Apresentação: A execução de programas de gerenciamento de antimicrobianos (PGA) representa uma iniciativa para atenuar a utilização desses medicamentos, o que fornece maior segurança à saúde pública, uma vez que atua na promoção de ações e atividades que visam o combate à resistência microbiana. Entretanto, hospitais alocados em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, apresentam diversos desafios para o sucesso da implementação de um PGA efetivo. Sendo assim, conhecer a realidade desse cenário representa importante medida estratégica para implementação de um programa resolutivo nas instituições de saúde. Dentre às instituições de saúde que o PGA se faz necessário, enquadra-se a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), local em que encontra-se inúmeros pacientes de alta complexidade que, além dos quadros graves, são indivíduos mais suscetíveis a infecções nosocomiais, tendo em vista o número de procedimentos invasivos os quais são submetidos e à exposição desses a diversos microrganismos, necessitando o maior uso de antimicrobianos de diferentes classes. Assim, a administração segura desses medicamentos, bem como medidas de controle de infecção são imprescindíveis para a utilização mais efetiva desses fármacos. Sendo assim, tendo em vista a necessidade de conhecer os desafios do PAG e de instaurar um planejamento resolutivo na implementação desse programa, atividades de educação sobre a prescrição de antibióticos, bem como, as bactérias resistentes a estes, tornam-se elementos centrais para a promoção do uso adequado de antimicrobianos nos hospitais e na comunidade. Podem ser empregados diferentes métodos como palestras, cartazes, folhetos, boletins informativos e comunicação eletrônica com seções sobre o uso de antibióticos, que tornam-se mais efetivos quando combinados com intervenções dos PGA e por meio da mensuração e interpretação dos resultados. Dessa forma, ações de educação para o uso correto e adequado de antimicrobianos de pacientes e de seus acompanhantes por profissionais da saúde em instituições hospitalares caracteriza uma importante maneira de fomentar esses programas, as quais podem ser disseminadas mediante orientações específicas e engajamento de uma equipe multiprofissional. Objetivo: Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi verificar o quantitativo de instituições brasileiras com Unidades de Terapia Intensiva Adulto que possuem o PGA implementado que desenvolvem iniciativas educativas direcionadas a pacientes e acompanhantes, visando instruí-los sobre a correta utilização de antimicrobianos. Desenvolvimento do trabalho: A metodologia utilizada para a condução do estudo foi por meio de análise quantitativa. O estudo caracterizou-se como prospectivo, transversal e multicêntrico. Para a realização da coleta de dados, foi disponibilizado questionário pelo aplicativo de gerenciamento de pesquisas Google Forms, no site institucional da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A coleta ocorreu entre os meses de outubro de 2022 a janeiro de 2023, e o instrumento foi preenchido pelos hospitais brasileiros que possuíam Unidades de Terapia Intensiva Adulto (UTI) e com o PGA implementado, de forma voluntária. A adesão ao programa de educação para pacientes e acompanhantes foi mensurada e avaliada de acordo com as respostas obtidas por meio de quatro questões da seção do componente educação do questionário. O grau de efetivação do PGA foi quantificado conforme os parâmetros de avaliação delineados na Diretriz Nacional para a Elaboração do PGA do Uso de Antimicrobianos em Instituições de Saúde da ANVISA, que estabelece o nível de desenvolvimento classificado como Inadequado (pontuação de 0 a 239 - sem programa de gerenciamento do uso de antimicrobianos implementado ou com a implementação dos elementos essenciais deficiente); Básico (pontuação de 240 a 509 - elementos essenciais do PGA estão estabelecidos com algumas ações estratégicas, mas não estão suficientemente implementados); Intermediário (pontuação de 510 a 724 - maioria dos aspectos essenciais do programa estão adequadamente implementados contemplando as ações estratégicas) e Avançado (pontuação de 725 a 1020 - as ações estratégicas dos componentes essenciais estão completamente implementadas). Aprovou-se o estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNISC, sob parecer 3.017.507 e o mesmo foi conduzido com a colaboração da ANVISA e da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), por meio do Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde. Resultados: O total de hospitais brasileiros com UTI adulto são de 1.982 e 1.170 preencheram o formulário de avaliação, correspondendo a 59%. Desses, 594 (50,8%) responderam que possuem o PGA implementado. Dentre as regiões brasileiras, o maior número de hospitais com PGA implementado que responderam ao questionário estão localizados na Região Sudeste (38,7%) e na Região Sul (22,9%), com destaque para os estados de Minas Gerais (30%) e Paraná (55,1%). Quando questionado se a instituição possuía um programa de intervenção educativa direcionada a pacientes e acompanhantes visando instrução acerca da utilização apropriada de antimicrobianos, 19 (3,2%) dos hospitais afirmaram que sim, sendo 1 (5,3%) da região Centro-Oeste, 3 (15,8%) da Nordeste, 4 (21%) da Norte, 5 (26,3%) da Sudeste e 6 (31,6%) da região Sul, destacando que, apesar do estado de Minas Gerais ter apresentado o maior número de hospitais respondentes, somente um respondeu positivamente a essa questão. Dentre as instruções acerca do uso de antimicrobianos dadas aos pacientes, familiares e/ou cuidadores pela instituição de saúde, as mais prevalentes foram: 18 (94,7%) Indicação do antimicrobiano; 17 (89,5%) via de administração; 15 (78,9%) posologia; 17 (89,5%) tempo de tratamento; 16 (84,2%) Cuidados que devem ser tomados durante o tratamento. Entre os respondentes, 100% dos participantes do estudo implementam iniciativas voltadas para a instrução dos pacientes e acompanhantes acerca da correta utilização de antimicrobianos. Adicionalmente, 13 hospitais (68,4%) disponibilizam material impresso, providenciando orientações sobre a utilização adequada de antimicrobianos direcionados aos pacientes e seus acompanhantes. Em relação ao nível de implementação dos programas de gerenciamento de antimicrobianos, 18 (68,4%) encontravam-se em nível avançado e um (%) em nível básico de acordo com a pontuação obtida por meio das questões do formulário de avaliação. Considerações finais: Com base nos resultados obtidos, embora grande parte das instituições participem do PAG, observa-se um número reduzido de hospitais que desenvolvem ações de educação a pacientes e familiares sobre o uso correto de antimicrobianos. Nesse viés, são necessárias estratégias para ampliar o número de instituições que promovam essas ações de educação, uma vez que hospitais constituem o núcleo principal nos programas de gerenciamento de antimicrobianos. Cabe salientar que medidas para a promoção dessas ações são atribuídas também à equipe multidisciplinar, no que tange à confecção de materiais de educação e à abordagem clara e objetiva para com os pacientes e seus familiares quanto a administração correta e responsável dos antimicrobianos.