A formação de graduação em um curso de Psicologia é construída fundamentalmente de duas bases documentais de referência: A Diretriz Curricular Nacional (DCN) e o Projeto Pedagógico do Curso (PPC). Dentro do PPC constitui as ementas e a matriz curricular do curso, constituindo a identidade e o perfil dos estudantes formados pela instituição. Na década de 60, foi sancionada a Lei n.° 4.119, de 27 de agosto de 1962, que regulamentou a profissão de psicólogo, além do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os Conselhos Regionais foram criados pela Lei n.° 5.766, em 20 de dezembro de 1971. Os conselhos são órgãos fiscalizadores e orientadores do exercício profissional, a fim de garantir o compromisso ético da categoria. Desde a regulamentação da profissão no Brasil em 1962, a formação em Psicologia tem sido objeto de reflexão e debates envolvendo a categoria e suas entidades, o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde. Em 2004, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação em Psicologia, que em 2011 passaram por reformulação visando regulamentar a licenciatura em Psicologia. Atualmente a Resolução CNE/CES n.º 1, de 11 de outubro de 2023 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia passou por uma atualização. Uma dessas atualizações foi a reconfiguração das ênfases, cabendo as faculdades estabelecerem suas ênfases na qual os estudantes pudessem escolher uma ou mais ênfases. A regulamentação trouxe uma maior visibilidade e credibilidade para a profissão perante a sociedade, o que acarretou para o psicólogo uma maior responsabilização e compreensão sobre seu papel ético e científico. Desde então, o modo como a formação vem sendo construída nas faculdades e universidades pode ser representativo e imperativo do profissional de Psicologia que trabalhe com um compromisso ético e profissional diante das novas demandas que tem surgido atualmente na sociedade. Desse modo, o objetivo dessa pesquisa, constituída por estudantes que escolheram a ênfase em “processos de prevenção e promoção de saúde” no curso de Psicologia do Centro Universitário Euro-Americano (UNIEURO) – Brasília – DF foi analisar e refletir sobre a atual formação em Psicologia, a partir da percepção de estudantes sobre as suas escolhas das ênfases: “Processos Clínicos em Psicologia” e “Processos de Promoção e Prevenção da saúde” a serem cursadas nos dois últimos semestres de formação. Discorreremos sobre cada ênfase, a fim de apresentar o perfil de cada uma dessas ênfases. Para isso, utilizaremos como aporte metodológico, a análise documental e uma pesquisa de campo com estudantes de Psicologia, tendo como instrumento, um questionário no formato online, embasadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais, no Projeto Pedagógico de Curso e no livro “Psicologia Social e Saúde: Práticas, Saberes e Sentidos”. Uma das hipóteses levantada nessa pesquisa, aponta que as estudantes compreendem a sua formação a partir da escolha de suas ênfases, constituindo conceitos e concepções de saúde diferenciadas durante a sua formação nas ênfases das áreas. Portanto, podem existir algumas variáveis durante a formação, nesse caso específico, disciplinas que reordenam o caminho da formação entre aspectos conceituais de saúde nas duas ênfases de modo distintos. Nesse caso, a composição e organização da matriz em compor disciplinas que dialoguem no campo da saúde podem configurar outra noção de saúde, ainda que esses estudantes tenham escolhido a ênfase em “processos clínicos em Psicologia”. A partir das análises da grade da faculdade, encontramos: Psicologia e Processos Clínicos que prevê em sua matriz curricular as seguintes disciplinas, 9° e 10° período: psicodiagnóstico (60 horas); psicologia e processos clínicos (60 horas); intervenção em crise (80 horas); avaliação psicológica (40 horas); eletiva 1 e 2 (40 horas); estágio supervisionado específico 1 e 2 (200 horas) e Trabalho de conclusão de curso 1 e 2 (20 horas). Os estágios supervisionados específicos 1 e 2 acontecem na clínica-escola do campus da faculdade, concentrando-se em atividades de psicoterapia ou avaliação psicológica (restrita para discentes supervisionados por um único docente). Além disso, no 7° e 8° período do curso, a grade prevê estágio básico obrigatório na clínica-escola, antes de iniciar as atividades o discente pode realizar observações e iniciar posteriormente as práticas de psicoterapia. Já a matriz de Psicologia e Processos de Prevenção e Promoção da Saúde, prevê as seguintes disciplinas, 9º e 10º período: Psicologia Social e da Saúde (60 horas); Saúde Pública e Comunitária (60 horas); Psicologia da Saúde e Ciclos de Vida (60 horas); técnicas de intervenção Psicossocial (60 horas); eletiva 1 e 2 (40 horas); Estágio Supervisionado Específico 1 e 2 (200 horas) e Trabalho de Conclusão de Curso 1 e 2 (20 horas). Os estágios desta ênfase acontecem em instituições externas. No ano de 2023, a UNIEURO firmou parceria com as seguintes instituições públicas e privadas: Secretaria de Educação; Defensoria Pública - núcleo da mulher; Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi); Unidade Básica de Saúde 7 (UBS 7) de Taguatinga Norte; No Setor; Instituto de Saúde Mental, Casa de Passagem e Policlínica; Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II); Hospital Santa Marta; Centro 18 de maio; Instituto Social do Distrito Federal e Colégio Ideal. Com isso, a ênfase em saúde, promove contato do discente com amplas áreas da Psicologia tais como saúde pública, hospitalar, jurídica, escolar, social e comunitária, assim como prevê as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de Psicologia. Portanto, a atuação em Psicologia clínica pode ocorrer em dois anos, dividindo-se em um ano obrigatório e um ano optativo. Já a atuação na saúde é ofertada apenas no estágio específico na escolha da ênfase, com duração de um ano. Além disso, a partir das nossas vivências na instituição, percebemos haver um prejuízo em relação ao tempo de estágio na ênfase em saúde, devido a atrasos na iniciação das atividades práticas, visto que depende de regulamentação interna entre as instituições e resolução de burocracias, as quais não tivemos conhecimento. O que nos leva a mais uma hipótese de que, quem opta pela ênfase clínica não enfrenta atraso nos estágios, problemas burocráticos com a instituição ofertante ou conflitos com preceptores, indicando um dos possíveis motivos pela não aderência de discentes na ênfase Prevenção e Promoção da Saúde. Diante disso, podemos averiguar que as disciplinas da ênfase clínica são, de fato, mais voltadas para o contexto clínico de consultório psicológico, sem muitas possibilidades de contato com diferentes ambientes e atuações. Enquanto, na ênfase saúde, as disciplinas são voltadas para ambientes e contextos sociais mais diversos, com amplas possibilidades de atuação profissional. A partir disso, questionamos: como a matriz curricular, a partir das ênfases, influência na formação dos estudantes de Psicologia da UNIEURO – DF? Ao optar por uma ênfase, o aluno não possui contato com a outra, visto que não existem disciplinas optativas na grade curricular do curso. Desta maneira, podemos indagar a formação ofertada aos psicólogos, para o exercício da profissão, na perspectiva da construção da cidadania.