ATRAVESSAMENTOS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA PLURALIDADE DO GESTAR

  • Author
  • Bárbara Ribeiro de Carvalho
  • Co-authors
  • Bruna Silva Chimello , Renata de Oliveira Santos , Gabriela Borsato Scaliante , Gabriela Garcia Degasperi , Júlia Padron Yoshioka
  • Abstract
  • O presente trabalho objetiva compreender as formas de violência que recaem sobre a maternidade, focado principalmente na violência obstétrica. A Organização Mundial da Saúde (OMS)  descreve a violência como imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis. Dessa forma, entende-se a violência obstétrica como uma das múltiplas formas de  violência. Localiza-se no final do século XIX um processo de mudança guiado por tentativas de controle do corpo biológico, partindo da obstetrícia, que transfere a gestação para uma prática médica, acarretando um manejo desnecessário e excessivo do corpo que gesta. Desde então,  intervenções percebidas como  desnecessárias são realizadas em nome de uma  impressão de que, quanto mais se intervém, mais se cuida.

    Dentro da escolha reprodutiva, garantida enquanto direito ao sujeito, a maternidade pode ainda ser experienciada tanto como expressão de empoderamento e realização, como também impotência e humilhação. Atravessa diretamente a experiência da maternidade, a conceitualização de família, sendo necessário demarcar sua localização histórica, social, cultural, psicológica e racial, atentando para a multiplicidade de configurações que podem ser abarcadas no escopo dessa noção. 

    A metodologia pela qual este  trabalho foi desenvolvido iniciou-se a partir de um ciclo de estudos no âmbito de uma Liga de Saúde, vinculada a um curso de Psicologia, envolvendo a leitura e discussão de textos sobre violência obstétrica contra as mulheres no Brasil, buscando debater as diferentes formas de maternidade existentes. Assim, a Liga abordou  o histórico da maternidade com seus múltiplos  recortes: sociais, econômicos, e raciais, com o intuito de propiciar um debate sobre as pluralidades envolvidas na maternidade, e se debruçou em compreender como diferentes tipos de violências obstétricas sofridas encontram ressonâncias nos contextos no qual as   mulheres estão  inseridas.

    A partir disso, percebe-se que a violência obstétrica contra a mulher no Brasil  perpassa  relações de poder que instituem a violação de, majoritariamente, corpos  negros, periféricos e que fogem à cisheteronormatividade. Tais relações se configuram desde os primórdios da colonização no país, em que se direcionava uma exclusividade da mulher para a maternidade, quase sempre compulsória e alheia à sua decisão. Assim, é possível notar o quanto essa noção empobrecida do corpo feminino como reprodutivo se mantém como forte mediador das relações entre mulher e sociedade.

     

    Por fim, conclui-se que a violência obstétrica atravessa vivências plurais de maternidade, entendendo que os marcadores sociais da diferença demarcam a especificidade da experiência, tanto do tipo de  violência sofrida quanto da gestação. Dessa forma, é indubitável a necessidade de se repensar sobre as práticas em saúde e a forma com que os profissionais vêm desempenhando suas atividades.

  • Keywords
  • Violência obstétrica, atravessamentos, maternidade plural
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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