Apresentação
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, no mundo, cerca de 3 milhões de pessoas vivem com algum tipo de doença renal e mais de 80% delas não têm conhecimento sobre o diagnóstico, evidenciando o óbito sem oportunidade de detecção e tratamento. Os fatores de risco incluem as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade, além de tabagismo, uso de agentes nefrotóxicos e histórico familiar.
A prevenção das doenças renais, na maior parte das vezes, está associada ao estilo e condições de vida, por meio de controle dos fatores de risco, e realização de exames laboratoriais. O(A) enfermeiro(a) apresenta atribuições indispensáveis para o acompanhamento da saúde renal, desde a Atenção Primária à Saúde (APS) à terciária.
Para prevenção dos fatores de risco para a doença renal ou para o tratamento, após instaurada, o usuário é acompanhado pela Rede de Atenção à Saúde (RAS), que corresponde a organização, a integração e aos arranjos entre os serviços de saúde, com diferentes densidades tecnológicas, que visam a integralidade do cuidado.
No cenário apresentado, destaca-se a formação do(a) enfermeiro(a) como alicerce para o trabalho em Rede e à assistência à saúde renal. A inserção em espaços salutares, permite ao profissional em formação realizar o elo entre teoria e prática, resultando em um olhar diferenciado e integral sobre o usuário, desde a prevenção ao tratamento.
A experiência do estudo em tela foi desenvolvida em dois serviços, um de nível primário de atenção à saúde e outro terciário, com a perspectiva direcionada à saúde renal, por meio da correlação entre eles. Logo, objetiva-se compartilhar as experiências na assistência à saúde renal em serviços de diferentes níveis de atenção.
Desenvolvimento
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência oriundo da inserção em serviços de saúde em um município da região central do Rio Grande do Sul. A experiência na APS foi intermediada pelo Estágio Supervisionado B, que faz parte da matriz curricular do curso de graduação, com supervisão da enfermeira da Estratégia Saúde da Família (ESF), totalizando 400 horas, com início em março de 2024 e previsão de término no mês de junho. No serviço de nefrologia, em um Hospital Escola, a inserção ocorreu a partir do Programa Extensionista de Formação Complementar em Enfermagem (PROEFCEN), sob orientação de enfermeiros(as) do setor, nos meses de fevereiro e março de 2024, com carga horária de 120 horas.
Em ambos os serviços, as atividades são/foram desenvolvidas conforme a atuação do(a) enfermeiro(a), com cumprimento da carga horária integral do(a) profissional, a fim de possibilitar a vivência plena. Previamente à inserção, os(as) profissionais são contatados para receber o(a) acadêmico(a), com carta de intenções e plano de atividades a serem desenvolvidas, com a finalidade de articular o processo de vivência.
A dinâmica da APS e da Nefrologia no âmbito da Atenção Terciária difere em muitos aspectos, no entanto, movem-se simultaneamente à saúde do usuário, no que tange à prevenção, tratamento e acompanhamento. Na APS, sobretudo na ESF, o trabalho é desenvolvido de modo individual e coletivo, envolvendo a promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença, redução de danos e vigilância à população de um território definido. Na nefrologia, tratando-se do nível terciário de atenção à saúde, realiza-se o tratamento, acompanhamento, diagnóstico e prevenção de agravos e promoção da saúde, no entanto, ocorrem direcionados às pessoas que vivem com doenças renais.
Na APS, o(a) enfermeiro(a) realiza consultas de enfermagem às pessoas com doenças crônicas, especialmente diabetes mellitus e hipertensão arterial, para diferentes públicos, e também salas de espera, procedimentos, visitas domiciliares, gestão da equipe e dos insumos, busca ativa, dentre outras. No serviço de nefrologia, algumas das atribuições do(a) enfermeiro(a) consiste em: realizar o processo de enfermagem a cada turno, procedimentos, hemodiálise, gestão da equipe e de insumos, treinamentos, espaços de educação em saúde com os usuários e consulta interprofissional às pessoas em diálise peritoneal.
Resultados
Embora as especificidades de cada serviço, ambos ocorrem em consonância e produzem efeitos sobre o outro. Na APS, no que se refere à saúde renal, o trabalho é desenvolvido voltado, especialmente, à prevenção de acometimentos e diagnóstico precoce, a partir do acompanhamento multiprofissional. No serviço terciário, apesar da presença da doença ou dano nos rins, ainda se trabalha com a prevenção de agravos e a educação em saúde faz parte de todas as etapas do cuidado. Desse modo, embora distintos, o que ocorre na APS, influenciará positiva ou negativamente no hospital e vice-versa.
Os aspectos supracitados demonstram a relevância da RAS, a fim de garantir a integralidade do cuidado, conforme as necessidades dos usuários dos serviços. Na base teórica da RAS, identifica-se a relevância da continuidade da assistência nos níveis de atenção à saúde. Logo, o acompanhamento da pessoa com doença renal deve ser simultâneo na APS, atenção secundária e terciária.
Para trabalhar em Rede, os profissionais devem conhecer o fluxo dos serviços nos locais em que estão inseridos, seja município ou estado, dado que é necessário compreender o processo de trabalho dos níveis de atenção à saúde, a fim de identificar o manejo e acompanhamento, conforme as necessidades das pessoas. Isso permite que o trabalho ocorra em Rede, com a garantia da integralidade do cuidado.
Na experiência do estudo em tela, foi possibilitada a atuação desde a consulta de enfermagem às pessoas com DCNT, na APS, à instalação da hemodiálise, no âmbito hospitalar. Por meio dessas vivências, identificou-se a influência entre os serviços, no que tange a prevenção da doença renal por meio da solicitação de exames e conhecimento das queixas clínicas, o acompanhamento após o diagnóstico ou quando há risco elevado, e os cuidados necessários em todas as etapas, independente da situação salutar.
Desse modo, o preparo profissional inicia na formação, por meio das experiências e inserção na rotina dos serviços, a fim de identificar as especificidades dos diferentes níveis de atenção à saúde e, sobretudo, as particularidades das pessoas que vivem com DCNT, as quais impactam na morbimortalidade e na qualidade de vida, fatores que podem ser influenciados pela prevenção e diagnóstico precoce.
A imersão nos serviços em períodos próximos, permitiu relacionar a assistência com foco na prevenção, no tratamento e no acompanhamento de pessoas com doenças renais ou DCNT. Evidenciou-se a relevância dos saberes técnico-científicos por parte do(a) enfermeiro(a), visto que é necessário solicitar exames, identificar fatores de risco, realizar busca ativa, instalar terapias renais substitutivas, cuidados necessários, dentre outros.
Considerações finais
A experiência proporcionou percepções necessárias para a profissional enfermeira em formação, tendo em vista a relevância da atuação em ambos os serviços. A saúde renal e a falta dela impactam diretamente na vida das pessoas, e há meios para prevenir e/ou retardar agravos. Desse modo, evidenciou-se que a assistência por profissionais com olhar integral e com conhecimento técnico-científico, associado ao trabalho em rede pelos diferentes níveis de atenção à saúde, proporciona prevenção e diagnóstico precoce, resultando em qualidade de vida para os usuários.