Introdução: O tratamento dos transtornos alimentares (TAs) tem se mostrado um grande desafio para os profissionais de saúde, interrogando sua prática cotidiana e, consequentemente, sua formação. Para uma formação profissional que contemple a complexidade dos TAs, é necessário apoiar a construção teórica em uma prática clínica interdisciplinar. Objetivo: Apresentar o trabalho desenvolvido pela equipe interdisciplinar do Núcleo de Assistência e Pesquisa em Transtornos Alimentares (NAPTA). Métodos: O NAPTA oferece atendimento por equipe interdisciplinar formada por psicólogos de orientação psicanalítica, nutricionistas e psiquiatras, integrado às atividades de assistência da Policlínica Piquet Carneiro (PPC). São realizadas reuniões de equipe para discussão de casos, baseando-se na metodologia da construção do caso clínico (VIGANÓ, 2010). Trata-se de uma metodologia proposta a partir do referencial da psicanálise lacaniana, que toma o estudo do caso em suas particularidades, permitindo uma construção dos fatos que orientam a produção do saber por outros critérios, opondo-se a práticas baseadas em protocolos semiológicos e considerando a transferência como eixo clínico. É uma metodologia democrática que considera o paciente e as narrativas dos diferentes protagonistas que acompanham o caso, convocando a escuta da singularidade como manifestações do inconsciente. Resultados: A perspectiva psicanalítica acrescenta ao discurso biomédico a compreensão dos sintomas além dos critérios diagnósticos, deslocando as dificuldades com a comida e o corpo para a escuta e elaboração de um sofrimento subjetivo. Desse ponto de vista é preciso contextualizar a atuação dos profissionais de saúde que enfrentam enormes desafios na concretização dos ideais de uma clínica interdisciplinar para o tratamento de pessoas com TAs. Observamos que a discussão de casos em equipe desde a triagem até a alta supervisionada nos permite identificar os efeitos da escuta psicanalítica no trabalho interdisciplinar, localizando coletivamente resistências e transferências que ora facilitam, ora dificultam o trabalho e que podem ser melhor manejadas quando se tem um entendimento compartilhado sobre as lacunas de conhecimento que encontram-se presentes em todo tratamento dos TAs. Conclusão: A abordagem das problemáticas alimentares não se reduz a reprodução dos ensinamentos aprendidos em sala de aula, o que faz com que profissionais e estudantes identifiquem ausências significativas na formação, assim como uma insuficiência na produção científica relativa ao TAs que ultrapasse uma explicação mecanicista da vida e da alimentação e proponha alternativas inovadoras e consistentes (SEIXAS et al, 2020). A interdisciplinaridade ainda constitui um desafio na implementação dos princípios do SUS (MERHY, 1997), o que sinaliza o relevante papel da universidade em contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias em saúde, bem como na difusão delas.