PERCEPÇÃO DOS MORADORES DA ZONA RURAL SOBRE ÁGUA POTÁVEL E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE

  • Author
  • Ana Clara Almeida Reis
  • Co-authors
  • Gilberto Silva Almeida , João Pedro Donato de Almeida Santos , Mell Gabriely Prado Barbosa , Pedro Henrique Porto Lima , Elaine Santos da Silva , Cinoelia Leal de Souza
  • Abstract
  • Apresentação: a água potável é um recurso vital que transcende a mera satisfação das necessidades fisiológicas básicas. Ela é um alicerce essencial para a saúde, a dignidade e o desenvolvimento humano. A Declaração Universal dos Direitos da Água, promulgada pela ONU em 1992, destaca a importância intrínseca desse recurso ao reconhecê-lo como um direito humano fundamental. Esse reconhecimento vai além da mera acessibilidade física à água, ressaltando a necessidade de um acesso equitativo e sustentável, em harmonia com os princípios da justiça social e da igualdade. A interconexão entre água potável, saúde e bem-estar é o foco nesse debate, pois a água limpa não apenas mata a sede, mas também é uma barreira essencial contra doenças transmitidas pela água contaminada, como cólera, diarreia, hepatite A e verminoses, dentre outras, que continuam a representar sérias ameaças à saúde pública ao redor do mundo. Sabe-se que a garantia de acesso regular à água potável é, portanto, uma medida preventiva fundamental na proteção da saúde e no combate à propagação de doenças evitáveis. Outrossim, a realidade é que milhões de pessoas ainda enfrentam desafios significativos no acesso à água potável, o que se relaciona intrinsecamente ao contexto geográfico e socioeconômico das comunidades. Em áreas rurais, esses desafios são particularmente pronunciados devido à escassez de recursos hídricos, à falta de infraestrutura adequada e às condições socioeconômicas desfavoráveis. No contexto específico da região nordeste, sobretudo do semiárido baiano, essas comunidades rurais enfrentam desafios devido aos períodos prolongados de estiagem, que torna ainda mais precário o abastecimento de água. Vale ressaltar que essa realidade é agravada por problemas estruturais da região, como a falta de investimentos pelos municípios em sistemas de abastecimento de água e tratamento de efluentes, por isso, esses fatores contribuem para uma situação em que muitos moradores recorrem a fontes não tratadas ou distantes, comprometendo a qualidade e a segurança da água que consomem. Diante desses desafios, é imperativo adotar abordagens integradas que tratem não apenas a disponibilidade física da água, mas também as questões sociais, econômicas e ambientais associadas ao acesso à água potável. É importante considerar a necessidade de políticas públicas eficazes que priorizem a equidade no acesso, a sustentabilidade dos recursos hídricos e a promoção da saúde e bem-estar das comunidades. Nessa perspectiva, o presente estudo buscou investigar a percepção dos moradores da zona rural do município de Guanambi, Bahia, sobre água potável e seus impactos na saúde. Material e Método: tratou-se de um estudo qualitativo e quantitativo, de caráter descritivo e exploratório, que buscou descrever as características de uma determinada população. Essa pesquisa teve um número total de 85 pessoas com idade igual e/ou acima dos 18 anos, residentes da área rural e adscritos nos territórios das unidades de saúde da família do município de Guanambi-BA, localizado na região sudoeste no estado da Bahia. O total de habitantes da zona rural do município era de 16.268, no qual a escolha da amostra deu-se pelo método de amostragem probabilística sistemática. Para coletar os dados, realizou-se entrevistas embasadas em um questionário semiestruturado, que busca contemplar as informações dos aspectos sociodemográfico dos participantes e a percepção dos moradores sobre os impactos da água potável na saúde. Em relação ao tratamento e análise dos dados, os qualitativos baseiam-se nos princípios de Bardin, análise de conteúdo semântico, e os quantitativos pela ferramenta Microsoft Excel 2010R, para o cruzamento de dados. Esse estudo garantiu o sigilo em relação aos dados de identificação dos participantes a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário de Guanambi (UNIFG), sob o protocolo CAAE: 28724120.6.0000.5578. Resultados: os participantes desse estudo eram em sua maioria do sexo feminino, 72%, com a faixa etária de 18 a 93 anos, com predominância na idade de 41 a 60, que correspondeu a 39%, seguido da de 26 a 40, com 28% respectivamente. Em relação à escolaridade, cerca de 36% das pessoas afirmaram ter o ensino médio incompleto e apenas 1% tem o ensino superior completo. Os resultados da pesquisa revelaram uma série de informações importantes sobre o acesso e o conhecimento da população em relação à água potável e sua segurança. Cerca de 53% dos entrevistados não foram capazes de definir adequadamente o que é água potável, enquanto apenas 47% demonstraram compreensão sobre o assunto. Quando se trata de acesso à água encanada, constatou-se que aproximadamente 44% dos participantes não têm acesso a esse tipo de fornecimento, optando por adquirir água de outras fontes. Em contrapartida, 66% afirmaram ter acesso a água potável, indicando uma discrepância entre os que possuem acesso ao recurso e os que reconhecem sua qualidade. Quanto ao conhecimento sobre as fontes de abastecimento de água para suas residências, cerca de 73% dos entrevistados afirmaram conhecê-las, enquanto 27% não souberam identificá-las ou não tinham essa informação disponível. Em relação aos riscos à saúde associados à água não tratada, quase todos os entrevistados, 92%, reconheceram que o consumo de água sem tratamento pode gerar doenças, sendo que 21% demonstraram conhecimento específico sobre as principais enfermidades relacionadas, como diarreia e verminoses. Pode-se identificar que cerca de 39% dos entrevistados relataram receber orientações sobre medidas de tratamento e uso da água para consumo por parte das equipes de saúde, evidenciando uma lacuna na prestação de informações cruciais. Apesar disso, uma proporção significativa da população, 85%, demonstrou estar disposta a seguir as orientações dos profissionais de saúde quando se trata de questões relacionadas à água, o que indica uma receptividade positiva às intervenções educativas. Por fim, aproximadamente um quarto dos entrevistados, 25%, relatou casos de doenças associadas ao consumo de água em suas residências, como verminoses, diarreia e hepatite A, ressaltando a importância de medidas preventivas e de conscientização para garantir a segurança hídrica e a saúde pública dessa parcela específica da população. Considerações finais: notou-se a complexidade e a importância desse tema, uma vez que a água potável não é apenas um recurso físico, ela carrega consigo uma gama de significados sociais, econômicos e ambientais que impactam diretamente a qualidade de vida e o bem-estar das comunidades. Os dados revelaram lacunas significativas no acesso à água potável e no conhecimento sobre sua importância e segurança. A falta de compreensão sobre o que é água potável reflete em uma carência de orientações adequadas sobre tratamento e uso da água, o que demonstra a necessidade urgente de intervenções educativas e ações eficazes relacionados a participação da comunidade na gestão responsável dos recursos hídricos, especialmente no que se refere as doenças associadas ao consumo de água em algumas residências. Dessa forma, os resultado desse estudo destacou a necessidade de abordagens que priorizem o acesso equitativo e sustentável à água potável, a promoção da conscientização e educação sobre sua importância e segurança, e o fortalecimento da infraestrutura e das políticas públicas voltadas para a gestão responsável dos recursos hídricos, pois essas ações são essenciais para garantir um futuro mais justo, saudável e sustentável para todas as comunidades, especialmente aquelas em áreas rurais com desafios específicos de acesso à água potável.

  • Keywords
  • Água potável, zona rural, promoção de saúde, recursos hídricos
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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