Apresentação: As infecções sexualmente transmissíveis, como a sífilis gestacional (SG) e a sífilis congênita (SC), representam desafios significativos para a saúde global, com impacto particularmente grave nos países em desenvolvimento. Em 2013, cerca de 1,9 milhão de mulheres grávidas foram diagnosticadas com sífilis, com aproximadamente 25% desses casos ocorrendo na América Latina. Desde 2015, a incidência de sífilis congênita nas Américas tem sido significativamente influenciada pela taxa crescente de casos no Brasil, que responde por 85% dos casos no continente. No contexto brasileiro, a situação da sífilis gestacional e congênita é particularmente preocupante, com o país enfrentando desafios persistentes na prevenção e tratamento dessas condições, especialmente em regiões como o Nordeste e o estado da Bahia. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi analisar o perfil epidemiológico das mulheres com sífilis gestacional e dos conceptos com sífilis congênita na Bahia no período de 2012 a 2021. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de estudo epidemiológico descritivo onde foram analisadas todas as notificações de sífilis gestacional e sífilis congênita do estado da Bahia, no período de 2012 a 2021, com base nas Fichas de Notificações de Sífilis Gestacional e nas Fichas de Notificações/Investigações de Sífilis Congênita disponibilizadas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O banco de dados foi obtido a partir do site do Datasus. Foram calculadas as incidências e as frequências absolutas e relativas das variáveis constantes nas fichas. Resultados: No período analisado foram notificados 21.500 casos de SG e 9.893 casos de SC. As taxas de incidência apresentaram um aumento entre os anos de 2012 e 2018, com posterior queda. As macrorregiões de saúde que apresentaram o maior número de casos foram a Leste e Sul para a SG e a Leste e Centro-Leste para a SC. A SG foi mais frequente em mulheres negras, de 20 a 39 anos e com escolaridade até o ensino fundamental completo, tendo sido diagnosticadas principalmente no terceiro trimestre de gestação. Com relação à SC, esta foi mais frequente em crianças de 0 a 6 dias, do sexo feminino e negras, sendo que 1,4% vieram a óbito pela sífilis. As mães dessas crianças tinham entre 20 e 39 anos, com escolaridade até o ensino fundamental completo, uma em cada quatro não realizou o pré-natal, mais da metade não fizeram adequadamente o tratamento e a maioria dos parceiros não foram tratados. Considerações finais: O presente estudo evidenciou, portanto, um aumento significativo nas taxas de incidência da sífilis gestacional e congênita na Bahia entre 2012 e 2018, seguido de uma tendência de redução a partir de 2019, demonstrando a necessidade de estudos que compreendam os motivos dessa queda. A análise das características dos casos notificados demonstra que estes agravos afetam principalmente as camadas mais vulneráveis da população e que as ações de prevenção e tratamento apresentam falhas, demonstrando a necessidade de investimento na qualificação dos profissionais bem como o fortalecimento da Atenção Básica a fim de garantir o acesso universal à saúde e a redução das desigualdades sociais e raciais no acesso à saúde.