Apresentação: Racismo ambiental é o termo utilizado para elucidar o processo de discriminação pelo qual grupos periferizados ou populações compostas de minorias étnicas sofrem através da degradação ambiental. Nesta perspectiva, o racismo ambiental, como determinante social de saúde, é componente estruturante das barreiras de acesso e do usufruto aos benefícios gerados pelo Estado por grupos raciais desprivilegiados, como às comunidades quilombolas. Em geral, estas comunidades convivem com vulnerabilidades e iniquidades em saúde, influenciando no processo saúde-doença-cuidado e morte, favorecendo um quadro de morbimortalidade por doenças injustas e evitáveis. Assim este trabalho objetiva descrever o desenvolvimento de atividade auto-organizada como alternativa de espaço de discussão para o resgate da participação popular e controle social em saúde em comunidades quilombolas. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa, que contém relato de experiência de atividade realizada na Rede de Lideranças Quilombolas da Região do Caetés, entidade representativa de dez comunidades quilombolas do nordeste paraense. A metodologia empregada foi a Roda de Conversa, como instrumento de produção de dados para compreender o sentido que o grupo social atribui a temática. Integraram a roda de conversa os membros das associações de remanescentes de quilombo que compõem a Rede de Lideranças Quilombolas da Região do Caetés e o enfermeiro convidado para mediar as interlocuções e contribuir com a construção de estratégias que fomentem a participação popular e controle social na saúde. Resultados: Os principais pontos levantados pelos participantes partem do acesso ao direito à terra e à saúde para estas comunidades. As dificuldades no reconhecimento e regularização fundiária das terras ancestrais geram conflitos que acometem a vida e a saúde da população quilombola, bem como a destruição de habitats naturais e a contaminação de suas águas e solos por atividades de grandes projetos de agropecuária, que visam o lucro em detrimento da sustentabilidade das terras. Outra questão levantada foi a crise sanitária que as comunidades quilombolas enfrentam, explicitadas principalmente pela ausência de abastecimento de água potável, que ocasiona alto índice de doenças diarreicas em crianças e índice elevado de doenças de veiculação hídrica nas comunidades. Considerações finais: O racismo ambiental escancara a desigualdade ao apontar uma nítida divisão do bônus e do ônus do desenvolvimento, no modelo de produção na sociedade capitalista em que as minorias sociais, costumam ser majoritariamente afetadas pela ausência de oportunidades econômicas e sociais. As inseguranças decorrentes das condições socioeconômicas e ambientais degradantes vinculadas as violências e negligencias Estatais compõem fatores que impactam a produção de cuidado e saúde em comunidades quilombolas. Torna-se relevante à enfermagem compreender e discorrer sobre as multidimensionalidades de fatores que afetam as condições de vida das comunidades quilombolas, bem como fortalecer debates sobre a representação das comunidades em conselhos e comitês gestores de políticas públicas, para uma justa distribuição dos recursos públicos, com vistas a redução das iniquidades em saúde nas comunidades.