O processo de morte e morrer compõe o ciclo biológico dos seres humanos, mas é desafiador, principalmente para os profissionais da área da saúde. Apesar de vivenciarem a morte no cotidiano, muitos criam rotas de fuga pela dificuldade em enfrentar esse momento. Durante a graduação, muitos discentes se deparam com essa situação pela primeira vez, tornando mais difícil criar formas de lidar com o luto. Diante disso, este trabalho objetiva relatar a experiência de discentes de enfermagem no primeiro contato com o processo de morte e morrer.
Relato de experiência pautado em aulas práticas em unidade de observação de um pronto socorro por discentes do curso de graduação em enfermagem do 5º semestre, de uma universidade pública do Rio Grande do Sul. Durante as práticas foi possível verificar o modo como o processo de morte e morrer impacta a equipe e os discentes.
Em determinado momento, foi constatado o óbito de um paciente da emergência que, devido a causa da morte, não foi possível realizar os cuidados pós-morte, necessitando aguardar a perícia. A equipe, então, seguiu com suas atribuições rotineiras. A percepção desse contexto motivou o desenvolvimento deste relato, considerando o despreparo e o desconforto sentido pelos discentes.
O enfermeiro desempenha uma variedade de atividades dentro do Pronto Socorro, passando por momentos de estresse e sobrecarga. Esses fatores podem dificultar que os profissionais tenham um olhar humanizado para a morte e para os familiares, pois há a necessidade de que se dê a continuidade na assistência, principalmente pela alta demanda e complexidade dos atendimentos. No entanto, esse cumprimento das rotinas e das demandas pode ser um modo de distanciar-se do sofrimento causado pela morte de um paciente ou ainda, como estratégias e barreiras para amenizar os sentimentos gerados pelo luto.
No que diz respeito aos sentimentos das discentes diante da situação, sentiu-se um despreparo técnico e emocional. Isso gerou a reflexão da insegurança ao lidar com o processo da morte em uma unidade hospitalar, como o acolhimento da família e a preparação do corpo. Além disso, houve o sentimento de impotência, mesmo as discentes apenas observarem o ocorrido, sem participar ativamente no momento.
Somado a essas questões, visualizar uma pessoa em óbito somado à situação de emergência, gerou desconforto. Diante da complexidade da morte e do pós-morte, esse sentimento pode ser explicado pela bagagem cultural e crenças carregadas por cada indivíduo, que influenciam nas vivências desse momento.
Enquanto futuros profissionais, observa-se que na formação são proporcionados poucos espaços de debates acerca da terminalidade da vida. O processo de morte e morrer, mesmo ligado às diferentes fases do ciclo de vida, ainda é uma temática abordada com superficialidade por muitos currículos. Isso pode estar também relacionado aos aspectos socioculturais que permeiam a sociedade.
Portanto, torna-se necessário ampliar as discussões sobre a morte durante a graduação, de forma que os discentes sintam-se mais preparados para esse enfrentamento durante sua vida profissional, sem precisar tangenciar a morte.