O número estimado de casos novos de câncer da cavidade oral para o Brasil, de acordo com a estimativa do INCA, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 15.100 casos. Na maioria, o diagnóstico é feito tardiamente, o que exige tratamento mais agressivo, resultando em uma maior morbidade e maior taxa de mortalidade. Esse trabalho teve como objetivo identificar e discutir fatores associados ao diagnóstico tardio do câncer de boca. Trata-se de um estudo de campo, de natureza qualitativa e avaliativa, com a coleta dos dados por meio de entrevista com roteiro semiestruturado. Os participantes são residentes da cidade de Niterói, maiores de 18 anos, com diagnóstico confirmado de câncer da boca e encaminhados para tratamento oncológico, nos anos de 2018 a 2022. A lista de usuários foi fornecida pela Central de Regulação do município, a partir dos dados do Sistema Estadual de Regulação. Foram realizadas 29 entrevistas, todas gravadas e transcritas. A escolha da temática “diagnóstico tardio” está relacionada pela forte presença do tema nos relatos e por sua importância no desfecho dos casos. Para esta análise foi realizada uma leitura minuciosa das entrevistas com a extração de conteúdo relacionado à temática. Os relatos foram organizados buscando-se compreender os motivos associados ao diagnóstico tardio. Foram identificados quatro grandes grupos de fatores: os relacionados aos usuários - (1) psicossociais, relacionado ao medo do diagnóstico, estigma do câncer; à crença em resolução rápida e espontânea do problema até a negação em relação ao enfrentamento do problema (2) clínicos, associado a não identificação da lesão, por ser assintomática ou se localizar em áreas pouco visíveis; (3) de uso/acesso aos serviços que inclui desde indisponibilidade até fatores comportamentais como o uso menos frequente de serviços pelos homens; os relacionados ao profissional de saúde - (4) capacidade diagnóstica e diligência dos profissionais de primeiro contato (não especialistas) que pode envolver desconhecimento acerca do câncer bucal, descompromisso com exames mais cuidadosos dos tecidos moles até uma parcela que desconsidera as chances de encontrar uma lesão neoplásica na sua rotina. Nesse cenário é fundamental organizar políticas públicas que incluam informação para a população; qualificação para os profissionais das equipes de saúde; definição de protocolos de organização dos serviços e; a construção de uma Linha de Cuidado para a atenção ao câncer de boca. Qualquer medida que venha a ser proposta para mudança dessa realidade precisa considerar, de igual modo, cada um dos fatores. Iniciativas que alcancem usuários, profissionais e a própria organização de rede de atenção à saúde, são condições para que o tratamento inicie em tempo oportuno, com o aumento das chances de sobrevida e melhor qualidade de vida dos usuários.