Apresentação: Relato de experiência da comissão organizadora do projeto de extensão “Novembro Negro: Enfermagem e Saúde Coletiva”, realizado na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2022 (primeira edição) e em 2023 (segunda edição).
Método/Relato: A temática da primeira edição foi centrada no racismo institucional, nas políticas de ações afirmativas e nos atravessamentos entre raça, gênero e classe, tendo como objetivo a reflexão individual e coletiva. Analisando as percepções e as sugestões propostas pelo coletivo, após o encerramento da primeira edição, constatou-se a necessidade de ampliar o espaço de fala das pessoas negras para além do racismo, trazendo suas expertises na área da saúde. A segunda edição propôs discutir criticamente o racismo e os determinantes sociais nos serviços de saúde, discutindo questões sensíveis e transversais muitas vezes observadas superficialmente na formação dos profissionais,desconsiderando as vulnerabilidades da população usuária do Sistema Único de Saúde. Esta edição contou com falas de pesquisadoras de Portugal e Equador e com uma mostra de pesquisa e experiências, incentivando os estudantes a apresentarem trabalhos a partir de suas pesquisas e experiências relacionadas aos marcadores sociais.
Resultados: A presença e apropriação dos espaços de fala por pessoas negras dentro da academia é um dos principais resultados positivos do evento. O processo de desconstrução e de compreensão individual e coletiva das pessoas não negras quanto à discussão da temática e sua inserção nas práticas de ensino, pesquisa e extensão é percebido pelo aumento no número de participantes na segunda edição, bem como pelos questionamentos e contribuições pontuados durante a realização das atividades. Foram ofertadas duas disciplinas para alunos de pós-graduação, com a participação de aproximadamente 20 pós-graduandos, convidados a pensar seus temas e objetos de pesquisa a partir de uma perspectiva interseccional e, ao final dos encontros, produzir um texto reflexivo, que considerava o arcabouço teórico e social adquirido na atividade. A mostra de pesquisas e experiências contou com a apresentação de 23 trabalhos, divididos entre 4 grupos temáticos.
Considerações finais: A realização de eventos que entendem e assumem o dever da Universidade em dialogar com a comunidade alia-se à formação interdisciplinar de profissionais na área da saúde. Atividades que provocam reflexões e desconfortos ao apresentar perspectivas diversas e multifacetadas proporcionam uma revisão de ideias e conceitos profundamente enraizados na sociedade. Ainda que o evento tenha conseguido ampliar seu escopo com discussões sobre, população LGBTQIAPN+ e outros grupos minoritários (indígenas e quilombolas), é necessário que a temática seja amplamente discutida e conquiste mais espaços de fala na academia. Um exemplo, derivado dos resultados do evento, é a necessidade de pesquisas, práticas e reflexões sobre população LGBTQIAPN+ que, apesar de ter um grupo temático específico na mostra, não teve nenhum trabalho apresentado. Fica a reflexão sobre como abordamos o tema, especialmente na área da saúde, e de que forma podemos ampliar essa e outras discussões.