RELAÇÃO ENTRE O ESGOTO E A INCIDÊNCIA DE DOENÇAS INFECCIOSAS EM COMUNIDADES RURAIS

  • Author
  • Gilberto Silva Almeida
  • Co-authors
  • Ana Clara Almeida Reis , João Pedro Donato de Almeida Santos , Mell Gabriely Prado Barbosa , Pedro Henrique Porto Lima , Elaine Santos da Silva , Cinoelia Leal de Souza
  • Abstract
  •  

    Apresentação: a preocupação com o saneamento e sua relação com a saúde da população está presente desde os povos mais antigos e, a partir da revolução industrial, os problemas de saúde decorrentes das más práticas sanitárias se intensificaram. Com isso, o saneamento básico é um conjunto de serviços fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico de uma região, sendo um dos direitos básicos garantidos pela Constituição da República Federativa Brasileira de 1988. Dentre os serviços que compõem o saneamento básico, destaca-se o manejo do esgoto sanitário, que possui uma íntima relação com a saúde e qualidade de vida das pessoas, representando uma questão de saúde pública e ambiental de extrema importância. Vale ressaltar que as águas residuais, constituintes de atividades domésticas, industriais e agrícolas, podem ser compostas por muitos contaminantes, incluindo patógenos capazes de causar doenças, produtos químicos tóxicos e nutrientes em excesso. Desse modo, a gestão inadequada pode resultar em contaminação da água, degradação das condições ambientais e a propagação de doenças infecciosas, como verminoses e dengue, resultando em condições de vida adversas e precárias. Nesse sentido, é evidenciada uma realidade preocupante na qual milhões de pessoas ao redor do mundo continuam enfrentando sérios obstáculos para obter um manejo adequado do esgoto. Essa escassez de acesso está profundamente ligada ao contexto geográfico e socioeconômico das comunidades afetadas. Nessa perspectiva, em regiões rurais, como aquelas encontradas no município de Guanambi, região do semiárido, interior do estado da Bahia, tais desafios são ainda mais evidentes devido à carência de orientação por parte da equipe de saúde, além da precária infraestrutura e das condições socioeconômicas desfavoráveis como baixos investimentos governamentais em infraestrutura nas áreas rurais, como a construção do esgotamento sanitário, contribuindo para que muitos moradores busquem por outras alternativas como a construção de fossas em seus domicílios, o que corrobora com a contaminação da água, degradação ambiental e propagação de doenças. Sendo assim, garantir o manejo e descarte adequado do esgoto é fundamental para proteger a saúde das pessoas e para preservar os recursos naturais para as próximas gerações. Portanto, a necessidade de ações urgentes para implementar políticas públicas e práticas eficazes neste contexto é fundamental para garantir o acesso ao esgoto adequado e melhorar a qualidade de vida da comunidade rural. Considerando entender a realidade da população rural, esse estudo tem como objetivo caracterizar o manejo do esgoto e a sua relação com a incidência de doenças infecciosas na comunidade rural do município de Guanambi, Bahia. Material e Método: tratou-se de um estudo qualitativo e quantitativo, de caráter descritivo e exploratório, que buscou descrever as características de uma determinada população. Essa pesquisa teve um número total de 85 pessoas com idade igual e/ou acima dos 18 anos, residentes da área rural e adscritos nos territórios das unidades de saúde da família do município de Guanambi-BA, localizado na região sudoeste no estado da Bahia. O total de habitantes da zona rural do município era de 16.268, no qual a escolha da amostra deu-se pelo método de amostragem probabilística sistemática. Para coletar os dados, realizou-se entrevistas embasadas em um questionário semiestruturado, que busca contemplar as informações dos aspectos sociodemográfico dos participantes e a percepção dos moradores sobre os impactos da água potável na saúde. Em relação ao tratamento e análise dos dados, os qualitativos baseiam-se nos princípios de Bardin, análise de conteúdo semântico, e os