Apresentação:
A Educação em saúde constitui um processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação temática pela população e não à profissionalização ou à carreira na saúde. Para além disso, é percebida como uma forma de fornecer autonomia às pessoas para o desenvolvimento do autocuidado e potencializar o controle social sobre as políticas e serviços de saúde, à medida que busca responder às necessidades da população.
Nesta vertente, a colaboração da universidade por meio do desenvolvimento de tecnologias educacionais e da participação na gestão, assistência e ações pedagógicas em saúde, fazem a integração ensino-serviço-comunidade, fortalecendo a promoção da educação em saúde e fomentando o próprio desenvolvimento acadêmico e profissional. Para tanto, o Programa de Educação Tutorial (PET) é atuante em atividades de educação em saúde, em especial o PET Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, que possui diversos projetos sobre essa temática. Desenvolvido por grupos de estudantes com tutoria de um docente dentro dos cursos de graduação nas Instituições de Ensino Superior do país, o PET trabalha orientado pelo princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Um estudo realizado em 2023 demonstrou a influência dos hábitos durante o carnaval e a vulnerabilidade face às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), especialmente em decorrência do consumo de bebidas alcoólicas e a utilização de psicotrópicos. Ambos ocasionam alterações de consciência e comportamento, como a redução da inibição, perda da noção sobre o uso do preservativo e a falta de destreza para manuseá-lo. Evidencia-se os efeitos do carnaval na saúde sexual das pessoas, sobretudo na exposição.
Além disso, a violência, seja ela física, verbal, sexual, de gênero e outras, é identificada no transcorrer das festividades de carnaval, majoritariamente contra mulheres, homossexuais e travestis. A literatura mostra o silêncio das vítimas inseridas no contexto de festividades, devido à temática ser tratada como “brincadeira”. Por isso, salienta-se a necessidade da problematização da violência para que seja denunciada.
As informações sobre ISTs e violência no cenário do carnaval devem ser perpetuadas em diferentes espaços, tendo em vista os dados apresentados pela literatura. Nesse sentido, a atividade consistiu na abordagem das temáticas para adultos, colaboradores de uma empresa privada de diagnósticos por imagem. O presente estudo objetiva descrever as atividades de educação em saúde realizadas sobre a saúde no carnaval, com foco em ISTs e violência, voltadas para adultos.
Desenvolvimento:
Por meio de um contato externo ao grupo, que já conhecia as capacitações promovidas pelo PET Enfermagem, surgiu a demanda dos encontros em um centro de diagnósticos por imagem. Nesse sentido, o projeto “Mente Aberta”, que permite que o grupo receba demandas externas à universidade e tenha a oportunidade de promover palestras, encontros e capacitações para a comunidade, aceitou a demanda. As temáticas foram solicitadas pela diretora dos recursos humanos da empresa, que sugeriu temáticas relacionadas ao período de carnaval, já que os encontros aconteceriam duas semanas anteriores às festividades.
Nessa perspectiva, os encontros aconteceram no dia sete de fevereiro do presente ano, em dois turnos distintos, explanados por quatro estudantes, bolsistas do PET Enfermagem, divididos entre os turnos manhã e tarde, com duração de uma hora cada, contando com a participação de cerca de 50 colaboradores da instituição, sendo homens e mulheres das mais diversas áreas de atuação, dentre elas: enfermeiros, técnicos de enfermagem, técnicos em radiologia, recepcionistas, técnicos de informática, profissionais da higienização, colaboradores da gestão financeira e da gestão de pessoas.
As temáticas escolhidas abordaram os diversos tipos e naturezas da violência, por exemplo: os tipos autoprovocada, interpessoal, coletiva e de natureza física, psicológica, sexual, etc. Além disso, foi disponibilizado durante a apresentação os contatos para denúncia e a diferenciação de cada um deles, como a polícia militar, conselho tutelar e central de atendimento à mulher.
Por fim, foram explanados conceitos e formas de contágio e prevenção de algumas ISTs, que foram consideradas as mais prevalentes na sociedade. Ainda, foi divulgado o local e horário de funcionamento de um serviço na cidade que oferece tratamento e prevenção à exposição, como a PREP (Profilaxia Pré-Exposição) e a PEP (Profilaxia Pós Exposição) nos casos de HIV.
A abordagem das temáticas de violência e prevenção de IST’s em período anterior às festividades do carnaval, tratou-se de uma estratégia educativa objetivada em educar e conscientizar os colaboradores da instituição a aproveitarem as comemorações de forma segura e orientada quanto aos manejos frente às situações que poderiam acontecer durantes os eventos festivos.
Resultados:
Durante a ação, foi possível observar que, apesar dos trabalhadores conviverem em um ambiente de saúde, possuíam dúvidas. Em ambas as apresentações, surgiram perguntas relacionadas a eficácia de métodos contraceptivos, estigmas relacionados a infecções sexualmente transmissíveis e suas formas de tratamento, profilaxia pré e pós exposição ao vírus HIV, diferenças de sintomatologia das IST’s e quando procurar serviços de saúde.
Dessa maneira, a realização desses encontros desafiou os conhecimentos dos integrantes do grupo, visto que as dúvidas surgem a partir da exposição da temática central da apresentação, mas que não constam no material, o que estimula o aprofundamento do conteúdo por todos apresentadores. No Brasil, um dos cenários epidemiológicos alarmantes e que a efetivação da educação em saúde é fundamental, sobretudo à medida que fomenta e embasa a autonomia para o autocuidado, contribuindo para a prevenção, é o das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Evidenciando essa realidade, no período de 2007 até junho de 2023, foram registrados 489.594 casos de infecção pelo HIV no país, enquanto, em 2022, foram notificados 213.129 casos de sífilis adquirida e 83.034 casos de sífilis em gestantes.
Sob a óptica da formação, a realização de atividades que promovam a saúde da população é um importante componente para o desenvolvimento de competências fundamentais para um futuro Enfermeiro, como: habilidade de comunicação, adaptação da linguagem, elaboração de materiais ilustrativos, percepção crítica e reflexiva, além de entendimento humanista. Dessa forma, o projeto Mente Aberta, assim como outros do grupo PET Enfermagem, oferecem desafios para os integrantes e possibilitam o envolvimento desses como atores sociais.
Em consonância, é correto dizer que ações de extensão aproximam o ambiente acadêmico da comunidade, o que contribui para que os agentes envolvidos no processo possam absorver e refletir o mundo como ele é, dentro de um determinado contexto. Assim, os modelos teóricos e conceituais saem da perspectiva abstrata e fazem sentido para aqueles que executam. Portanto, é correto afirmar que ações de Educação em Saúde auxiliam para que os futuros enfermeiros do grupo PET Enfermagem possam contribuir para o processo de restabelecimento da saúde de indivíduos considerando o contexto sociodemográfico a qual ele pertence, ao mesmo tempo que desenvolve o olhar crítico para a execução de programas de promoção e prevenção à saúde nos mais distintos contextos de atuação.
Considerações finais
Diante das demandas da saúde pública alarmadas no carnaval, evidencia-se a necessidade contínua de abordagens preventivas, especialmente em relação às ISTs e a violência. A partir dos resultados obtidos com essa atividade, reforça-se a importância da Educação em Saúde como instrumento de capacitação e conscientização, para diferentes públicos. Ainda, evidencia-se que a integração entre universidade e serviços fortalecem o desenvolvimento acadêmico e profissional, assim como promovem a construção de uma sociedade mais informada diante dos desafios de saúde pública.