Este resumo trata de apresentar a trajetória do "Grupo da Pesquisa sobre as Adolescências (GRUPAD) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), tendo por objetivo relatar seus impactos na comunidade, no ensino, na pesquisa científica e na articulação entre saúde e educação, especialmente durante e após a pandemia de Covid-19. O resumo foi submetido ao eixo Educação. O GRUPAD existe há 14 anos e desenvolve pesquisas e intervenções visando a intersetorialidade de seus estudos e ações, por meio de interlocução com as áreas de educação e de saúde. O grupo é composto por docentes, acadêmicos de graduação, mestrandos e doutorandos de diferentes formações. Inicialmente, as pesquisas se centraram em temáticas sobre o uso e abuso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas por adolescentes, saúde mental de escolares, redução de danos, políticas públicas e saúde coletiva. As atividades iniciaram em 2010, com a perspectiva de investigar sobre o uso de crack no município, a partir da pesquisa “A realidade do crack em Santa Cruz do Sul”. Os primeiros resultados apontaram para o contato precoce com as drogas, sendo a idade média do primeiro uso de crack com 10 anos. A partir desse dado, percebeu-se a urgência de tratar sobre prevenção ao uso de drogas na infância e adolescência na região. Reconhecendo naquele momento a existência de pesquisadores, estudantes acadêmicos e outros profissionais determinados a voltar a atenção para essa dimensão da vida, num contexto político, social e econômico desfavorável ao bem-estar desses sujeitos, reunimos esses atores sob a denominação de Grupo da Pesquisa sobre Álcool e outras Drogas - GRUPAD, permanecendo assim até 2022. Durante esse período, e até o presente ano, o GRUPAD promoveu anualmente encontros interdisciplinares e intersetoriais intitulados de “Fórum de Discussão sobre Drogas”. Para esses encontros, são promovidas, dentro da universidade, diversas atividades lúdicas relacionadas ao sistema de saúde e ao uso de drogas. No decorrer de uma manhã e uma tarde, alunos adolescentes de escolas de Santa Cruz do Sul e região permanecem na universidade discutindo sobre as temáticas. Concomitante a isso, os seus professores têm um momento voltado a eles, promovendo interação, reflexão e relaxamento. Assim, os fóruns são consolidados na região por serem momentos de troca de saberes e interação entre profissionais, do campo da saúde e da educação, com os alunos. Estes eventos são voltados à desconstrução da hierarquia do saber, proporcionando reflexões, conhecimento, protagonismo e autonomia aos adolescentes nos processos desenvolvidos. Esses eventos possuem como objetivo principal o fortalecimento de vínculos entre todos os envolvidos com a temática, produzindo horizontalidade nas relações, comunicação ativa, autonomia dos sujeitos e transformação social. Durante a pandemia, o Fórum foi mantido em sua 10ª edição, com a participação de palestrantes internacionais, sua realização se deu de forma online, por meio das plataformas Google meet e Youtube. Ao longo dos anos, o Fórum contou com a participação de profissionais da rede de saúde de educação de diversos municípios da região e anualmente recebe aproximadamente 200 escolares. Em suas atividades direcionadas aos estudantes, o GRUPAD se constitui como uma ponte que liga os diferentes serviços disponíveis no território, de forma articulada com o Programa de Saúde na Escola. Assim como os tecidos sociais que se transformam continuamente, o GRUPAD segue trabalhando e se adaptando às mudanças do território e da comunidade. A partir do ano de 2019, houve a criação de uma tecnologia social chamada “Caminhos do SUS”, um jogo de tabuleiro que, através da ludicidade, propõe o conhecimento sobre o sistema de saúde em vários âmbitos. O jogo, financiado pelo Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS/FAPERGS), foi distribuído em 45 escolas e serviços de saúde da região. No presente projeto de pesquisa do grupo “Produções de Sentidos Acerca da Drogadição: panorama do uso de drogas sob o enfoque do adolescente e da família na intersecção do contexto escolar, PSE e CAPSia em Santa Cruz do Sul”, o jogo foi utilizado como um instrumento de produção de dados junto aos adolescentes de escolas públicas. O projeto tem como um de seus objetivos compreender o conhecimento dos adolescentes sobre a rede de saúde e os serviços públicos. Assim, antes e após jogar, os participantes respondiam um mini questionário acerca dos serviços apresentados no jogo. Associado à aplicação do “Caminhos do SUS”, foi realizado um levantamento quantitativo a respeito do uso de álcool e outras drogas entre os adolescentes. Esses dois instrumentos fornecem dados para os estudos e discussões do grupo, além de subsidiar informações para articulação das políticas do município, especialmente no campo da saúde, educação e junto ao Programa Saúde na Escola. O jogo, também segue sendo aplicado no âmbito acadêmico, com docentes e discentes, bem como trabalhadores de diversas áreas, tendo reconhecimento na região como uma tecnologia de transformação social para a cidadania. Em 2024, a 2ª edição do “Caminhos do SUS” será lançada, com aprimoramento e inserção de novas cartas e desafios. Através desta produção, dos eventos, intervenções e pesquisas realizadas nesse intervalo de 14 anos, junto a ações de extensão, emergiram temáticas atuais como: educação em saúde, autolesão, valorização da vida, pressão estética, questões sobre sexualidade, relação com a tecnologia e o desenvolvimento de dependências, sobre cidadania e adolescências durante a pandemia e no contexto neoliberal, entre outros. Todos esses temas têm sido alvo de discussão, leituras, produção de artigos, resumos e apresentações. Com a intensificação dos trabalhos envolvendo esses assuntos, emergiram reflexões e um aprofundamento teórico que fizeram com que os integrantes do grupo se aproximassem, cada vez mais, de demandas da adolescência como um todo. Sendo assim, o nome inicial foi repensado e, se tratando das mais diversas formas de vivenciar o processo da adolescência, surgiu a ideia de chamá-lo de “Grupo da Pesquisa sobre Adolescências”, porém, mantendo sua sigla original GRUPAD. Dessa forma, seguimos na jornada de trabalhar com essa população, estando em constante desenvolvimento e repensando processos a fim de produzir conjuntamente com a comunidade, extrapolando os muros acadêmicos da universidade. A partir do exposto, entende-se que o GRUPAD vem desempenhando um papel significativo na comunidade, no ensino e na pesquisa científica, ancorado por uma abordagem interdisciplinar e intersetorial. Desde o princípio, o grupo desenvolve suas ações a partir de um compromisso contínuo com a promoção do bem-estar e da cidadania dos jovens, por meio de ações com a comunidade e os adolescentes, bem como por meio de constante aprimoramento das suas intervenções, visando sempre a transformação social e a promoção da cidadania dos sujeitos. Nesse sentido, o GRUPAD persiste na intenção de seguir criando e ampliando espaços comunitários de reflexão, diálogo e enfrentamento dos desafios das adolescências em um mundo de constante movimento.