O Projeto Xingu é um programa de extensão universitária que atua no Território Indígena do Xingu (TIX), desde 1965, vinculado ao Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O Projeto desenvolve ações de formação em saúde para profissionais indígenas e não-indígenas atuarem em contextos interculturais. Entre 2022 e 2023 foi realizado o curso AIDPI Comunitário em três polos base do TIX e na Terra Indígena Panará, todos localizados no Mato Grosso. Esse trabalho foi desenvolvido pelo Projeto Xingu em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e com os respectivos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI Xingu e DSEI Kayapó-MT).
A estratégia AIDPI (Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância) foi incorporada pelo Ministério da Saúde em 1996 e tem como objetivo reduzir a iniquidade na saúde infantil no mundo e, consequentemente, a mortalidade infantil. A estratégia é voltada para médicos e enfermeiros da atenção primária. O AIDPI Comunitário é voltado para profissionais técnicos e agentes de saúde, baseado em ações comunitárias e específicas de cada território.
Para melhor compreensão das demandas de saúde do TIX e T.I Panará, foi enviado um questionário online via Whatsapp para os profissionais indígenas de saúde de cada região. Com base nas respostas, em diálogo com a equipe do DSEI e do respectivo pólo base, elaborou-se a estrutura do AIDPI para cada região envolvida.
As diferentes ações educativas utilizaram a metodologia baseada na educação crítica e problematizadora, que parte da realidade cotidiana e busca fortalecer a participação e tomada de decisões junto aos povos indígenas, tornando-se um modo de atuação orientador da produção da saúde indígena nos territórios. Por meio dessa metodologia fundamentam-se as ações de educação em saúde em diálogo com a comunidade e o desenvolvimento do processo de educação permanente em saúde junto aos profissionais de saúde.
O envolvimento das equipes multiprofissionais de saúde indígena (EMSI) foi essencial para trazer os aprendizados no cotidiano do trabalho dos respectivos territórios, problematizando as questões locais de saúde. Os agentes indígenas de saúde (AIS) e agentes indígenas de saneamento (AISAN) mais experientes foram educandos e educadores, sendo monitores e apoiando o espaço de dúvidas em grupos.
Para a realização dos cursos, foi essencial a parceria com as escolas, associações indígenas e a comunidade. As instituições forneceram espaços, cozinha, utensílios, material e alimentos para os cursos; os professores indígenas contribuíram como facilitadores nos cursos e os jovens comunicadores realizaram o registro audiovisual. Deste modo, as diferentes ações do processo formativo envolveram toda a comunidade. Como resultado, 127 profissionais da saúde indígenas foram capacitados, entre AIS, AISAN e técnicos de enfermagem.
Conclui-se que a capacitação voltada aos profissionais de saúde dos DSEI são estratégias potentes que, por meio do diálogo com a comunidade, se integram contribuindo para promoção de saúde nos territórios indígenas. Apontamos que sua continuidade envolve as atividades de supervisão construídas junto com a EMSI, apoiando o respectivo Distrito e retomando os conteúdos da estratégia AIDPI.