A educação em saúde tem como aliada diversos recursos didáticos, dentre eles a utilização de instrumentos para o ensino sobre saúde. Nessa perspectiva, uma tecnologia social, o jogo de tabuleiro “Caminhos do SUS”, criada pelo “Grupo da Pesquisa sobre Adolescências” (GRUPAD) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), vem sendo utilizada em atividades com adolescentes e professores como produto didático para educação em saúde. O presente trabalho visa discorrer sobre os efeitos e repercussões percebidas após a aplicação do instrumento tecnológico com professores da rede pública de ensino de um município do interior do Rio Grande do Sul, tendo em vista que se buscou compreender o grau de entendimento que estes têm sobre cidadania e as diferentes políticas públicas. Esse resumo foi submetido no eixo de Controle Social e Participação Popular. A palavra cidadania é oriunda do termo em latim civitas, que significa cidade. Esse conceito pode estar relacionado a diferentes áreas do conhecimento, como é o caso do Direito, que conceitualiza como cidadão um sujeito pertencente a um Estado, que em gozo de seus direitos, poderá participar da vida política. Porém, é essencial que haja uma problematização do termo, abrangendo-o na prática cotidiana do exercício do professor. Para fundamentar a discussão, é crucial compreender que o campo político vai além da concepção partidária, sendo ampliado a um conjunto de diretrizes para a convivência em sociedade e da luta contínua sobre o respeito aos diversos modos de ser e de existir no mundo. Desta forma, a cidadania precisa ser exercida por quem dela possui direito, pensando que estes precisam estar cientes do seu papel e destinam-se serem alavancados pelas lutas em prol de suas existências. Maria Izabel Sanches Costa e Aurea Maria Zôllner Ianni, em 2018, assinalam que o conceito de cidadania possui vários componentes, sendo reconhecido como um status, uma referência espacial e a relação dos indivíduos com um determinado território. Por ser uma noção construída socialmente, a cidadania como identidade social e política seria constituída de três elementos principais: o vínculo de pertencimento, a participação política/coletiva e a consciência de ser um sujeito de direitos e deveres. Pensando nestes três pilares, pode-se inferir que a cidadania possui o caráter institucional de inclusão ou exclusão de uma identidade nacional, de se sentir parte de um grande “todo” ou de simplesmente ser um “forasteiro”. Desta forma, entende-se que o desenvolvimento destes três elementos precisam contar com a base do afeto. Este, que pode ser compreendido como aquilo que nos mobiliza e desenvolve a realizar novos fazeres, que nos implica naquilo que transforma a realidade e produz novas epistemes que possam alterar e singularizar o cotidiano. Sendo assim, os agentes que atuam nas escolas têm enquanto dever intermediar e trabalhar estes preceitos em pertencer, politizar e conscientizar. Partindo destas perspectivas, é importante pensar sobre o papel que a escola ocupa na formação dos estudantes, enquanto um espaço no qual os primeiros círculos sociais são constituidos e vivenciados. Aos professores cabe não serem apenas meros transmissores de conteúdos curriculares, sendo estes responsáveis também por construírem conhecimentos sobre a vida em sociedade e observância ativa às normas que a fundamentam, elucidando direitos e deveres. A adolescência, enquanto período do ciclo vital, é caracterizada por constantes mudanças e um determinado limbo: não ser mais criança, mas também não ser adulto. Nesse sentido, a escola e a família carregam em si um espaço que contribui com o processo de “descobrimento” vivenciado pelos adolescentes, do desenvolvimento formativo e, por conseguinte, da construção de suas subjetividades. Nesse processo, a educação em saúde exerce o papel de ampliar os conhecimentos e práxis que se relacionam aos comportamentos saudáveis do indivíduo, alavancando suas noções de cidadania, visto que indivíduo na polis, demanda conhecer todos os pilares que a fundamentam. Para isso, são utilizadas as chamadas “tecnologias sociais” (TS), entendidas como instrumentos de técnicas, métodos ou produtos que busquem trazer soluções eficazes para um grupo ou comunidade, através da inter-relação dos conhecimentos científicos e populares. O intuito desta ferramenta é possibilitar, de modo amplo e integral, um saber em relação ao funcionamento da rede municipal de serviços públicos, ocorrendo a partir de dinâmicas lúdicas e interativas, possibilitando, desta forma, promover saúde e educação de modo intersetorial e efetivo. O presente relato de experiência aborda as percepções relacionadas à aplicação da referida TS com os docentes, a partir da perspectiva de graduandos e graduados de Psicologia, participantes do Grupo da Pesquisa sobre Adolescências (GRUPAD/UNISC), que trabalha há 14 anos com promoção e educação em saúde, na região do Vale do Rio Pardo (RS). Diante do instrumento educativo “Caminhos do SUS”, foram observados, de antemão, entusiasmo dos professores devido ao componente lúdico do jogo, que pode ser atribuído ao empobrecimento de estímulos semelhantes nos cotidianos escolares. Assim, os docentes da rede pública se implicaram de imediato na execução das tarefas, realizando uma imersão na proposta de forma intuitiva, não requerendo explicações minuciosas do instrumento em questão. Ademais, foi ressaltado pelos participantes a acessibilidade do game em disseminar informação e conhecimento sobre os serviços em saúde, assistência social e da cidade em si. Por intermédio das cartas “missão” e casas “desafio”, os educadores puderam explorar pelo método situação-problema os serviços públicos disponíveis. Com a aplicação, deduziu-se que estes detêm compreensão acerca da disponibilidade de serviços ofertados, sendo que esta foi a hipótese inicial cunhada. À medida em que o jogo direcionava-se à conclusão, surgiram determinadas indagações pelos educadores a respeito dos recursos expostos na atividade. Alguns serviços, ou seus propósitos, não foram reconhecidos pela maioria, como: Centro de Referência de Assistência Social; Centro de Referência Especializado de Assistência Social; e Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Adolescência. Assim sendo, através da aplicação do “Caminho do SUS”, foi observado que este é um instrumento positivo no processo de orientar e informar os docentes a respeito dos fluxos, serviços e dispositivos de cuidado existentes. A importância desta atividade foi evidenciada com o surgimento de várias dúvidas, que representavam uma lacuna no conhecimento e um interesse em compreender. A partir do papel que os professores desempenham na vida dos alunos, reitera-se a importância desses saberes a serem levados para as salas de aula. A utilização de jogos lúdicos para o desenvolvimento da aprendizagem é uma ferramenta benéfica ao uso dos professores, visto que os estímulos são importantes dentro do contexto da aprendizagem. Ainda, a cidadania precisa ser exercida com a participação ativa de todos os envolvidos e nesse aspecto a transversalidade é um método de significativa contribuição, visto que os exemplos práticos contidos no material didático aproximam os jogadores da realidade presente no cotidiano. A relevância de trabalhar com os alunos sobre questões que envolvem a cidadania se encontra na vivência em sociedade e no exercício da adultez como seres responsáveis por tomarem decisões pertinentes em relação a si próprios e ao contexto geral da sociedade. Assim, trabalhá-la de uma forma atrativa poderá trazer benefícios no seu exercício de fato. Portanto, o instrumento se mostrou um aliado do professor no seu ofício de ensinar e em construir junto com seus alunos o exercício da cidadania. Espera-se que novas ferramentas possam ser criadas nesse sentido, possibilitando, através da ludicidade, um conhecimento aplicável.