A atenção primária à saúde constitui o nível de atenção dos sistemas de saúde mais próximo ao quotidiano das pessoas. No Brasil, a APS possui papel fundamental como ordenadora do Sistema Único de Saúde (SUS). Seu modelo está centrado na Estratégia Saúde da Família, responsável pelo acompanhamento e monitoramento das famílias cadastradas em seus determinados territórios. A enfermagem, como integrante fundamental desta equipe multiprofissional, exerce um papel polivalente neste nível de atenção, englobando desde a gestão até a promoção do cuidado. Neste sentido, a abordagem da enfermagem deve ser integral aos usuários. Dentre as demandas da Unidade Básica de Saúde, está o cuidado de pessoas com feridas, que vem aumentando tendo como causas principais o envelhecimento da população e o maior surgimento de doenças crônicas. As enfermeiras são habilitadas cientificamente a avaliar e tratar de pessoas com feridas, possuindo autonomia para determinar a terapêutica adequada, considerando os fatores que influenciam o processo de cicatrização. Este estudo se caracteriza como qualitativo, descritivo e exploratório que possui por objetivo compreender as práticas de enfermagem direcionadas ao atendimento de indivíduos com feridas no contexto da atenção primária à saúde, reconhecendo os principais desafios da atuação das enfermeiras neste cenário. Seu recorte geográfico é o município de Vitória, no estado do Espírito Santo, que possui 29 Unidades Básicas de Saúde. Está vinculada ao projeto nacional “Práticas de Enfermagem na Atenção Primária: Estudo Nacional de Métodos Mistos”. Estabelece-se por um conjunto de entrevistas, onde as entrevistadas 92,6% eram de mulheres, atuantes há mais de 3 anos na APS e compondo a Estratégia de Saúde da Família. O tratamento e a análise dos dados ocorreu por intermédio da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin, no intuito de extrair as categorias de interesse desta pesquisa. Dessa forma, pode-se localizar e recortar o trecho da entrevista ao qual estava inserido, formando um segundo banco de dados e originando quatro categorias que os dividem em similaridades argumentativas. São elas: 1) Papel da Enfermagem no Cuidado de pessoas com Feridas; 2) Autonomia no processo de trabalho das enfermeiras; 3) Estratégia de Saúde da Família; 4) Demanda e a influência do contexto pandêmico. A primeira explicita a divisão das responsabilidades da equipe de enfermagem no cuidado de pessoas com ferida no cenário das APS de vitória, bem como relaciona com a atribuição estabelecida por lei. Já a segunda categoria se refere a liberdade das enfermeiras de autodeterminarem o planejamento de enfermagem e as intervenções de enfermagem, adicionalmente, se as mesmas se sentem preparadas para tal. A terceira categoria discorre sobre a dinâmica das equipes de saúde no cuidado multiprofissional, relata quais as ações dos profissionais da saúde neste contexto, refletindo sobre a colaboração entre eles. Por fim, a pesquisa foi executada durante a pandemia da Covid-19, contexto que modificou o fluxo, cabendo reflexão sobre as adaptações. Logo, a análise permitiu evidenciar pontos frágeis e fortes quanto à articulação da equipe de enfermagem, mostrando assim a importância do desenvolvimento da educação permanente, garantindo maior eficiência da atuação.