A divulgação de resultados promissores de recentes pesquisas com substâncias psicodélicas tem gerado interesse de pessoas por esse tipo de procedimento para cuidados em saúde. No Brasil, esse interesse tem gerado a busca de grupos ou religiões ayahuasqueiras por pessoas com queixas relacionadas à saúde mental. O objetivo deste estudo foi descrever diferentes procedimentos de grupos ayahuasqueiros e a relação desses procedimentos com os efeitos percebidos por pessoas que buscaram a ayahuasca por motivos relacionados à saúde mental. Este resumo constitui um recorte de uma pesquisa mais abrangente, desenvolvida no âmbito do projeto de mestrado. O estudo, de natureza qualitativa, coletou dados por meio de entrevistas semiestruturadas e questionários aplicados a 58 participantes de três grupos ayahuasqueiros: a) religião ayahuasqueira formal; b) grupo neo-xamânico; e c) grupo sincrético - este caracterizado por práticas de religiões formais e ritualísticas indígenas. Os grupos têm procedimentos específicos para a preparação, acompanhamento dos efeitos agudos da ayahuasca e modos de abordar os conteúdos vivenciados. Com relação aos conteúdos vivenciados pelos participantes durante os efeitos agudos da ayahuasca observou-se que no grupo da religião ayahuasqueira não há no ritual um momento para que as pessoas compartilhem a experiência entre si, enquanto que no grupo neo-xamânico e no grupo sincrético têm momentos ritualísticos (na parte final das cerimônias) nos quais as pessoas são encorajadas a falar das experiências vivenciadas. Independente do grupo de origem, os participantes relataram impactos positivos do uso da ayahuasca. A análise dos relatos detectou que o compartilhamento da experiência com as outras pessoas presentes na cerimônia é um momento valorizado pelos participantes. O ato de falar sobre a própria experiência e a oportunidade de ouvir os relatos das outras pessoas são percebidos como fatores que contribuem para a integração da experiência com ayahuasca. Independente de haver ou não um momento ritualístico para o compartilhamento das experiências vivenciadas durante os efeitos agudos da ayahuasca, os participantes perceberam efeitos positivos. No entanto, a oportunidade de falar sobre a própria experiência e ouvir os relatos de outras pessoas parece favorecer a percepção da relação entre os sofrimentos que motivaram a busca da ayahuasca com a necessidade de mudanças práticas no próprio comportamento, relações interpessoais e modos de pensar. Esse resultado sugere que, no processo de investigação acadêmica e regulamentação prática das terapias assistidas por psicodélicos, estratégias que considerem a aplicação em grupos podem contribuir para otimização dos efeitos percebidos, redução dos custos destes protocolos e, consequentemente, ampliação do acesso a este tipo de terapia. Isso é particularmente relevante para um país caracterizado pela exclusão social e econômica de expressiva parcela da população que não tem acesso aos avanços no campo da saúde.
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