quantitativos pela ferramenta Microsoft Excel 2010R, para o cruzamento de dados. Esse estudo garantiu o sigilo em relação aos dados de identificação dos participantes a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário de Guanambi (UNIFG), sob o protocolo CAAE: 28724120.6.0000.5578. Resultados: a maioria dos participantes desse estudo era do sexo feminino,72%, na faixa etária de 18 a 93 anos, com predomínio de idade dos 41 a 60 anos, 39%, e com renda familiar variando de menos de um salário a três salários, sobressaindo a faixa de um salário-mínimo, 52%. Os resultados dessa pesquisa revelaram informações significantes a respeito do conhecimento populacional sobre o manejo do esgoto e as implicações da falta de orientação da equipe de saúde no aparecimento de doenças relacionadas ao esgoto não tratado. Cerca de 66% dos entrevistados não possuem saneamento básico e 33% não sabem o que é o saneamento e, em relação ao esgoto, todos os participantes alegaram não terem acesso à rede de esgoto pública. Apesar disso, 89% desses possuem algum tipo de fossa em domicílio, seja ela fossa séptica, fossa negra ou fossa seca. Durante a pesquisa, foi identificado que muitas dessas pessoas não consideram adequado o destino do esgoto de suas residências, 35%, sendo esses principalmente a fossa negra, 46%, seguida da fossa séptica, 41%. Se tratando das orientações sobre o manejo adequado do esgoto por parte dos profissionais de saúde, cerca de 93% da população rural afirmam que não há essas ocorrências por parte da equipe de saúde, consequentemente, 95% dessas pessoas afirmaram ter algum tipo de doença relacionada ao esgoto. Apesar de 48% dos usuários não saberem responder, as principais doenças preenchidas foram verminoses, 12%, e dengue, 15%. Além disso, em vista da falta de orientações a respeito do assunto, 84% dos entrevistados afirmaram que seguiriam as orientações da equipe de saúde sobre o manejo do esgoto, ressaltando a importância dessas como medidas profiláticas para evitar complicações e garantir o bem-estar local. Diante da análise dos dados, é notável que, apesar da maioria dos entrevistados compreenderem que o destino dos seus resíduos está inadequado, eles afirmam que não recebem orientações de saúde acerca do tratamento do esgoto residencial e suporte técnico para construção de fossas. Frente a essa realidade desafiadora, os residentes da zona rural necessitam de buscar soluções por conta própria, sendo que essas, na maioria dos casos, são executadas de maneira inadequada, favorecendo a exposição da população aos agentes patológicos de diversas doenças infecciosas e parasitárias. Por exemplo, a fossa negra, a forma de descarte mais utilizada, consiste em uma escavação sem nenhuma espécie de revestimento, facilitando a contaminação do solo adjacente, de águas subterrâneas e de rios próximos. Considerações finais: dessa maneira, as formas de gerenciar o esgoto estão intrinsicamente relacionadas ao processo de saúde-doença. Em virtude disso, essa questão impacta a qualidade de vida da população, e esse panorama acentua a vulnerabilidade e os riscos das comunidades de áreas rurais. Sendo assim, o cenário de fragilidade no manejo do esgoto em áreas rurais pleiteia a mediação de agentes que atuam na saúde pública. Logo, é importante a elaboração de planos de orientação os meios de descarte e tratamento do esgoto doméstico por meio das equipes de saúde das comunidades. Além disso, esses agentes públicos, juntamente com outros setores relacionados a essa questão, podem oferecer suporte técnico na construção e fiscalizar a manutenção das fossas, de modo que essas intervenções estejam em conformidade com a realidade local e considerem a participação da população nesse processo. Com efeito, busca-se, com isso, a minimização da incidência de doenças cujas causas estão ligadas à exposição de dejetos e a contribuição para a melhoria na qualidade de vida da população.

     
  • Keywords
  • Esgoto, zona rural, saneamento rural, qualidade de vida
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
Back