Apresentação
As populações ribeirinhas no Brasil enfrentam diversos desafios em sua vida cotidiana, sobretudo no que concerne ao acesso à saúde. Estudos demonstram que esses grupos, localizados em regiões remotas e de difícil acesso, sofrem com a falta de infraestrutura, serviços médicos e recursos básicos de saúde. A ausência de postos de saúde próximos e a dificuldade de locomoção agravam a vulnerabilidade dessas comunidades, expondo-as a uma variedade de problemas médicos, como doenças infecciosas e condições crônicas não tratadas.
Nesse contexto, a implementação de Unidades Básicas Fluviais de Saúde (UBFS) surge como uma solução inovadora para melhorar a qualidade de vida e o acesso a serviços médicos para as populações ribeirinhas. As unidades de saúde fluviais proporcionam acesso a serviços médicos essenciais em regiões de difícil alcance. Essas unidades, geralmente em forma de barcos equipados com consultórios e laboratórios, navegam pelos rios do Brasil, alcançando comunidades isoladas e oferecendo cuidados de saúde de qualidade. Elas atendem às necessidades médicas dessas populações, fornecendo desde consultas de rotina e atendimento odontológico até exames diagnósticos e vacinas. Essa atuação é vital para reduzir as disparidades de saúde entre as regiões urbanas e rurais, garantindo que os habitantes das áreas ribeirinhas tenham acesso a tratamentos preventivos e curativos. Além disso, essas unidades também desempenham um papel educacional, promovendo práticas de saúde preventiva e conscientizando as comunidades sobre temas relacionados à saúde, como nutrição e saneamento básico.
Por anos, as escolas médicas negligenciaram o conhecimento sobre a população ribeirinha, resultando em uma compreensão limitada das necessidades de saúde e das particularidades culturais dessas comunidades. Essa negligência levou a uma abordagem de saúde generalista, desconsiderando fatores cruciais como a localização geográfica, as condições socioeconômicas e o estilo de vida específico dessas populações. Essa falha na educação médica tradicional também contribuiu para a falta de profissionais qualificados e preparados para atender as demandas dessas áreas, perpetuando disparidades de saúde entre regiões urbanas e rurais. Além disso, a negligência na formação médica em relação às populações ribeirinhas impede uma resposta efetiva às suas necessidades, dificultando a implementação de estratégias de saúde mais abrangentes e sensíveis à cultura.
A sensibilização dos estudantes de medicina para as realidades das populações ribeirinhas é fundamental para garantir uma abordagem mais humanizada e inclusiva na prática médica. Através de aulas que integram imagens e narrativas de vivências dessas comunidades, é possível despertar um um senso mais profundo de empatia e compromisso social nos futuros profissionais de saúde. Essa abordagem não apenas influencia a forma como os alunos pensam, mas também os motiva a compreender o contexto sociocultural de seus pacientes, enriquecendo suas práticas futuras.
Objetivo
Descrever a experiência de uma aula inovadora para o sétimo período da graduação em Medicina, com a narração de histórias sobre as populações ribeirinhas através da exposição de imagens.
Metodologia
Visando a construção de um conhecimento científico criativo na educação médica, foi adotada uma abordagem que enfatiza o relato de experiências exitosas. Através da observação de imagens de experiências e relatos de profissionais que tiveram sucesso em suas práticas médicas, foi possível criar um arcabouço prático e teórico para a formação de novos médicos. Esses relatos fornecem exemplos concretos e aplicações reais que ajudam a consolidar o aprendizado, estimulando a criatividade e a inovação no campo médico. A metodologia incluiu a seleção de imagens relevantes e a sua análise minuciosa, considerando fatores contextuais, como o perfil sociocultural dos pacientes, as estratégias adotadas pelos profissionais e os resultados obtidos por eles.
Resultados
A apresentação teórica dialogada contou com a exposição de 15 imagens sobre a população ribeirinha brasileira, com ênfase em aspectos culturais e médicos. Mostrou-se uma abordagem altamente eficaz na formação de estudantes de medicina do sétimo período. Imagens de curandeiros e rezadeiras, bem como das unidades de saúde fluviais e palafitas, foram exibidas, destacando a diversidade cultural e a resiliência dessas comunidades frente aos desafios. Ao longo da apresentação, a história dessas populações foi contada de maneira envolvente, abordando as enchentes e as secas que afetam a região. Nesse sentido, foi enfatizado o respeito pelas águas e pela natureza e a maneira desafiadora de como a promoção da saúde foi levada a esses rincões remotos do Brasil.
O sucesso dessa experiência está ligado à competência cultural dos médicos que se aventuraram a cuidar dessas populações, compreendendo suas tradições e práticas de saúde alternativas, e estabelecendo uma relação de confiança. Essa abordagem humanizada foi enfatizada na aula, destacando a importância de médicos culturalmente sensíveis que reconheçam e respeitem as práticas e crenças locais. Através dessas imagens e histórias, os estudantes puderam compreender melhor a realidade da população ribeirinha e a importância de uma metodologia médica inclusiva. Esse método demonstrou que é possível formar médicos diferentes e empáticos, desde que haja docentes empenhados em inspirar e envolver os alunos. Logo, o uso de imagens e relatos proporciona uma compreensão mais profunda do contexto sociocultural, preparando os futuros médicos para atender de maneira mais completa e humana as diversas populações do Brasil.
A lacuna ressaltada aponta para a necessidade de uma reforma nas escolas médicas, incorporando uma educação que não apenas aborde as necessidades específicas das populações ribeirinhas, mas também promova uma prática de saúde inclusiva e equitativa. A incorporação de disciplinas que explorem a diversidade cultural e os determinantes sociais da saúde das comunidades, pode ser fundamental para formar médicos que estejam verdadeiramente preparados para atender às demandas de uma população marginalizada. Essa abordagem educacional não só enriqueceria a formação dos futuros profissionais de saúde, mas também contribuiria significativamente para reduzir disparidades no acesso e na qualidade dos serviços de saúde.
Conclusão
O manejo das aulas tradicionais sobre temas não convencionais é capaz de despertar a sensibilidade dos alunos, mesmo em uma era de valorização das metodologias ativas. A apresentação de imagens e relatos, incorporando histórias das comunidades ribeirinhas brasileiras, mostrou-se uma alternativa metodológica eficaz e envolvente para abordar a saúde e cultura dessas populações. Essa estratégia permitiu aos estudantes uma compreensão mais profunda e empática do contexto sociocultural de diferentes grupos, mesmo sem uma abordagem ativa ou interativa em sala de aula. Nessa perspectiva, as aulas tradicionais, quando bem estruturadas, podem funcionar como uma alternativa viável para abordar temas relevantes e irreverentes, especialmente quando há pouco tempo disponível. Através de narrativas envolventes e exemplos práticos, é possível prender a atenção dos alunos e proporcionar-lhes uma experiência de aprendizagem significativa, capacitando-os a entender e atender às necessidades de diferentes populações.
Portanto, mesmo em tempos de metodologias ativas, as aulas tradicionais possuem seu papel fundamental, sendo responsáveis por promover o envolvimento e a sensibilização dos estudantes, contribuindo para uma formação médica mais inclusiva e humanizada. Essa abordagem é particularmente útil para temas complexos ou urgentes, garantindo que os futuros profissionais estejam preparados para atuar de maneira completa e eficiente.