Apresentação: O presente trabalho é fruto de pesquisa realizada em uma cidade do interior de Minas Gerais(MG), que teve por objetivo analisar os casos de óbito e internação hospitalar por COVID-19 no município, correlacionando com o debate teórico da determinação social do processo saúde-doença, ou seja, reconhecendo o caráter histórico e social da doença, desde sua produção a sua distribuição.

Desenvolvimento do trabalho:  O estudo utilizou-se de abordagem quantitativa, caracterizando-se como uma pesquisa descritiva, que buscou analisar os dados de mortalidade(SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade) e internação(SIVEP GRIPE) por COVID-19, levantando as possíveis relações entre as variáveis identificadas com a determinação social do processo saúde-doença.

Resultados: Os resultados da pesquisa nos mostram a relação entre a produção e distribuição da doença e a reprodução social, especialmente no que concerne a base de estruturação da sociedade e as relações de classe, gênero e raça/etnia. Este processo interferiu diretamente no modo de  adoecer e morrer por COVID-19. Juiz de Fora/MG, uma cidade de quase 550.000 habitantes, teve 2.177 registros de óbitos (até 18 de Maio de 2023) e 8.116 notificações de internações de SRAG com resultado positivo para COVID (até 27 de Junho de 2023). Quando analisamos a relação destes dados com as variáveis de ‘ocupação’, ‘bairro’, ‘raça/cor’, ‘escolaridade’ e ‘sexo’ vemos a relação direta com a determinação social do processo saúde doença, mas também das próprias desigualdades distribuidas pelo território, como a maior média de idade e de anos de ensino nos óbitos nos bairros centrais (que dispõem de maior renda, acesso a moradia, educação…) comparado aos bairros periféricos que possuem menos anos de ensino e menor média de idade, estes também apresentam menos notificações de COVID-19 em comparativo ao número de óbitos/internação, gerando a hipótese de subnotificação. O sexo masculino permaneceu com maior percentual de óbitos (53%), já nas ocupações têm-se com maiores frequências de óbitos as atividades laborais de representante comercial(n=38), pedreiro(n=21) e empregada doméstica/diarista(n=21), porém, nesta variável houve grande subnotificação (82,1% nas declarações de óbitos), assim como a variável raça/cor(34,88% - em 2021) e escolaridade(86,6%) nas notificações de internação.

Considerações finais: A formação sócio-histórica da cidade, marcada por desigualdades sociais, rebateu diretamente na conformação dos dados de mortalidade e internação no município, tendo os óbitos nos bairros mais vulnerabilizados altos índices de baixa escolaridade, de menor média de idade no óbito e de possíveis dificuldades no acesso a testes, reflexões que caracterizam o território e seus conflitos, que perpassam as formas de enfrentamento e cuidado que foram possíveis e negadas durante a pandemia, ao exemplo das três ocupações mencionadas que permaneceram em plena atividade. Ademais, cabe pontuar os desafios postos advindos da subnotificação dos dados, englobando questões estruturais, mas também, de formação e sensibilização  aos profissionais de saúde sobre a importância de tais dados.