Introdução: A OMS ao decretar o fim da emergência sanitária deflagrada pela denominada “doença do coronavírus” - covid-19, em maio de 2023, foi possível constatar que a “tempestade perfeita” se confirmou diante do colapso ocasionado pela demanda e desestruturação da rede de saúde, assim como do acometimento de sofrimento mental daqueles que se apresentavam na linha de frente, como os trabalhadores da UTI. Todavia, Antunes(2021) aduz que o “desgoverno bolsonarista” ao negar as orientações dos organismos internacionais em combater as desigualdades sociais, priorizando a preservação da humanidade em lugar dos interesses econômicos, instaurou um cenário de delírios, desinformação e desconfiança. Objetivo: Identificar a presença de sofrimento emocional e psiquiátrico entre os trabalhadores da UTI de um hospital público de alta complexidade, e sua relação com o processo de trabalho, a partir da percepção dos profissionais que labutavam no período pandêmico. Metodologia: Trata-se de um estudo de caso único (Hospital de Alta Complexidade Dr. Carlos Macieira), tendo como abordagem métodos e técnicas de análise qualitativa, envolvendo os atores que prestam seus serviços nas UTIs covid-19 em uma unidade localizada em São Luís-MA. A coleta dos dados contou com a aplicação de um roteiro de entrevista semi-estruturado realizada de forma presencial, entre os meses de janeiro a maio de 2023, nas UTIs da referida unidade hospitalar. As entrevistas contaram como a participação de sete profissionais, que aceitaram, na oportunidade, fornecer voluntariamente os relatos, permitindo que estes fossem gravados e, posteriormente, transcritos. Para a consolidação e análise dos dados foi utilizada a ferramenta Microsoft Excel 2019. Para colaborar na compreensão dos dados, buscou-se a fundamentação no arcabouço teórico. A pesquisa está em consonância com as diretrizes da Resolução 466/2012 do CNS, que regulamentam as pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi devidamente submetido ao Comitê de Ética do Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (HUOL/UFRN), tendo sua autorização obtida pelo Parecer Consubstanciado n.º 5.819.191, de 15 de dezembro de 2022, CAAE 65248722.0.0000.5292. Resultados: A pesquisa aponta postura de desleixo dos gestores públicos, despreparo das lideranças frente ao adoecimento mental da força de trabalho, assim como descuido e preconceito por parte dos trabalhadores em desvalorizarem hábitos preventivos acerca dos sinais e sintomas e adesão ao suporte especializado. Han (2021) postula que a classe operária é facilmente seduzida pelos ideais neoliberais do alto rendimento ao representar os anseios de sucesso e heroísmo ao terem os superpoderes de camuflarem suas dores e sofrimentos, anestesiando até as doenças psicossomáticas e conflitos interpessoais da vida. Conclusão: A pandemia revelou-se, enquanto crise sanitária, uma oportunidade perfeita para que o cuidado com a saúde mental dos trabalhadores da UTI, seja percebido, servindo de embasamento crítico acerca da gestão continuada dos recursos humanos que lida com o último suspiro dos pacientes e traduz como fracasso, de modo que possa desenvolver planos de educação permanente, protocolos operacionais padrões-POP que busquem minimizar os prejuízos no processo de trabalho e minimizar o esgotamento e sofrimento em prol da qualidade de vida digna.