Do hospital à rede ambulatorial especializada: compreensão do itinerário terapêutico dos usuários para formação de um residente multiprofissional da área hospitalar com ênfase na gestão do cuidado

  • Author
  • Jefferson Nunes dos Santos
  • Co-authors
  • Anne Karolyne Santos Barbosa , Camila Alves Caetano , Luciane Patriciana da Silva dos Santos , Janaína Mendes Lopes , Bruna Maria Bezerra de Souza , Joel Azevedo de Menezes Neto
  • Abstract
  • O Sistema Único de Saúde (SUS), constitui-se para além do que se já conhece na sociedade de seus princípios e diretrizes centrados na saúde e bem-estar, possibilidades de aprimoramento e desenvolvimento de novas modalidades e estratégias de formação de profissionais da área da saúde. Nessa perspectiva, ao se falar em especializações, como as residências multiprofissionais, percebe-se uma estruturação de formação no SUS e para o SUS, focalizando suas bases curriculares em temáticas focadas na diversidade, complexidade e singularidade dos indivíduos. Atualmente, existem diversos programas de residência direcionados aos diferentes níveis de atenção à saúde. Isso permite que o profissional em especialização, conheça a fundo a complexidade assistencial do nível de atenção do seu programa, porém, a depender da estruturação curricular, a construção do conhecimento do itinerário terapêutico que os usuários realizam até chegar àquele nível, nem sempre é compreendido. Visto isso, este estudo objetiva relatar a experiência de um profissional da enfermagem pós-graduando do programa de residência multiprofissional de atenção hospitalar com ênfase em gestão do cuidado na realização de atividades assistenciais de um ambulatório de estomaterapia integrante à rede assistencial de uma regional de saúde de Pernambuco. A referida pós-graduação, originou-se em 2010, contabilizando 14 anos de existência. Nesse período, já foram formados 101 profissionais de diversas áreas, sendo elas: Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia e Serviço Social. Anualmente, são oferecidas dez vagas no total, sendo duas para cada categoria profissional mencionada anteriormente. O objetivo do programa em formar profissionais na perspectiva da gestão do cuidado está pautado na perspectiva da atenção integral à saúde, sintonizada com o cenário do SUS e com suas políticas de estruturação de rede, pactuada entre diferentes atores. Portanto, o programa estabelece como “modus operandi” a atuação de forma integrada e interdisciplinar sob a perspectiva da gestão do cuidado. Com isso, busca atender integralmente os indivíduos, desenvolvendo ações de intervenção multidisciplinares, a partir do hospital como ponto de conexão de um sistema público de saúde. A gestão do cuidado, por sua vez, se traduz como o somatório de decisões quanto ao uso de tecnologias (duras, leves e leveduras), de articulação de profissionais e ambientes em um determinado tempo e espaço, que tenta ser o mais adequado possível às necessidades de cada usuário. Logo, contempla ações que percorrem desde o planejar e prestar assistência a cada usuário até o monitoramento dos resultados do cuidado a curto, médio e longo prazo. Além disso, a gestão do cuidado tem foco tanto em uma unidade, como na trajetória do usuário na rede de saúde. Dessa forma, considera questões que demandam planejamento de recursos (físicos, materiais, de organização da força de trabalho), adoção de dispositivos, ferramentas e regulamentos, avaliação da qualidade das ações empreendidas e, por fim, correção das insuficiências, com formulação de novos planos e propostas de cuidado. Visto isso, apesar da residência situar-se, primordialmente, em contexto hospitalar, permite aos seus residentes vivenciar campos de atuação que englobam o itinerário terapêutico dos usuários, sendo a rede ambulatorial especializada, um desses pontos. O local em questão, trata-se de um ambulatório de Estomaterapia, coordenado por um enfermeiro estomaterapeuta, que já é preceptor, tutor e docente do programa. O ambulatório é focado na prestação da assistência em saúde para usuários com feridas agudas, complexas e de difícil cicatrização, além de estomas (traqueostomias, gastrostomias, ileostomias, jejunostomias, colostomias, cistostomias e urostomias) e incontinências urinária e fecal de diversas etiologias. Além disso, constitui-se como referência para todos os níveis assistenciais que integra a Rede de Atenção à Saúde (RAS) municipal, visto que recepciona os usuários dos mais diversos serviços de saúde, perpassando desde a Estratégia de Saúde da Família (ESF), HomeCare, Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), Centros de Atenção Psicossocial, Unidades de Pronto Atendimento, outros ambulatórios/clínicas particulares até a rede hospitalar. Dado a isso, as ações de saúde executada pelo residente neste local, se concretizam pelo acolhimento do usuário no ambulatório, seja ele, referenciado pela unidade hospitalar ou por outros componentes da RAS, conhecimento do histórico de saúde que o levou até a necessidade do acompanhamento ambulatorial, além da compreensão do contexto socioeconômico e familiar. Para mais, o residente de enfermagem ainda atua na prestação da assistência direta e indireta ao problema de saúde do usuário, seja a ferida, o estoma ou as incontinências, possibilitando o gerenciamento do cuidado dispensado ao usuário, com vistas para a utilização dos melhores correlatos, coberturas e dispositivos terapêuticos para a singularidade do usuário. Além disso, apesar do ambulatório de estomaterapia ser uma área específica da categoria da enfermagem, o que justifica que neste espaço, apenas o residente de enfermagem engloba a equipe do ambulatório, a logística de cuidado ainda é na perspectiva multiprofissional. Visto que a gestão de feridas, estomas e incontinências possuem etiologia multicausal. Dessa forma, casos de maior complexidade ainda contam com a colaboração das diversas categorias assistenciais que se aliam na construção de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), que englobam demandas psicossociais, nutricionais, fisioterapêuticas e cuidados com a saúde e qualidade de vida com metas de curto e longo prazo que abrangem a importância da referência e contrarreferência. A relevância dessa atuação está centrada no conhecimento da realidade vivenciada pelos usuários, pois, o hospital nem sempre consegue garantir a integralidade do cuidado, visto que suas ações se centralizam na recuperação de saúde a curto prazo. Com isso exposto, conclui-se que o método organizacional da residência em gestão de cuidado atrelado a logística de funcionamento do ambulatório, unem-se como dispositivos potencializadores da construção de conhecimento e formação do residente na concepção do que é cuidado integral no SUS. Portanto, isso contribui diretamente para o desenvolvimento de uma visão mais ampla do indivíduo, que agrega seus aspectos físicos, psíquicos e sociais, entre outros. Além de estabelecer elos na incorporação da produção de cuidados em saúde às diferentes necessidades dos usuários e o contexto em que estas necessidades de saúde são produzidas, correlacionando práticas, saberes e habilidades que incluem o estabelecimento de vínculos, a responsabilização pelo usuário, o acolhimento, a escuta, além do emprego de conhecimentos específicos e limites de atuação de cada categoria profissional. Por fim, pontua-se o desempenho de uma atuação pautada na lógica dos modelos alternativos de atenção à saúde focados na clínica ampliada, transpassando os limites do assistencialismo biomédico, garantindo-se a qualificação do modo de se fazer saúde.

  • Keywords
  • Hospital, Serviços Ambulatoriais de Saúde, Formação Profissional em Saúde, Programas de Pós-Graduação em Saúde
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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