com a oferta da Residência em Medicina de Família e Comunidade, visando formar médicos de famílias que tenham competência e habilidades sociais desenvolvidas, raciocínio clínico crítico e ampliado, reflexivo, com olhar abrangente para seu paciente, seu contexto e sua comunidade, desenvolve e estimula ativamente atividades teóricas que envolvam uso de metodologias ativas de ensino. Este relato tem como objetivo apresentar a experiência da perspectiva de residentes do Programa de Residência Médica em Medicina de Família da Escola de Saúde Pública de Manaus sobre os efeitos do uso de metodologias ativas em aulas teóricas. Desenvolvimento do trabalho: As aulas teóricas do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade acontecem todas as quintas feiras no período de 14h às 17h. Durante o primeiro semestre de residência as aulas são ministradas pelos preceptores do programa e no segundo semestre pelos residentes do primeiro ano, enquanto que as aulas do segundo ano são apresentadas pelos residentes que cursam este ano. Os temas das aulas são pensados para formar e habilitar um médico de família e comunidade com competências para ser resolutivo na atenção primária à saúde, contemplando seus atributos, como acesso, integralidade, longitudinalidade, coordenação do cuidado, orientação familiar, orientação comunitária e competência cultural. É informado com uma semana de antecedência qual será o tema da próxima aula, assim como livros, artigos, vídeos e filmes que são usados como referência. Como exemplo de temas temos: Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil, Política Nacional de Atenção Básica, Princípios da Medicina de Família e Comunidade (MFC) e MFC como especialidade médica, Integralidade, Método Clínico Centrado na Pessoa, Medicina Baseada em Evidências, Modelos de acesso na APS, dentre outros diversos temas que são importantes abordar para uma adequada formação em Medicina de Família e Comunidade. Tendo como fundamento o estímulo para serem desenvolvidas competências para a formação de um médico de família e comunidade, é incentivado que a aula seja programada predominantemente com metodologias ativas. Em alguns momentos, para abordar determinados assuntos, partes da aula são expositivas, mas sempre tentando incentivar a participação do residente. Dentre as metodologias que são usadas, as que têm mais destaque são: aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem baseada em times, sala de aula invertidas e simulações. Além disso, são usados recursos tecnológicos, como o site https://www.mentimeter.com/ e https://kahoot.it/, que possibilitam a interação do residente em tempo real com a atividade proposta. Ao final da aula, o coordenador envia para os residentes um questionário via Google Forms para que a aula seja avaliada quanto aos seus pontos positivos e negativos. Resultados: As atividades teóricas da residência focadas em uso de metodologias ativas como modelo de ensino e aprendizagem tem proporcionado o aumento do engajamento dos residentes de medicina de família e comunidade, tornando-os mais desinibidos, protagonistas e empoderados dos assuntos que são abordados. Além disso, é possível verificar melhoria na retenção de conhecimento quando comparado a aulas teóricas apenas expositivas, pois como as aulas que adotam esse método de aprendizado exigem leitura e conhecimento prévio, durante a aula a ideia é reforçar e consolidar os aprendizados adquiridos anteriormente. A aula teórica com uma metodologia que estimula mais os residentes, permite maior oportunidade de troca de experiências entre eles, que vivem diferentes desafios em seus campos de prática. Como fragilidade, esse método de ensino, que exige preparo prévio do residente, pode acabar sobrecarregando-o frente a outros compromissos que a residência exige ou estimula, como atividades individuais propostas pelos preceptores, atendimentos, grupos de atividade coletiva, eventos na Unidade de Saúde, projetos de pesquisa, ajustes administrativos, dentre outras tarefas. Assim como também há necessidade de saber discernir quais assuntos podem ser abordados com uso de metodologias ativas e quais necessitam de reforço teórico em aula, pois dependendo da complexidade do tema pode ser necessário que partes da aula sejam mais expositivas e explicativas. Para os preceptores e a coordenação do Programa de Residência, esse modelo beneficia a avaliação do desempenho do residente com base em seu engajamento nos estudos, participação na aula, conhecimentos prévios e adquiridos, e não somente com base em provas e notas. Outro ponto importante é o sistema de feedbacks adotado pelo Programa, pois permite que a cada aula pontos positivos sejam reforçados e negativos sejam trabalhados. Considerações finais: A partir do exposto, pode-se concluir que o modelo de ensino e aprendizagem através de metodologias ativas é eficiente, pois para formar Médicos de Família e Comunidade de forma que seja contemplado e explorado todas as competências necessárias, é recomendável que este que está em formação tenha oportunidade e estímulo para ser protagonista do seu aprendizado, e assim ser formado um profissional ativo e resolutivo, que alcança bons resultados em sua área de trabalho. Na Residência de Medicina de Família e Comunidade pela ESAP em Manaus, é possível ver o êxito a partir dos residentes já formados pelo programa, alguns inclusive trabalhando como preceptores da residência após a sua formação. Espera-se que ao longo da residência, com o uso da ferramenta de feedbacks, a prática de metodologias ativas seja incentivada e adaptada da melhor forma com base na turma a qual é aplicada, tendo em vista que cada turma da residência tem suas singularidades.