A saúde coletiva contribuiu para a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) e para o conhecimento sobre o processo de saúde, adoecimento e atenção. Mas mesmo com a existência de um SUS público, aprovado e garantido pela Constituição Federal (CF/88), através da conquista de diversos movimentos sanitários, de luta pela saúde pública e com representação popular, as desigualdades sociais em saúde ainda reverberam na sociedade. Os determinantes sociais de saúde, que evidenciam as desigualdades por meio do processo de são variáveis e percorrem desde o estado de saúde físico e mental. Ao fazer um comparativo teórico sobre as desigualdades sociais em saúde e contrapor com base em dados epidemiológicos, é possível entender que as desigualdades estão relacionadas à organização social e as diferenças que refletem as desigualdades existentes em cada território. Dessa maneira, pode-se observar que como os serviços de saúde compreendem as necessidades de acesso à saúde da população pode contribuir para um melhor atendimento dos grupos socialmente mais vulneráveis e acolher consequentemente as demandas em saúde. O cuidado em saúde mental consiste como um fator importante no acesso à rede pública de saúde. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) atua na identificação e acompanhamento de questões que envolvem o sofrimento mental, desta maneira, após os atendimentos iniciais na atenção básica, caso haja a necessidade de acompanhamento mais especializado e por mais tempo, os profissionais do ESF encaminham para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou algum outro ponto de atenção da rede, identificando que o cuidado em saúde mental perpassa por discussões e práticas de diversas redes instaladas no território. O campo da Saúde Coletiva é, evidentemente, muito importante na atuação nesta área e não admite uma única definição sobre a delimitação e caracterização conforme a teoria e prática. Este campo pertence a uma rede interdisciplinar composta por três grupos: “a epidemiologia; as ciências sociais em saúde; e a política, planejamento e administração em saúde”, além de outras disciplinas que completam as citadas. Existem fatores de vulnerabilidades sociais que implicam no cuidado em saúde, assim como, mostram indicativos de que a saúde coletiva como um campo de conhecimento colabora no entendimento sobre saúde/adoecimento/atenção, enquanto um processo social. Dado tais circunstâncias, o tema deste trabalho propõe, como objetivo geral, compreender os determinantes sociais de saúde que influenciam no processo de saúde mental na atenção básica. Visando responder ao problema de pesquisa: em que medida a perspectiva de saúde coletiva contribui para o cuidado em saúde mental na atenção básica? Dessa forma, tem-se como objetivos específicos: analisar as literaturas científicas disponíveis que discorrem sobre a temática; verificar como a saúde coletiva atua mediante as demandas de saúde mental. Em vista disso, como justificativa, a escolha pelo tema partiu do interesse por compreender os diversos âmbitos da saúde, especialmente por ter um apreço e admiração pela história do SUS e pelas lutas dos movimentos populares em prol do direito à saúde pública e de qualidade no Brasil. Sendo assim, o interesse pela pesquisa manifesta-se por compreender a importância do trabalho da saúde coletiva que abrange uma rede de cuidados voltados para saúde pública, sendo que tem como pilar fundamental ações voltadas para a atenção básica de saúde. Coube então o interesse de pesquisar em qual dimensão encontra-se o cuidado em saúde mental na atenção básica, que diretamente envolve o processo de saúde/adoecimento/atenção ao qual se interliga a saúde coletiva. Autores destacam a importância da política de saúde enquanto disciplina e relevância dentro do campo de pesquisa, afirmando que enquanto produção de conhecimento ela encontra-se também no âmbito da intervenção social, evidenciando que a “Política de Saúde deveria ser entendida como integrante de um campo científico (a Saúde Coletiva), como técnica de análise e de formulação de política (policy) e como práxis (politics) ou ação política dos atores sociais”. É importante frisar que os aspectos direcionados a saúde coletiva, voltado para a saúde mental, dar-se pôr a atenção básica ter estratégias que priorizam as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde integralmente e contínua. Assim, o Plano Nacional de Saúde (PNS) do ano de 2019, divulgado em 2020, ressalta que o alcance desses serviços aponta que 60,0% (44,0 milhões) dos domicílios eram cadastrados na Unidade de Saúde da Família. Com relação à regularidade das visitas de qualquer integrante da Equipe de Saúde da Família e dos agentes de combate de endemias, 38,4% receberam visita mensal de agente comunitário de saúde ou de membro da Equipe de Saúde da Família, configurando 15,4 milhões de unidades domiciliares. O PNS também destaca que quanto a procura pelos serviços de saúde, a maior parcela das pessoas (46,8%) indicou a Unidade Básica de Saúde como o estabelecimento que costumavam procurar quando precisavam de atendimento de saúde. Dessa maneira, tem-se como relevância técnico-científica ampliar os conhecimentos em psicologia para incluir o cuidado em saúde mental próximo da organização do território, entendendo a necessidade de incluí-la como política de saúde, ao qual se encontra a atenção básica, ampliando a importância de articulações com a rede de saúde coletiva. Dentre os sentidos complexos do que seja a saúde mental, uma de suas reflexões leva a dizer que é um campo de conhecimento e atuação no âmbito das políticas públicas. O campo da saúde mental não se restringe a um campo de conhecimento ou uma profissão, pois se trata de uma transversalidade de saberes. Dessa forma, dentre as perspectivas das fronteiras transdisciplinares que podem se cruzar mediante o processo de atuação no território onde a Atenção Básica se constitui, autores apontam que para influenciar ações mais efetivas relacionadas a busca por atendimento, estilos de vida, etc., é necessário conscientizar, para tornar-se um processo transparente no conjunto de ações voltados à população atendida. Assim, a Saúde Coletiva é base fundamental no que diz respeito ao trabalho voltado para as práticas de saúde mental na atenção básica, que contribui diretamente para o conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, proposto pela atenção básica de saúde, no qual preserva a relação identitária dos sujeitos com o território. Uma das principais contribuições destacadas é o fortalecimento coletivo para desenvolver lógicas de cuidado, autonomia e auto-organização social que promovam a saúde coletiva, a fim de fortalecer o Sistema Único de Saúde, as políticas públicas e de assistência social, tendo como finalidade a garantia da dignidade humana. Na prática no território, com o investimento de ações educativas mais eficientes para a valorização do conjunto de profissionais que atuam na atenção básica, a vista que considerem de forma ética as demandas desenvolvidas organicamente pela comunidade a qual se localiza a unidade básica de saúde, ou seja, no contexto comunitário e territorial. Assim, há a possibilidade de notar melhorias nas questões de saúde, tanto para os profissionais, quanto para a população, que podem imergir na participação de gestão e fortalecimento do SUS. Além disso, é plausível destacar que a equipe de saúde médica não pode trabalhar de forma isolada e distante das outras profissões que compõem a rede de cuidado da AB, especialmente por se tratar de ações inseridas no núcleo das comunidades espalhadas por diversas regiões do Brasil, pois o trabalho deve ser feito em rede, em linha de cuidado e por equipe multiprofissional, compondo o cuidado com os múltiplos saberes.