Trata-se de um relato de experiência dos debates desenvolvidos pelo componente curricular Medicina Social e Clínica do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia - UFBA, campus Salvador, no período de 02 a 19 de abril de 2024. A disciplina Medicina Social e Clínica é oferecida na modalidade presencial e foi desenvolvida para apresentar aos discentes os conceitos introdutórios do Sistema Único de Saúde - SUS, assim como explorar o conceito ampliado de saúde a partir de uma perspectiva coletiva, considerando suas dimensões sociais, culturais e ambientais. As aulas do componente ocorrem semanalmente com duração de quatro horas cada, acontecem na sala de aula ou em locais previamente prescritos, de acordo com o dia designado à turma(às terças ou quintas-feiras). Além disso, nas sextas-feiras, acontecem as sessões integradas de uma atividade intitulada “Medicina Social em Debate” que tem por intuito, promover um pensamento crítico-reflexivo sobre temas de interesse social e sobretudo pertinentes à área da saúde. A duração de cada sessão de debate é de duas horas e os alunos são orientados a enviarem através do Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA as perguntas para os convidados, essas perguntas são selecionadas e condensadas previamente pelos docentes responsáveis pela disciplina a fim de garantir uma maior integração e enriquecer o debate, além disso outras perguntas podem ser realizadas presencialmente pelos alunos no decorrer das discussões. Para o primeiro semestre de 2024, foram planejadas oito atividades de “Medicina Social em Debate”, com as seguintes temáticas: A Saúde do Estudante de Medicina; Gestão Municipal da Saúde; Saúde Indígena; Clínica ampliada e centrada na pessoa; Saúde da População em Situação de Rua; Saúde da População LGBTQIA+; Racismo em serviços de saúde; Saúde Mental e SUS. Até o dia 19 de abril de 2024 foram realizadas três atividades, sendo que a primeira delas se propôs a discutir as nuances da saúde do estudante de medicina e como convidados tiveram um representante da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil(PROAE) que falou sobre as modalidades de assistências estudantil e a quais grupos elas são destinadas, teve também uma psicóloga representando o Núcleo de Atenção ao Estudante(NAE) que falou um pouco sobre os atendimentos oferecidos no núcleo, assim como quais os meios disponíveis para auxílio psicológico dentro da UFBA, participou também da discussão a pedagoga que representa o Núcleo de Apoio Psicopedagógico(NAPP) do departamento de medicina que discursou sobre o apoio ofertado pelo núcleo aos estudantes de graduação em medicina e por último, participou também um psicólogo e pesquisador, aluno do programa de doutorado na universidade que debateu mais especificamente sobre a saúde do estudante universitário e trouxe dados epidemiológicos relacionados ao tema. A segunda atividade da “Medicina Social em Debate” se propôs a debater sobre a gestão municipal de saúde e o controle social no SUS e dessa atividade participaram um representante do Conselho Nacional de Saúde, do segmento de usuários que falou um pouco do funcionamento dos conselhos de saúde nas três esferas de governo e o papel dos conselheiros e também participou da discussão um representante da gestão municipal do SUS Salvador, que elucidou um pouco sobre a estrutura organizacional da gestão municipal e as estratégias utilizadas para efetivar a política de saúde. Por fim, a última atividade abordou a saúde indígena e como convidadas tiveram uma aluna de medicina da UFBA que apresentou um pouco sobre os desafios da saúde indígena na sua perspectiva enquanto pertencente à etnia Pataxó e estudante de medicina e também uma enfermeira, integrante do programa de Doutorado Saúde e Meio Ambiente que já atuou em um Distrito Sanitário Especial Indígena(DSEI) e dessa forma abordou sua experiência enquanto gestora do programa de educação permanente e continuada do distrito em que ela desenvolvia as atividades. Foram disponibilizados aos alunos alguns textos base para as discussões e cada convidado tinha em média 20 minutos de arguição oral e para o debate foi reservado um tempo de 40 minutos. Foi percebida intensa participação por parte dos discentes, o que revela que as temáticas escolhidas suscitaram o interesse dos alunos. As discussões sobre a saúde do estudante de medicina contribuíram com a ampliação do conceito de saúde, enfatizando que a saúde do estudante universitário é muito mais complexa, fazendo interações com as dificuldades de permanência na universidade e a necessidade das políticas assistenciais de permanência, também relacionando a saúde com a necessidade de se mudar o modelo de construção da grade curricular dos cursos de medicina no Brasil, que além de enfatizar questões como a competição entre os alunos, expõem estes a uma rotina de cansaço mental e exaustão. Em relação à gestão e controle social do SUS, através da discussão foi possível traçar paralelos sobre a importância de se ter no SUS uma gestão que seja efetiva e um conselho de saúde que atue em prol dos usuários do SUS. Os alunos puderam conhecer um pouco sobre os bastidores das políticas de saúde e contemplarem a importância de uma formação cidadã que fortaleça o SUS. Por último em relação à saúde indígena, foi observada ampla participação dos alunos e foi discutido sobre a importância dos coletivos indígenas dentro das universidades, assim como a importância da política de ações afirmativas para a mudança da realidade dos povos indígenas no Brasil. Foi possível também perceber que as DSEI são fundamentais para a efetivação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e que a demarcação das terras indígenas, conforme defendido pela estudante de medicina da etnia Pataxó, garantirá de fato a consolidação dessa política no âmbito do SUS. A construção de um modelo de educação que provoque a mudança e a quebra de paradigma nos cursos da saúde, ampliando as metodologias tradicionais de estudo, é extremamente importante para a fundamentação de uma educação que de fato seja crítico-reflexiva e que, além de formar profissionais de saúde, forme também cidadãos comprometidos com a defesa da SUS. É imprescindível que atividades que suscitam o debate genuíno sejam incentivadas nas academias, divulgadas e incorporadas aos planos político-pedagógicos dos cursos da área da saúde e atividades como “Medicina Social em Debate” são fundamentais para a defesa e efetividade do SUS.