Apresentação: A População em Situação de Rua compreende um grupo social marcado por vivências singulares, cujas particularidades foram historicamente negligenciadas, o que os colocou à margem das políticas públicas de saúde, reforçando o contexto de iniquidades ao qual estão submetidos. Embora o acesso aos serviços de saúde, bem como o direito ao cuidado integral, sejam garantias estabelecidas por lei, a exemplo do Decreto n° 7.053, de 23 de dezembro de 2009, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua, tal parcela ainda é alvo de ações individualizadas e biologicistas, que desconsideram seus determinantes e condicionantes sociais, constituindo entraves para o planejamento e execução do cuidado em saúde. Assim, tem-se como objetivo do estudo refletir sobre as singularidades do cuidado em saúde a pessoas em situação de rua na perspectiva de estudantes de medicina. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo reflexivo, de abordagem qualitativa, acerca das experiências vivenciadas pelo projeto de extensão “Projeto Acolher”, formado por estudantes de medicina do Centro Universitário UNIFACISA em Campina Grande-PB, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Parecer n° 5.860.585, cujo trabalho foi desenvolvido junto à Equipe do Consultório na Rua com a População em Situação de Rua do município supracitado. Resultados: Com base na realização de buscas ativas, evidenciou-se que o contexto das ruas é permeado pela fragilidade de vínculos, abandono e destituição de direitos sociais. Dentre as singularidades experienciadas por tal parcela, destacam-se a dificuldade e resistência para acessar serviços básicos de saúde, buscando atendimento apenas em situações emergenciais, falta de adesão aos tratamentos propostos, quebra da continuidade do cuidado na Atenção Básica, uso abusivo de substâncias que interferem no processo terapêutico, além da persistência de estigmas sociais por parte de alguns profissionais de saúde. Nesse sentido, a construção do vínculo usuário-profissional é primordial para o estabelecimento de uma relação de confiança e acolhimento, destituída de preconceitos. Ademais, o delineamento de ações estratégicas pelas equipes, voltadas para a inclusão e permanência da população de rua nos serviços de saúde apresenta-se como potencial modificador do processo saúde-doença desses sujeitos. Considerações Finais: Conclui-se que ainda há falhas na assistência à saúde da população em questão, uma vez que as políticas públicas não respondem efetivamente às complexidades e singularidades das pessoas em situação de rua. Sendo assim, é necessário que os profissionais de saúde sejam capacitados a reconhecerem as dificuldades da prestação de assistência a essa população, realizando, através de articulações intersetoriais, ações de cunho abrangente, levando em conta os determinantes que impactam no seu processo de adoecimento, a fim de contribuir para a efetividade do cuidado integral em saúde das pessoas em situação de rua.