Gestão do cuidado: uma estratégia para reformulação da assistência generalista em prol de uma prática avançada de enfermagem

  • Author
  • Jefferson Nunes dos Santos
  • Co-authors
  • Anne Karolyne Santos Barbosa , Camila Alves Caetano , Luciane Patriciana da Silva dos Santos , Janaína Mendes Lopes , Bruna Maria Bezerra de Souza , Joel Azevedo de Menezes Neto
  • Abstract
  • A enfermagem é a uma área das ciências da saúde que estuda os métodos de cuidados dispensados a saúde de indivíduos, famílias e coletivos de pessoas. Dessa forma, os profissionais que se formam nesta área de saber, desenvolvem ações pautadas na prevenção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde. Por conseguinte, a enfermagem é uma área que além de competências técnicas, exige dos profissionais um conhecimento teórico e político, habilidades científicas e administrativas, visto que são educadores e líderes de equipes assistenciais, além de gerentes e gestores de serviços e estabelecimentos de saúde em todo o mundo. Todavia, uma grande problemática que envolve esta área, situa-se na autopercepção desses profissionais, pois não se reconhecem como gestores do cuidado, por atribuir uma concepção errônea do que se trata tal abordagem. Com isso em mente, este estudo objetiva por meio de uma revisão de literatura, contextualizar a gestão do cuidado como uma estratégia de reformulação da assistência generalista em prol de uma prática avançada de enfermagem. Primeiramente, se faz necessário explicitar o que seriam as Práticas Avançadas de Enfermagem (PAE), que nada mais são, do que práticas inovadoras que visam mudanças sociais. Logo, englobam em seu escopo, a melhoria da qualidade da assistência, por meio da ampliação e valorização da autonomia dos profissionais enfermeiros na tomada de decisões clínicas, voltadas para a avaliação física e de saúde, bem como, diagnóstico e prescrições de cuidados, sendo estas ações mediadas pela gestão de casos. A PAE não é uma temática recente, seu início data de 1960 em contexto mundial, sendo amplamente difundida em países economicamente desenvolvidos (Estados Unidos, Canadá, Austrália), por meio de uma regulamentação estruturada, elencando competências e requisitos educacionais bem definidos, para atingir assim, uma alta qualificação de profissionais. Outro ponto de destaque em relação a PAE é que seu surgimento também faz referência as exigências das necessidades da população. Exemplos disso, podem ser vistos em países como Espanha, Holanda, Reino Unido e Suíça, onde a PAE surgiu como um meio para diminuição da fragilidade de cobertura assistencial. Dessa forma, percebe-se que a PAE tem conquistado espaço de discussão mundial objetivando o avanço da autonomia do enfermeiro em espaços clínicos até então restritos a áreas médicas. Porém, para que isso aconteça, antes é necessária uma mudança nas representações sociais do que é ser enfermeiro. No contexto brasileiro, estudos sobre a PAE ainda são escassos, as discussões com representantes do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) só se iniciaram em 2015, não possuindo grandes avanços desde então, ainda que apresente um sistema de saúde e condições legislativas favoráveis para o desenvolvimento de uma enfermagem de práticas avançadas, sobretudo, na Atenção Primária a Saúde (APS). Dessa forma, torna-se uma terra fértil para a PAE desenvolver-se, principalmente, quando se alia a concepção da gestão do cuidado. Devido a dicotomia existente entre gestão e assistência na formação de enfermeiros brasileiros, muitos não compreendem seu papel na gestão do cuidado dos usuários, atribuindo erroneamente essa concepção a realização de atribuições puramente administrativas. Todavia, a gestão do cuidado acontece em múltiplas dimensões que se complementam entre si, sendo elas: individual, familiar, profissional, organizacional, sistêmica e societária. Além disso, diz respeito a disponibilização de tecnologias de saúde (leves, duras e leveduras) de acordo com as necessidades singulares de cada pessoa, nas diferentes fases do ciclo de vida. Logo, é uma forma de conceber o usuário, não apenas pelo agravo de saúde que apresente em um dado momento ou contexto, ou seja, traduz-se como a garantia de uma prestação de cuidado integral que não seja dissociável e que garanta uma visão ampla do indivíduo, considerando e valorizando seus aspectos biopsicossociais. Ao unificar esses dois campos, os enfermeiros que atuam com base na gestão do cuidado ampliam sua abrangência de atuação profissional, englobando tanto os preceitos já mencionados da gestão do cuidado, quanto a ética profissional, que envolve nesse contexto não apenas as ações de direitos, deveres e proibições da categoria, como também a capacidade de promover espaços livres de dilemas éticos e morais para usuários e seus familiares discutirem sobre os métodos terapêuticos, preservando-se a dignidade, direitos e vontades do usuário. A colaboração interprofissional, que garante uma assistência centrada no usuário, família e comunidade de modo equitativo. A promoção e prevenção da saúde em todos os níveis de atenção por meio do planejamento de ações e adoção de estratégias contemporâneas de avaliação e monitoramento de agravos de saúde. Aprimoramento do pensamento científico, decorrente da necessidade inerente da difusão de conhecimentos e métodos de trabalho adquiridos. Ampliação de habilidades de liderança, visto que o enfermeiro, nesse contexto, é considerando como uma peça maleável que transita e coordena todas as ações intersetoriais, inter e multidisciplinares direcionadas ao usuário. E por fim, a garantia de práticas baseadas em evidências, visto que esta é uma peça essencial para a promoção do autocuidado do usuário, pois é necessário que se conheça os melhores métodos para cada contexto, o que exige uma prática assertiva. Nessa perspectiva, se faz necessário que além da regulamentação legislativa que assegure a PAE, as instituições de ensino devem reconhecer a importância da reformulação de suas matrizes curriculares. Segundo o International Council of Nurses (ICN), o nível mínimo exigido para que os profissionais desempenham a PAE, é o mestrado. Todavia, algumas residências multiprofissionais em saúde, já tem em suas matrizes aspectos relacionados com a gestão do cuidado, sendo, portanto, um grande avanço para conquistar um elevado patamar de profissionais de práticas avançadas. Porém, ainda é insípido o número de instituições que vislumbram esse contexto na saúde coletiva. Mediante o exposto, observa-se a fundamental relevância para a saúde pública, a existência de enfermeiros com formação globalizada nas áreas da pesquisa, política, competência clínica, pensamento crítico-reflexivo, gestão do cuidado, formação pedagógica e ética. Uma vez que, somente assim, o modelo de ensino-aprendizagem poderá se opor a formação mercantilista e precarizada fornecida por instituições brasileiras de ensino que prezam a distribuição de mão de obra para o mercado capitalista, sem objetivar a formação de profissionais com o poder de realizar transformações societárias em escala mundial.

  • Keywords
  • Prática Avançada de Enfermagem, Educação em Enfermagem, Qualificação Profissional em Saúde
  • Subject Area
  • EIXO 3 – Gestão
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