As residências multiprofissionais brasileiras voltadas para os profissionais de saúde foram promulgadas pela lei 11.129 de 2005, guiadas pelos princípios do SUS, a partir das necessidades do local ou região no qual o residente está inserido e abrangem as principais áreas das ciências da saúde, incluindo a enfermagem. A residência multiprofissional visa não somente estimular a competência e habilidades na assistência e gestão, como também a inserção do profissional no contexto e vivência interprofissional de modo a proporcionar significativamente a formação associada a qualificação na modalidade latu sensu. Desta forma, a reciprocidade entre as intervenções técnicas e a interação entre diversas categorias, estimula a resolução de problemas, ao agrupar vários saberes com um mesmo objetivo. Assim, tem-se por objetivo relatar as experiências vivenciadas pelo enfermeiro na residência multiprofissional em saúde coletiva, na APS, de modo a refletir sobre os aprendizados inerentes ao papel da enfermagem, impactos e dificuldades. Trata-se de um relato de experiência, com caráter retrospectivo, relativo às atividades desenvolvidas entre março de 2023 e março de 2024, produzido a partir da inserção do enfermeiro no programa de residência multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), contemplando o primeiro ano de residência. O enfermeiro como residente multiprofissional, assim como o enfermeiro da unidade básica, realiza consultas de enfermagem e os principais atendimentos de sua responsabilidade, conforme a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). A residência multiprofissional, no entanto, torna oportuno ao profissional e estimula a troca com outros saberes complementares na construção da Saúde Coletiva. Na assistência, cada profissional desenvolve suas competências no território, percebe-se que esse modelo de atendimento, e a troca contínua de saberes estimula maior aproximação com os usuários do SUS e teve uma repercussão positiva, pois a inserção desses profissionais, amplia significativamente o acesso à assistência. Durante o ano, foi permitido ao profissional residente enfermeiro a autonomia de executar práticas conforme os protocolos do município, adequando a assistência as necessidades da população e promover o acesso da população a saúde. A partir de um diagnóstico situacional de saúde, foi identificado que a população da área adscrita tratava-se principalmente de idosos e pessoas com doenças crônicas não transmissíveis que encontravam dificuldade de acesso ao serviço, deste modo, a proposta inicial discutida em reunião de equipe com ACS, médicos e enfermeiros, trouxe a ideia de resgatar uma atividade que não era executada na unidade desde o ano de 2020, as visitas domiciliares. Os profissionais há mais tempo no serviço, relataram que mesmo com residentes de medicina e enfermagem, não se encontrava tempo oportuno. Visando a melhoria do acesso, os profissionais dessas categorias reuniram-se com os residentes, construída a primeira proposta de agenda para atendimento domiciliar. Como se trata de uma conduta com muito impacto na qualidade de atendimento, a busca ativa trouxe ao serviço aqueles pacientes que estavam descompensados e necessitando de uma assistência primária, de modo que a visita ofereceu cuidados eficazes fora do ambiente da UBS. A visita domiciliar ser reintegrada abriu o leque para as atividades coletivas, também não executadas desde a pandemia, a participação de todos os profissionais nos grupos, promoveu a identificação de outras demandas e foi possível uma intervenção direcionada organizando e melhorando o fluxo de atendimento da APS. A presença multiprofissional permitiu que os profissionais se recordassem da capacidade de atendimento ampliado, promovendo uma completude de cuidados humanizados baseado nas condições socioculturais dos usuários. O profissional residente enfermeiro trouxe consigo conhecimentos e novas perspectivas que resultaram na melhoria dos processos de trabalho com o auxílio da troca de conhecimentos e interação direta com a equipe, assim, enriquecendo o ambiente e fortalecendo o serviço.Esse modelo pode se tornar positivo para os pacientes, em contrapartida, exacerbar a carga horária do enfermeiro, pois se acaba por receber uma frequência maior de pacientes e exige do profissional um maior serviço. Durante este ano, foi permitido o estímulo as visitas domiciliares que não eram realizadas devido a não existir tempo oportuno. Todas as agendas dos profissionais foram organizadas em um plano, de modo que os cuidados programados fossem executados, tal como o residente de enfermagem fazia. Além disso, as atividades coletivas com os usuários identificaram demandas individuais e foi possível trazer em um grupo montado pela residência, destinado aos diabéticos, informações sobre o fluxo de atendimento da APS. O enfermeiro residente inserido é preparado para gerir o cuidado integradamente, assumindo papéis educativos, orientativos de modo individual e coletivo, além de participar ativamente em pesquisa e inovações que podem melhorar as práticas de saúde na enfermagem. Assim, Éé de suma importância o acesso do profissional enfermeiro as nuances do serviço, todavia, nem sempre é possível realizar tais ações. A experiência contribuiu para o desenvolvimento de conhecimentos, e habilidades relacionadas às ações individuais e coletivas de promoção, prevenção e reabilitação de saúde. A inserção do residente nas equipes de saúde torna-se um desafio a ser superado. O profissional é visto como um estagiário complementar ao serviço, e não um enfermeiro capaz de atuar diretamente com o paciente. Fazem-se necessárias medidas para quebrar esses estigmas criados pela sociedade e até mesmo pelos próprios profissionais, e fazem-se necessárias medidas de sensibilização das equipes sobre o verdadeiro papel da residência que se mostra um excelente caminho de especialização.